Infância - Parte I

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O Garoto do Boné Vermelho – Infância? - Parte I

POV'S - William Hwang.

Observei suas costas enquanto ele se afastava. Ouvi a porta da cozinha ser aberta e os passos correndo pela grama do quintal, me sentei na cômoda e respirei fundo fechando os olhos. Tava tudo acabado, eu não teria mais chances com o Heitor, o amor da minha vida tinha ido embora pra sempre.

Como eu sei disso? Eu sou vidente!

Essa porra de clarividência que sempre fodeu com a minha vida! Desde pequeno eu sofri com esse "dom". Imagine só você sonhar com uma pessoa durante longos dez anos da sua vida, marcar o seu casamento e planejar o nome dos seus filhos com ela, e daí... Você a perde pro futuro incerto. Já dá pra ver que eu não lido muito bem com a perda não é mesmo? Não me leve a mal, Meus avós são japoneses e essas frustrações absurdas vieram deles.

Uma parte deles e a outra parte do mau costume de acertar em tudo, ABSOLUTAMENTE TUDO no que eu vejo com a clarividência. Sim, eu sabia que o Heitor iria abrir uma brecha pra eu o beijar, por isso que eu o convidei pra festa. Mas eu não vi o que ia acontecer depois, o inocente pensou que talvez depois do beijo ele pudesse mudar... Me Fodi.

Talvez eu goste de ser trouxa. Eu me iludi pensando que aquele Heitor homofobico, marrento, que me odeia com todas as forças acordaria no outro dia dizendo "Oi, Quem é o meu Goku mais lindo do mundo?". Puta merda, aquele cara tinha a cabeça mais dura do que meu pau, o que eu tava fazendo da minha vida?

Respirei fundo me acalmando. Eu ainda não tinha me acostumado com o fato do Heitor não ser previsível. Por isso eu vivia me ferrando quando tava com ele. Não dava pra prever o futuro perto dele porque alguma coisa acontecia e me bugava todo.

Fiquei de pé olhando fixamente pra cômoda, ela era o motivo do meu plano infalível não ter dado certo. Eu teria que me livrar dela agora... Mas como se livrar de uma coisa que parece ser uma parte sua? Simples... Não olha e ta tudo resolvido! Bom, era realmente uma grande parte minha, só que se ela me atrasou eu não posso mais ficar com ela e nem com nenhuma das minhas relíquias.

Peguei a cômoda e fui arrastando ela pelas escadas, passei pela cozinha e por fim cheguei ao quintal. Deixei-a na grama mesmo, alguns desenhos saiam pelas frestas do móvel, havia mais de seis quilos de desenhos ali então eu não me surpreendi. Joguei álcool por cima dela e puxei o isqueiro do bolso.

Era um isqueiro típico americano, com as cores da bandeira. Daqueles que você aperta o botãozinho pra que o fogo surgisse. Ele já tava bem velho e não tinha acabado porque eu não utilizava muito dele, só gostava de me mostrar pras garotas quando eu tinha uns 13 anos.

Estados Unidos...

Há sim, memórias e memórias ressurgiram das trevas como o cavalheiro do filme do Batman quando eu encarei o isqueiro. Memórias ruins e memórias boas das quais eu faria de tudo pra esquecer. Das memórias ruins simplesmente porque elas são ruins e ninguém gosta de ficar recordando coisas vergonhosas e das boas eu também me livraria porque boa parte delas só existem por causa do Heitor...

Assim eu me livraria da dor de não tê-lo só pra mim também...

FLASHBACK ON

- Filho... Por favor, escuta o papai... – meu pai corria atrás de mim enquanto eu corria pela casa tentando fugir do abraço dele. – Você precisa ir pra escola William!

- Eu não vou para aquele lugar de novo! – Gritei com a voz esganiçada – Me deixa em paz!

- William! – Ele conseguiu me alcançar e me pegou pelo braço. Eu me sacudi acertando vários socos e tapas no rosto dele. – Calma filho! Olha pra mim... Olha pro papai...

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora