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John Hetzel

Observo a cidade do outro lado do vidro enorme que cobre a parede do meu escritório. Sinto imensa falta da Mara aqui no escritório. A sua presença iluminava os meus dias a trabalhar, mas apesar disso não estou disposto a arriscar a sua saúde. No seu lugar coloquei provisoriamente um amigo do meu pai. Sinto-me frustrado sem ela. 

Não sei dizer o que somos um para o outro e isso deixa-me frustrado. No dia em que ela foi internada tínhamos assumido uma espécie de relação, mas depois nunca mais tocámos no assunto. Estou bastante inseguro com tudo isto, mas hoje irei colocar todos os pontos nos i's.

Ouço alguém bater à porta. Quero sossego e nem isso consigo ter.  

– Pode entrar. – Digo num tom alto para que a pessoa do outro lado possa ouvir. 

– Posso entrar Sr. Hetzel? – Pergunta a ridícula da minha secretária com a sua voz irritante. Espera ela só pode estar a gozar... acabei de dizer que ela podia entrar.

– Pode Yara. – Respondo profissionalmente embora só me apeteça revirar os olhos. 

– O senhor pode assinar estes relatórios? – Pergunta piscando os olhos várias vezes e empinando um pouco o rabo. Será que ela tem alguma coisa nos olhos? Nota mental: procurar uma nova secretária. 

– Posso. – Ela abre um sorriso e caminha até mim. Caminha não... aquilo é tudo menos caminhar, ela está a dobrar-se toda. Estou tentado a perguntar se ela tem algum problema, mas decido manter a postura e não dizer nada. 

Ela coloca os relatórios à minha frente e posiciona-se de forma a mostrar os peitos fora da camisola. A verdade é que sou homem e sei quando uma mulher bonita se está a fazer a mim, mas esta aqui é tão exagerada que nem dá para gostar de olhar. Assino os relatórios e entrego-os. 

– Pode ir. – Ela pega nos relatórios e sai com cara de chateada, por ser dispensada. Não entendo como é que ela era tão profissional quando era secretária do meu pai e agora se sujeita a isto. Não tenho a mínima paciência para estas crises femininas. 

É tão estranho eu ter mudado tanto desde o momento em que assumi a empresa do meu pai. O que talvez também esteja ligeiramente ligado, ao facto de ter conhecido a Amara. 

Volto a encarar a cidade do outro lado da vitrine, não sei o que se passa, mas sinto-me estranhamente melancólico hoje. Ouço o meu telemóvel tocar e tiro-o do bolso do meu casaco que está pendurado no meu cadeirão. Não reconheço o número, mas atendo na mesma. 

♥︎ Chamada em curso:

– Sim. – Atendo com um tom de voz de desinteresse. 

– John. Sou eu o Rafa. – A sua voz está estranha, parece que está muito chorosa. O que me deixa alarmado. Sem contar com o facto de ele me estar a ligar, ainda mais neste estado. 

– O que se passa? – Pergunto apressado. 

– A Mara. Ela levou um tiro. – Diz embargado. 

– Um tiro? – Grito enquanto me levanto. – Onde ela está?

– No hospital das Flores. Ela está em estado bastante grave. – Ele faz uma pausa sem fôlego. – Ela parecia estar morta.

– Eu vou para lá. – Desligo. 

Fim da chamada em curso ♥︎

Saiu do meu escritório a correr, tento evitar os olhares curiosos dos funcionários. Chamo o elevador, mas acabo por ir pelas escadas. Corro que nem um furacão pelas escadas abaixo. Entro no estacionamento subterrâneo da empresa e peço ao segurança as chaves do meu carro. Ele vê que estou com pressa e rapidamente me traz as chaves. Saiu da garagem e logo me coloco na variante que vai direta ao hospital. 

AmaraOnde histórias criam vida. Descubra agora