Decisão

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Nesses meus dezesseis anos eu nunca tinha visto tal coisa como aquela. Haviam memórias de pensamentos loucos na minha mente. Mas nada era comparado a isso. Estava tudo tão claro que era de assustar qualquer um, o modo como ele despejava a cera de vela no abdômen da moça estava guardado em minha memória junto com aquele sobretudo surrado que o maldito usava e a tatuagem de cruz enfeitando o antebraço.

Aquilo era uma merda. Ler mentes era uma merda e essa merda conseguia estragar com a minha vida. E pra cagar no mundo todo a minha mente estava diretamente ligada com a mente de um assassino em serie. Do qual eu não consegui ver o rosto. Digamos que a visão tenha se passado em primeira pessoa, o que não era frequente acontecer. Eu só consegui ver os braços, o Sobretudo, o chão e um pouco da parede. Tirando os tênis que o mesmo usava... um par de tênis All Star branco.

— Heitor... – O asiático pousou a mão no meu ombro me fazendo recuar. – O que houve?

— A moça da foto... Temos que ir rápido se não ela não vai resistir. – Eu o peguei pelos ombros e olhei para os seus olhos. Não me leve a mal, mas eu tava desesperado.

— Do que está falando? – Ele franziu a testa e seus olhos ficaram pequenininhos. – Que moça?

— Eu a vi! Me escuta...- Me levantei e comecei a andar pela sala nervoso. – Ela, Ela vai morrer... vê se me entende, Eu a vi agora a pouco.

— Aonde? – Ele parecia bem confuso.

— Bem... tinha um quarto blindado... como daqueles que fazem carros de desmanche.- Eu respirei fundo tentando conter a ansiedade e o nervosismo. – E velas... E...

— Do que cê tá falando? – Ele abriu as pernas e apoiou os cotovelos nos joelhos. – Olha só... você tá me assustando. Olha... meu pai tem essa mania de traumatizar todo mundo e...

— Não Will!- agora fodeu, eu chamei ele pelo apelido. – To dizendo a verdade! Eu nunca erro acredite.

— Como você sabe?

— Porra! Eu leio mentes!

Sabe aquele momento em que você se arrepende muito do que disse? Então, ninguém sabia sobre a telepatia, só a minha mãe... E agora eu tinha acabado de contar pra um cara que eu considerava estranho. De repente eu senti uma extrema vontade de esquecer a vitima e simplesmente falar sobre os tipos de cocô.

O branquelo me olhou com aquela típica cara de nada, e pareceu entender o que eu disse já que depois ele só fez que "sim" com a cabeça.

— O que? – Ele perguntou.

— Droga... Nada. Já viu cocô amarelinho? Tem os cocôs marronzinhos também...

— Não... você pode realmente ler mentes?

— Não! não é nada disso!

— O que eu to pensando agora...? – Ele perguntou com um sorriso sacana no rosto. Já dava pra entender o que era sem ler, né? Com essa cara de safado já da pra perceber que o idiota só pensava em sexo.

— E-eu... Não funciona desse jeito, não é como se eu controlasse isso...

— Então você realmente lê o que tem na cabeça das pessoas!? –Ele botou as mãos no maxilar e abriu a boca num "O" perfeito. – Ai carambola! – Carambola? Eu disse... Gringo é uma coisa louca. Ele se levantou e olhou pra mim com aquela expressão surpresa. – Então... Naquele dia no vestiário você me bateu por que... Leu minha mente?

Meu rosto inteiro esquentou. Não me ache uma menininha só por isso, ok? Eu nunca tinha tido uma conversa assim com alguém antes! Era um segredo muito pessoal e eu tinha entregado de bandeja para o meu arqui-inimigo. Aqueles olhos curiosos me encaravam e eu pedi pra que um pássaro invadisse o escritório.

O Garoto Do Boné VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora