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Não digo nada, apenas aproximo-me cautelosamente do John. Decido abraçá-lo e não dizer nada. Apenas dar o calor do meu corpo. Ficamos assim abraçados durante minutos ou talvez durante várias horas. 

– E agora o que pensas fazer?

– Vou falar com o meu pai... com o Marco. – Encara o chão com pesar. 

– Estarei ao teu lado quando fores falar com ele. Prometo. – Agarro-lhe as mãos e aperto-as com força numa tentativa em vão de lhe passar conforto. 

– Vamos à empresa. Ele está à minha espera. 

– Tens a certeza que queres fazer isso agora? 

– Eu preciso. – Vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto. – Estou sozinho. O meu pai era tudo o que me restava. Agora estou sozinho de novo. 

– Tu não estás sozinho. Eu estou aqui e o Marco continua a ser o teu pai. 


Vamos em silêncio até à empresa. Decido que o melhor é não dizer nada, pois qualquer coisa que eu possa dizer neste momento pode acabar por piorar o estado frágil do homem diante de mim. '

Encontramos o Sr. Marco de costa. Não dizemos nada, apenas entramos na sala. O John e o Marco encaram-se por um momento até que o Marco decide quebrar o silêncio. 

– Já sabes. – Sai em tom de afirmação e não de pergunta. 

– O senhor já sabia? – O John pergunta claramente surpreendido. 

– Eu sei desde o dia em que nasceste.  A tua mãe foi embora porque não foi capaz de arcar com as consequências de me ter enganado aquele tempo todo. 

– Mas se sempre soube porque me tratou como um filho? Porque me deixou a comandar a empresa? 

– No inicio foi complicado para mim aceitar a traição da tua mãe. Eu isolei-me. De orgulho ferido desisti do mundo. Contei sobre a traição à tua avó e ela sempre me apoiou.  A minha mãe fez-me ver que tu não passavas de uma criança inocente e que estavas alheio ao que a tua mãe tinha feito. Fez-me ver que naquele momento estavas sozinho no mundo, a tua mãe simplesmente tinha fugido e te deixado à minha mercê. Enquanto eu lambia as minhas feridas a tua avó tomou conta de ti como um filho e quando finalmente eu havia superado a dor da traição consegui finalmente olhar para ti como meu filho. E acredita quando te digo John, embora não tenhas o meu sangue, não deixas de ser meu filho. 

– Se sabia porque me deixou fazer o teste? 

– Não sei. Talvez ainda tivesse esperança que tivesses o meu sangue. Ou talvez não. No fundo não sei responder-te a essa questão. 

– E agora? – O John pergunta com a voz embargada. 

Neste momento vejo o John parecendo uma criança perdida. Os olhos dele reflectem medo. Mostram um homem frágil. Um homem quebrado. 

AmaraOnde histórias criam vida. Descubra agora