Especial Melaine (60º Dia.)

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30 de setembro de 2035, Nova Iorque.

Ouço gritos vindos do outro lado. Levanto-me, indo para a porta para ouvir melhor.

"Por favor, o meu bebé." - Ouço uma voz feminina e logo de seguida um choro continuo.

"Temos pena, Carlota." - A voz de Jason é ouvida por mim, novamente. A porta abre-se e eu corro para o meu lugar, caindo mal sobre o chão. A mulher é empurrada para dentro deste local imundo, caindo sobre as minhas pernas. Seguro-lhe a cabeça, antes da mesma bater no chão. "Dá-me uma razão para não matar esse ser desprezível." - O psicopata entra devagar. A mulher abraça-se a mim a chorar.

"Será que tu não podes parar com isto? Apenas um dia?!" - Falo, já farta.

"O teu namoradinho não está cá, portanto não te metas comigo hoje, ou mato-te!" - Ele aponta-me a faca.

"Ele vai matar o nosso filho." - Bem esta deve certamente ser a amante dele. Só pode!

"Sim, vou matá-lo a ele e a ti também! Tu só tinhas de voltar para o buraco onde antes estavas e nada mais! E o que tu fizeste?! Vieste ter comigo! És burra?!"

"Ele vai nascer!" - A mulher grita e vejo a poça de sangue no chão. Ela se calhar está a perder o bebé. "Ajude-me! Por favor!" - Ela pede-me. Jason acaba por sair e Max fecha a porta.

"Nós precisamos de um cobertor." - Falo para as outras mulheres e elas negam-me. Como podem ser tão más?! É apenas um cobertor! Retiro a minha camisola, ficando com uma bem mais pequena em cima do tronco. Coloco a blusa por baixo das pernas da mulher e rasgo a sua camisola colocando a mesma na boca da mulher. Retiro as suas leggins e abro as suas pernas vendo que a dilatação ainda não está completa. O que farei eu? Não tenho utensílios nenhuns!

Corro para a porta e bato com a mão na mesma. Max abre a porta e olha para a mulher que está no chão a gritar de dores.

"Max por favor, traga-me água morna, uma tesoura e umas toalhas." - Ele nega-me e fecha a porta. "Max, pela saúde da sua família!" - Detesto falar isto, mas tem de ser.

Ao não receber nada do outro lado, caminho para junto da Carlota que contorce-se com dores.

"Ela está nascendo?" - Carlota pergunta e eu nego. A dilatação ainda nem sequer começou. O bebé terá de nascer por parto normal, pois por cesariana não vai dar aqui neste estado e nestas circunstâncias.

A porta abre-se e Max entra trazendo um balde com água morna e duas toalhas de banho e a tesoura.

"Max, tu és um homem bom." - Falo, sorrindo-lhe e o mesmo balança a cabeça e sai.

"Vamos, Carlota. Aguente!" - Falo para a mulher que chora. Sei que não é fácil, mas se ela desmaiar a meio do parto terei de corta-lá e será pior.

"Está doendo tanto!" - Grita e volta a colocar o pano na sua boca apertando o mesmo. Faço-a levantar e digo-lhe para fazer agachamentos. Andamos de um lado para o outro. Ela apoia-se por completo no meu corpo e não sei quanto mais tempo vou aguentar devido à ferida na perna. Digo-lhe para deitar-se.

A dilatação está a meio, porém já vejo a cabeça do bebé.

"Carlota, eu não sei quanto mais tempo pode levar até teres a dilatação completa, e como sabes pode ser doloroso. Eu estou a ver a cabeça da bebé, se quiseres esperar, terás de aguentar com as dores, se quiseres que ela nasça já, terás de aguentar as dores durante alguns minutos apenas."

"Querida, se tiveres de cortar-me para ajudar, faz. Não tenhas problemas." - Assinto.

Peço uma faca ao Max quando o mesmo me abre a porta, minutos depois.

"Vamos fazer nascer agora?" - Pergunto e a futura mãe afirma. "Força!" - Grito, sentindo que todas estão a olhar.

Vejo que o bebé está começando a rasgar-lhe os lábios vaginais e pela sua expressão está a doer-lhe ainda mais do que as contrações.

"Força, Carlota, está nascendo!" - Corto um pouco mais dos seus lábios vaginais e a bebé acaba por sair.

A mãe começa a chorar imenso e tira da sua boca o pano. Corto o cordão umbilical, enrolando a bebé nas toalhas. Dou a menina a Carlota que a recebe muito feliz.

Começo a limpar a parte por onde a menina nasceu e assusto-me com a quantidade de sangue que está na minha camisola. Ela está com uma hemorragia. O que eu faço agora?!

"Carlota, eu tenho uma má notícia." - Falo e ela me olha assustada. "Estás com uma hemorragia. Eu já assisti muitos partos na internet mas nenhum deles continha o que fazer no caso de uma hemorragia. Eu não sei o que fazer!" - Levo as mãos sujas de sangue à cabeça. Começo a chorar.

"Minha querida, eu te agradeço por me teres proporcionado uns minutos com a minha filha, aquela que eu carreguei no meu ventre e a fiz nascer com todas as minha dotava ainda tendo dores horríveis. Valeu a pena todo o esforço para a ver durante este pequeno momento."

"Não, ouça! Eu não sei o que fazer, mas eu não vou desistir de si!" - Limpo as lágrimas, enxugando todo o sangue que sai da mulher que chora também. Fico pressionando durante alguns minutos e grito para que Max venha aqui.

O homem entra perguntando-me o que necessito.

"Traz-me linha e agulha. Vou coser aquilo que rasgou com o nascimento." - O homem sai correndo. Vejo que a mulher está a dar de mamar num momento tão gratificante que me emociono só de olhar. Ao ter aquilo que pedi nas mãos, peço para a mulher colocar de novo o pano na sua boca e começo a coser toda a área rasgada.

Por milagre, depois de coser o rasgão, a hemorragia pára. Sorrio, contente.

"Consegui, Carlota! Parou a hemorragia!" - Abraço a mulher que sorri enquanto amamenta de novo.

"É pena que aqui não tenho cuidados nenhuns para ela." - Comenta, olhando para a bebé. "Como te chamas?"

"Melaine."

"Ela vai se chamar assim também, porque sem ti ela não estaria nos meus braços e eu não estaria viva. Elas não me ajudaram, mas tu sim. Tens grande futuro se seguires este ramo."

"É o que quero." - Sorrio, emocionada.

As mulheres apenas nos olham falando entre si. Elas estavam aqui e eu nem dei por elas. Aqui elas não fazem nada.

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71 Days Of PainOnde histórias criam vida. Descubra agora