1 de maio de 2016, Florida.
Sinto algo morno na minha testa e é muito confortante. Permaneço com os olhos fechados, apreciando o momento. Por curiosidade, abro os olhos devagar, vendo Joshua com um olhar tímido e pelo que vejo ele está calmo.
"Acordei-te?" - Nego e ele coloca o pano, que estava antes na minha cabeça, dentro do recipiente com água. "Como estás?" - Só assim lembro do braço e olho para o mesmo, vendo que está ligado com ligaduras brancas.
"Bem. Não senti dores." - Sento-me na cama.
"Camilla, ontem o Mason disse coisas que me deixaram a pensar durante toda a noite. Nem dormi sequer." - Encaro o homem sem perceber. O tabuleiro com comida aproxima-se do meu colo e logo pego no mesmo, devorando tudo em cima do pedaço de madeira. "Estavas mesmo com fome, pelos vistos." - Assinto, acabando com toda a comida.
"O que tiveste a pensar?" - Pergunto.
"Que tipo de jogos o Mason fazia contigo?" - Engoli em seco. "Quando eu te violei, tu eras virgem, então ele não te violava..." - Levanta-se, ficando de costas para mim.
"Talvez violação não é apenas na vagina..." - Disse, baixinho e Joshua olha-me, surpreso.
"O quê?!" - Quase grita. "Ele... Ele fez isso?" - Aceno com a cabeça em afirmação. "Aquele filho da puta!" - Fecha a mão com força, andando de um lado para o outro. "E ainda assim continuaste com ele?!"
"Que remédio tinha eu? Eu estava cega de amor por ele. Muito cega. Ele fazia-me pensar que aquilo que ele fazia comigo já era normal na nossa relação e que eu merecia aquilo pelo que eu dizia e ele não gostava."
"Mas tu devias ter-te afastado dele. Devias tê-lo denunciado à polícia."
"Posso denunciar-te também?" - Abri o jogo e o seu olhar mudou drasticamente. "Parece que também tens a mesma reação que ele." - Encaro a minha barriga, pequena ainda. Eu não posso ter este filho. "Quero abortar."
"O que disseste?!" - Joshua anda até mim.
"Socorro!" - Ouvimos e entreolhámos. "Socorro!"
"Quem mais está aqui?" - Pergunto.
"Ninguém. Estamos numa casa sozinhos. O Mason preferiu assim." - Encolhe os ombros.
"Socorro!" - E novamente aquela voz feminina falou.
"Joshua, temos de ir ver." - Levanto-me e ele puxa-me para sentar-me novamente. "Por favor. Ela pode estar em apuros, precisando de ajuda."
"Okay, okay. Vamos." - A sua mão puxou-me, gentilmente e saímos do quarto devagar.
A porta do apartamento está aberta, quase arrombada e todo o lugar está escuro. Até que não é um mau apartamento, mas não foi para verificar isto que vim.
"Socorro!" - Ouvimos e logo depois parecia que alguém estava vomitando.
"Vem da casa de banho, Camilla." - O homem ao meu lado diz, caminhando comigo para a WC.
Joshua entrou primeiro e logo saiu.
"O que é?" - Pergunto, curiosa, enquanto ele leva a mão à boca como se fosse vomitar. "Podes dizer-me o que viste?!" - Falo, um pouco irritada. Não recebendo resposta, eu entrei e desejei nunca ter entrado.
Comecei a vomitar quando vi as costas da rapariga à minha frente visíveis. Parece que ela foi queimada ou algo do género.
"Não devias ter entrado." - Joshua fala, enquanto segura-me o cabelo e massaja as minhas costas numa tentativa falhada de fazer com que o vómito pare.
A rapariga fecha a tampa da privada e olha-me sem reação. Cicatrizes ainda abertas são verificadas por mim, na sua barriga e nas pernas.
"Quem és tu?" - O homem falou, quando eu parei de vomitar.
Encostei a cabeça na parede e assim fiquei durante os minutos seguintes.
"Eu... Eu estou cheia..." - E de repente a mulher voltou-se novamente para a privada e vomitou. Parece que está como eu, mas muito pior. "Cole..."
"Cole?" - Questiono, olhando para o rapaz de pé ao meu lado, que apoia o queixo na sua mão.
"Ele..." - Suspira. "Ele tirou-me a pele das costas, com um laser, para fazer um casaco." - O seu choro intensificou-se a cada segundo que passava. Provavelmente, porque estava a lembrar-se de todo o sofrimento.
"Como chegaste até aqui? Fugiste?" - Continuei.
"Sim, eu fugi. Não aguentava mais. Corri durante tanto tempo e quando vi aqui este lote de apartamentos, tentei arrombar as portas, até que esta estava entreaberta e entrei." - Apoia-se na privada, acabando por descansar.
"O Cole deve estar à tua procura e se te encontra aqui, todos nós vamos sofrer as consequências."
"O que queres dizer, Joshua?!" - Respondo ao homem que acabara de falar. "Vamos colocá-la na rua? É isso? Já olhaste bem para o estado dela? Vê-se a coluna dela. " - Tento não vomitar novamente.
"Vê no estado que a casa de banho está, Camilla! No estado que ela está! Ela vai acabar por falecer aqui!" - Grita, tentando passar-me a sua visão.
"A casa de banho podemos limpar. Temos de focar-nos em cuidar dela neste momento." - Joshua bufa, levantando as mãos e saindo da WC.
Ao levantar-me, uma grande dor aguda surgiu no meu lado direito do abdómen. Apoiei-me à parede, tentando fazer com que a dor acabe quando a moça há minha frente levanta-se e na sua mão há uma faca de cozinha.
"O que raio estás a fazer?!" - Grito, enquanto ela anda até mim, devagar. "Joshua!" - Grito, desesperada.
Ouço passos apressados e a rapariga continua a andar. Novamente a dor aguda surge impossibilitando-me de fugir daqui. Por mais que queira fugir, não consigo. Ou concentro-me na dor, ou em fugir e a dor está muito mais forte.
De repente, algo aumenta ainda mais. Quando a faca sai da minha barriga, perco o fôlego e encaro a mulher que quase se maltrata, por não ter força para empurrar a lâmina até ao fundo da minha barriga. Quando a mesma ia colocar a faca novamente, Joshua aparece empurrando-a para trás, fazendo a mesma bater com a cabeça na parede.
Estando agora a mulher no chão, caí também. O homem ajoelha-se, enquanto eu tento falar algo, porém nada sai da minha boca.
"Camilla, por favor." - Ouço quando fecho os olhos. "Camilla!" - O meu nome ficou ecoando na minha cabeça e cada vez menos doía a facada.
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71 Days Of Pain
Mystery / ThrillerCamilla Collins será uma das várias vítimas do temível Joshua Bolivian. Conhecido por gangsters e assassinos, este destaca-se pela tortura a que submete as suas vítimas no seu armazém, onde viveu toda a sua vida. Com uma infância perturbada e cheia...