23 de abril de 2016, Santa Mônica.
Hoje as forças para tentar levantar-me desta cama são mínimas. Não faço questão de levantar-me. Não faço questão de sofrer mais nas mãos daqueles dois malucos por assassinar pessoas sem qualquer motivo aparente. Quero desistir. Quero desistir disto tudo que me faz sofrer. Eu sei que Mason irá sofrer muito, porém ele sempre poderá encontrar alguém melhor que eu.
A porta do quarto abriu-se brutalmente, porém, ainda assim, mantive os meus olhos fechados e finjo que estou dormindo ainda.
"Camilla!" - A voz de Joshua ecoa em todo o meu canal auditivo e tento não bufar. "Camilla!" - O seu grito faz-me pular na cama e assim abro os olhos instintivamente, antes que ele faça algo. "Finalmente!" - Bufa e sento-me na cama, com as poucas forças que tenho.
"O que vais fazer-me hoje? Partir-me mais dedos? Já tenho dores suficientes." - Murmuro e ele olha-me com o rosto sério.
"Não Camilla, apesar de querer muito, não." - Suspira, levando a mão ao cabelo despenteado. "Hoje o Richard vai ficar contigo. Todo o dia." - A sua expressão era muito contraditória. Ao falar de Richard parecia que ele sentia raiva, porém depois há qualquer coisa que me mostra uma certa preocupação da parte dele. O que houve para ele estar assim? "Ficarei o dia fora. Espero que te portes como deve ser."
O seu corpo foi como arrastado até à porta e o seu último olhar antes de sair da mesma, foi como se ele quisesse ficar aqui, mas algo o impede de tal ato. Tão confuso!
Richard entrou de má cara também. As suas famosas tatuagens agora mais visíveis, devido à falta de camisola e umas calças justas. O seu cabelo está preso, como sempre está e os seus olhos estão mais claros que o costume e claro a barba por fazer.
O homem não fechou a porta e dirigiu-se à minúscula janela do quarto olhando para algo no exterior. Um suspiro pesado escapa da sua boca e a partir daí nada foi falado por ele.
Continuo sentada à espera que ele fale alguma coisa ou até faça, porém o homem musculado continua de pé e parado à mais de meia hora. Aconteceu mesmo algo, porém o quê?
"Estás bem, Richard?" - Falei, pois na verdade, pela primeira vez, eu estava com uma certa pena dele e do Joshua, mesmo sem saber o motivo da saída misteriosa do Joshua e o silencio do homem agora que me encara pelo canto do olho.
Cruzo as mãos e as pernas e fico a olhá-lo à espera de uma mera palavra.
"Não estou bem disposto hoje, Camilla." - Fala, andando agora para a cadeira que está perto da pequena mesa de madeira antiga. "Descansa se quiseres." - Senta-se e suspira. "Hoje não vais sofrer."
"Porquê?" - A minha curiosidade subia a cada palavra que ele dizia.
"Porque não. Descansa." - Ele agora prende o olhar no telemóvel que tem nas mãos e começa a teclar algo.
"Passou-se algo com o Joshua? Ou com a família dele?"
"Digamos que sim." - Arruma o material tecnológico na algibeira onde esteve até agora. "A avó dele morreu." - Mistério resolvido.
"Oh..." - Encaro as mãos. Porque haveria o Richard de estar melancólico também? Afinal, a avó é do Joshua e não dele. "E tu estás assim porquê?"
"Porque eu moro na casa da avó do Joshua."
"Hum..."
"Camilla, dá para parares de falar, por uns minutos? Ao falar nisto só fico pior." - Não sei porquê mas calei-me durante horas. Talvez assim ele relevasse fazer-me sofrer novamente.
Um estrondo é ouvido e Richard não se mexe na cadeira onde já está à horas. Levantei-me da cama e ele não me impediu. Saí do quarto, andando descalça sobre o chão com o sangue já seco. Vi Joshua entrar num quarto, porém ele não me viu. Continuei andando, olhando para todos os lados, vendo os corpos pendurados do mesmo jeito que estavam quando cheguei aqui.
Coloquei a minha mãe subtilmente na maçaneta da porta e respirei fundo inúmeras vezes até ter coragem de abrir a porta que dava para o suposto "quarto" de Joshua.
Abri.
Levei a mão à boca, não acreditando no que estava vendo há minha frente. É impossível ele estar a fazer isto a si próprio. Se bem que Olivia havia-me contado que ele testava a sua resistência à dor, mas eu julguei ser uma invenção ou de Olivia ou de Richard.
Joshua continua a dar chicotadas nas suas próprias costas. Vejo o seu sangue descer desde as costas até às pernas, porém nenhum som é ouvido. Parece que não lhe dói nada, o que é horrível.
Estou completamente em choque e sem reação para o que vejo.
Devo pará-lo? Devo sair daqui antes que ele me veja?
"Joshua." - Chamo baixo, porém as chicotadas continuam. Circundo o homem, colocando-me à sua frente e o mesmo tem os olhos fechados e algumas lágrimas correm o seu rosto moreno.
Desvio-me um pouco dele para não levar com o chicote.
"Joshua!" - Exclamo alto e ele pára, abrindo os olhos logo depois.
"Camilla, vai para o teu quarto." - A sua voz não é ameaçadora, antes pelo contrário, ela está doce e pela maneira que ele fala, definitivamente, ele está sofrendo muito com a perda da avó.
"Eu sei que a tua avó faleceu." - O chicote é pousado na escrivaninha do quarto, coberta por armas e facas. "Eu também sei que pode ser muito difícil e que deves estar a sofrer, porém a vida continua e ela com certeza não iria gostar de ver-te assim. Ela irá estar sempre contigo e bem mais perto do que tu imaginas."
O seu olhar era capaz de partir-me a qualquer momento. O homem aproximou-se e agarrou-me para um abraço amigável e muito confuso para mim.
"Ela sempre teve muitas expetativas a meu respeito e eu sempre a magoei." - Sussurra-me. "Desculpa, Camilla." - O seu choro intensifica-se e não o deixo porque sinto que ele certamente se quebraria se eu o fizesse.
Assim ficamos, abraçados até que ele parou de chorar e gritar. O homem caminhou até à cama feita e deitou-se, pedindo a minha mão.
Dei a minha mão a ele, sentando-me a seu lado e vejo o mesmo fechar os olhos lentamente.
—————
Se gostas de Mistério/Suspense, indico-te NEVERMORE presente no meu perfil. Obrigada 🖤
VOCÊ ESTÁ LENDO
71 Days Of Pain
Mystery / ThrillerCamilla Collins será uma das várias vítimas do temível Joshua Bolivian. Conhecido por gangsters e assassinos, este destaca-se pela tortura a que submete as suas vítimas no seu armazém, onde viveu toda a sua vida. Com uma infância perturbada e cheia...