31° Dia.

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22 de abril de 2016, Santa Mônica.

Algo gelado choca com o meu rosto e imediatamente acordo. Estou presa à cama, o que me faz pensar que algo de mal vai acontecer daqui a instantes.

"Já estás a postos, não é mesmo, Camilla?" - A voz de Joshua faz-se ecoar por todo o quatro. Olho-o, sem expressão alguma na minha cara. O seu corpo começa a movimentar-se em minha direção. Reparo que os meus pés estão livres e isso faz-me sentir que ele vai novamente fazer algo nas minhas pernas.

"Porque me amarraste?" - Ganho coragem e falo, quando ele finalmente pára ao meu lado.

"Lembraste da minha tia? Cristine?" - Assinto. "Ela trabalha no hospital, então falei com ela."

"Porque falaste com ela?" - Mordo os lábios com uma certa força.

"Tu deves saber, não é mesmo?" - Tira algo de cima da mesa e caminha até mim. "Sabes o que isto é?" - Olho para a peça na sua mão e abano a cabeça, afirmando. "Diz-me o que é!" - Grita.

"Um alicate." - Murmuro, com alguma falha na voz.

"Richard!" - O homem grita e logo o outro entra. "Agarra na perna dela."

"O quê? Não!" - Mexo freneticamente com as pernas, para que ele não consiga agarrar numa, porém ele conseguiu.

"É verdade que não podes ter filhos?" - Joshua fala.

"Sim!" - Grito.

Vejo o alicate ir até ao meu dedo do pé. Começo a suar. Sinto que ele já está prestes a fechar sobre o meu dedo e o homem repete.

"É verdade que não podes ter filhos?"

Não respondo e logo ele começa a apertar. Grito de dor e mexo com as pernas sem parar, mas Richard mantem-se na mesma posição, não deixando o meu pé mexer, até que começo a sentir uma enorme dor.

"Primeiro dedo partido." - Joshua fala, colocando o alicate noutro dedo. "Sabes o que falei com a minha tia?" - Nego.

"Falei-lhe que tinhas feito uns exames para saber se eras estéril, ou caso não pudesses ter mais filhos e sabes o que ela me disse?" - O seu olhar penetra o meu e é certo o que ele fará a seguir.

Ele descobriu que eu posso ter filhos. Aquele sacana não perde uma, não é mesmo?

"Ela falou-me que devia ser engano, pois tu não és estéril e apesar de teres sido vítima de violência doméstica pelo teu pai, nunca foi comprovado que não podias ter filhos, quando as agressões eram apenas no corpo em geral e nunca foste violada por ele."

Engulo em seco.

"Porque mentiste, Camilla? Tu bem sabes que acabo sempre por descobrir tudo, até uma mentirinha banal."

Porque não me lembrei que ele tinha a tia que trabalha no hospital? Porra!

"Agora, como mentiste, vais sofrer as consequências." - O alicate volta a apertar o dedo e assim grito novamente e imploro-lhe que pare, porém ele não o faz até partir o osso do meu dedo.

"Pára!" - Gritei, quando ele acabou por retirar a peça do meu pé. "Eu posso!"

"Tu podes o quê?" - Caminha até à mesa novamente.

"Posso ter filhos." - Falo pausadamente, tentando disfarçar a dor.

"Hum... então porque mentiste?" - Volta-se para mim com uma lâmina na mão.

"Porque eu não quero ter filhos neste sítio imundo!" - Apetecia-me dizer que não queria ter filhos com ele, mas iria piorar toda esta situação, portanto não falei.

"Hum... pensarei no teu caso, quando estiveres grávida do meu filho." - Anda até mim, de novo. "Depois de dares à luz o meu filho, irei matar-te."

"O quê?!"

"É isso mesmo que ouvis-te. Irei matar-te e arrancar-te cada órgão, cada fio de cabelo." - Contraio-me na cama. "Vamos continuar." - Pega no alicate de novo. "Falaste com alguém enquanto estavas no meu bar, quem foi?"

Ao ver a peça em posição, inventei algo.

"Liguei para a minha mãe. Tenho tantas saudades dela."

"Ligaste para a tua mãe?" - Fala, irónico. "Porque haverias de ligar primeiro à tua mãe se tens namorado?" - Ri-se e mais uma vez começo a suar, devido a ele estar a partir mais um dedo meu.

"Pelo amor de Deus!" - Começo a chorar.

"Com quem falaste?" - Grita-me. "Foi com o teu namoradinho, não foi?" - Não faço gesto nenhum, nem nenhuma palavra sai da minha boca. "Eu sei que foi." - Algo começa a deslizar na minha perna e sinto algo escorrer.

Ao visualizar a lâmina a deslizar sobre a queimadura de ontem, mexo-me incontrolavelmente na cama e Richard deixa de segurar-me, indo buscar algo.

"Pára, Joshua!" - Grito, fitando-o.

"Porque haveria de parar? Dá-me uma boa razão?" - Falando isto, ele continua a cortar-me.

"Tu podes mudar."

"Já te disse que não quero mudar. Não percebeste?" - Pára com a lâmina e salta para cima da cama, sentando-se em cima da minha barriga.

"Joshua, por favor." - Peço e ele nega.

As suas mãos vão até ao meu pescoço.

"Mata-me de uma vez por todas!" - Grito, querendo acabar com isto.

Richard aparece com uma seringa.

"O que tem naquela seringa?"

"Algo para fazer-te dormir. A minha tia tem várias seringas destas no hospital, portanto tenho de dar-lhes uso." - Sorri.

"Mata-me!"

"Ainda não, amor." - Pega na seringa, enfiando-a no meu pescoço. "Shhh." - Fecha os meus olhos. "É droga." - Acaba por afirmar.

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