21 de junho de 2017, San Diego.
Vejo o sol a pôr-se e continuo de olho no homem que dorme profundamente na cama. Felizmente, o sangue já parou. Durante toda a noite, tive de ir mudando as compressas pois estavam encharcadas.
Nunca pensei que Joshua tivesse 34 anos. De facto, é preciso ter muita idade, para já ter feito tantos homicídios e raptos, porém, apesar da sua forma física, não daria essa idade. E ainda pior, não pensava em como ele comemorava o seu aniversário. Ele comemora de uma maneira trágica e dolorosa, o que não deveria ser assim, porém, quem sofre é ele e sabe-se lá quais são os motivos.
Sinto alguns grunhidos vindos de Joshua e levanto-me, indo até ele. Ele vira-se lentamente e abre os olhos em seguida. Um suspiro escapa da sua boca e o seu sorriso aparece iluminado, acompanhado por uns olhos que brilham.
"Bom dia." - Murmura. "Dormiste?" - Nego. "Porquê?"
"Fiquei de olho em ti. Mudei as compressas várias vezes porque estavam cheias de sangue. Tu grunhiste algumas vezes, mas ainda assim, não acordaste."
A pessoa há minha frente senta-se na cama e passa a mão no cabelo, puxando o mesmo para trás.
"Porque não me dizes o porquê de tudo isto ter começado?"
"Já te falei..."
"Acho que não foi só por causa de ter sido uma mulher a matar a tua mãe." - Murmuro.
"Mas foi, Camilla." - Tenta levantar-se, mas cai novamente na cama, gritando de dor.
"É melhor ficares deitado." - Aconselho. Ele assente. "Onde está Elaine?"
"Ela está presa."
"Presa?! Como assim?" - Sento-me ao lado dele.
"Eu prendia. Ontem dei-lhe chicotadas. Ela merece morrer!"
"E tu? Achas que tu não mereces morrer?" - O seu olhar escureceu.
Ele levanta-se, com algum custo e pára na frente da parede. As suas mãos, fechadas em punhos deram com força na parede e na mesma, rastos de sangue ficaram. Talvez não deveria ter tocado na ferida.
"Camilla, eu não gosto quando tu me dizes essas coisas." - O seu punho continua fechado. Levanto-me também e ele vira-se.
O seu punho vem contra mim, porém paro o mesmo e dou um soco na sua cara, seguido de vários pontapés nos seus membros genitais.
Vejo-o gemer de dor no chão.
"Tu nunca mais levantes a mão para mim! Eu já não sou mais a Camilla que tu cortavas e logo de seguida, remendavas dando pontos! Isso acabou! Eu já não sou essa pessoa!" - Grito, suficientemente alto para ele, que ainda continua no chão a gemer.
"Mas... Eu te amo."
"Quem ama não maltrata! Aprende isso! Devias ter tido alguém que te partisse os cornos mais cedo! Talvez não tivesses matado tantas mulheres como mataste!" - Sinto-me a ferver. "Tudo por causa de uma estúpida obsessão de ter uma mulher perfeita! Meu querido, não existem mulheres perfeitas! Nunca irão existir! Coloca isso na tua cabeça minúscula, ou é muito difícil de perceber?!" - Falo, frustrada o suficiente.
Ele olha-me, com raiva, porém não tenho medo. Não mais. Tudo o que eu sofri nas mãos dele, ninguém aguentaria. Se eu aguentei, por alguma razão foi. Ele jamais poderá fazer comigo novamente o que já fez no passado.
"Eu salvei a nossa filha..."
"Achaste um herói por isso?" - Rio, ironicamente. "Conta-me histórias! Não a mataste porque és pai dela e mais nada! Não me venhas com essa falinha pois eu já não acredito mais!"
"Eu gostava da antiga Camilla...gostava que o tempo volta-se atrás." - Murmura.
"Gostavas pois podias fazer o que querias, como se eu fosse um boneco nas tuas mãos." - Falo, chateada. "Como me arrependo de ter feito aquilo contigo. Tu não mereces nada nem ninguém!"
"Estás a começar a exagerar." - Levanta-se. "Se eu não matei a Melaine é porque também a amo."
"Tu nem sabias da existência dela, portanto não mintas ao dizer que a amas. Se a amasses a ela e a mim, já terias matado a Elaine. Terias-lhe matado na primeira oportunidade." - O seu olhar encara o chão e eu continuo. "Afinal, quem te ajudou a fugir da prisão foi Dan. O que pretendias mesmo? Era raptar-me? Acho que realizaste o teu sonho."
"Eu fugi porque tinha assuntos pendentes e eram importantes." - O facto de ele ter falado baixo, deu a entender que ele esconde algo. Algo trágico, como ele. Só espero que ele não tenha raptado mais ninguém.
"Que coisas?" - Tento tirar alguma informação, para alimentar a minha curiosidade enorme.
"Coisas minhas. Deixa de querer saber tudo!" - Anda até à porta. "Eu vou tratar da Elaine, só que eu preciso de tempo."
"Tempo esse que vai dar para ela descobrir que não mataste a Mel e logo de seguida, nós morremos." - Reviro os olhos. Sento-me na cama, passando a mão no cabelo oleoso.
"Queres tomar um banho?" - Afirmo e sigo-o.
Entro na casa de banho empoeirada e vejo o psicopata a ligar a torneira. A água parece estar quente. Quando ele saiu, pude estar há vontade e tomar um banho relaxante.
O pior foi entrar na água. Todas as minhas feridas arderam. Mais uma tortura para a lista. Até tomar banho dói.
Passado algum tempo, saio do banho e um toque rápido é ouvido na porta. Joshua entra, encarando o chão, com uma toalha na mão e na outra, uma muda de roupa.
"Até parece que nunca me viste assim." - Os seus olhos encontram os meus, quando me entrega o que veio trazer. Vi o esforço aparente nos seus olhos, para não olhar para o meu corpo nu, porém ignorei. Há coisas mais importantes agora e esta não é uma delas.
Depois de vestir-me, voltei ao quarto. Joshua falou-me do seu plano para derrotarmos e matarmos a irmã dele. Ao que tudo parece, ele não a ama mais. Também nunca percebi o amor entre eles. É um castigo essa família. Catherine não teve sorte.
"Ainda odeias a Cat?" - Depois de toda a conversa que tivemos, acabo por falar algo que ainda me mete confusão.
"Já não..." - Foi vaga e curta, porém não esperava de outra maneira. Ele só fala muito quando odeia muito algo ou alguém. Também, para ele gostar de alguém, só se a pessoa for um anjo. "Mesmo depois de ela ter-me conseguido prender. Ela não merecia ter morrido daquela forma, tão maldosa e penosa. Elaine exagerou demasiado."
"Ela é o exagerado em pessoa e tu costumavas gostar disso nela."
"Costumava... Agora, eu amo-te." - Ignoro.
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71 Days Of Pain
Mystery / ThrillerCamilla Collins será uma das várias vítimas do temível Joshua Bolivian. Conhecido por gangsters e assassinos, este destaca-se pela tortura a que submete as suas vítimas no seu armazém, onde viveu toda a sua vida. Com uma infância perturbada e cheia...