2. Começando do zero

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Foram quase cinco horas dentro daquele avião. Eu estava enlouquecendo. Já havia me esquecido de como Califórnia é longe de Nova Iorque. Durante a viagem meu pai tentou conversar comigo algumas vezes, mas confesso que não queria conversar. Ele começou a contar de como sua vida havia mudado desde a última vez em que fui visita-lo. "As condições melhoraram" era tudo o que ele conseguia dizer.

Assim que meus pais separam, meu pai fez questão de arranjar um emprego o mais longe de Nova Iorque possível. A primeira vez que fomos visita-lo foi um desastre total, ele morava numa casa nos fundos da casa do patrão. Ele era apenas um motorista, e o cubículo onde ele morava mal o cabia lá dentro. Não sei como conseguimos passar uma semana naquele lugar. Não me perguntem como ele conseguiu um bom emprego do dia para a noite, porque nem eu sei. Só sei que um dia ele ligou para Chase e o convidou para ir morar com ele, fazendo mil e uma promessas por telefone. Poucos meses depois ele já estava morando em uma casa que devia ser pelo menos duas vezes maior do que a casa antiga, e estava noivo de uma colombiana.

— Você vai ficar feliz com a casa nova. — ele diz, esbanjando um sorriso como se estivesse bastante orgulhoso — Você poderá decorar seu quarto novo como quiser. A cidade é pequena, todos se conhecem e você provavelmente será a única novata na escola, mas aposto que no final do mês você já vai ter feito novos amigos.

— Aposto que sim. — respondo forçando um sorriso.

Eu não estava muito entusiasmada para morar em Greenville, e ele sabia, mas eu não queria ser dessas pessoas ingratas que ficam demonstrando o tempo inteiro o quão infeliz estão e ficam reclamando das coisas.

Quando chegamos em Los Angeles eu estava agradecendo muito mentalmente. Eu não aguentava mais ficar dentro daquele avião. Assim que desembarcamos pude perceber a mudança climática, acho que vai demorar um pouco até que eu me acostumasse totalmente com aquele verão 24h. Em menos de trinta minutos já estávamos em frente a uma casa enorme, juro que pensava que só existiam casas assim em filmes. Na parte da frente tinha pelo menos vinte tipos de flores diferentes. As portas e janelas eram de vidro. Você conseguia ver a casa praticamente toda estando apenas do lado de fora.

Anthony veio nos receber na porta. Ele já havia mudado bastante desde quando deixou Nova Iorque. Seu topete loiro está enorme, mas não feio como antes, e sim muito bem cuidado. Ele está usando uma blusa social azul marinho que realça bastante a cor de seus olhos. Ele me mostrou cada canto da casa, até mesmo o quarto onde eu ia ficar. Passei desde a hora que cheguei até o jantar escutando ele me contar como sua vida mudou desde que começou a morar em Greenville. Papai teve que sair da mesa mais cedo, pois um de seus clientes o chamou com urgência no escritório. Tony estava bastante feliz, de uma maneira que nunca vi antes. Só espero que daqui algum tempo eu também esteja tão feliz quanto ele.

— Então, você tem falado com ela? — A voz falha e as palavras pareciam que estavam desaparecendo da boca de Anthony. Eu sabia que ele estava se referindo a mamãe, mas eu não sabia o que responder ao certo.

— É complicado. — respondo dando uma grande colherada na comida.

— Ela não está melhorando, não é?

Ele não vai me deixar em paz enquanto eu não contar qualquer coisa. E não adianta mentir, Anthony me conhece bem demais.

— Da última vez que liguei para ela, ela não se lembrava de que tinha uma filha. Então... — paro de falar antes que eu começasse a me lembrar daquele dia.

— Eu sinto muito, Kali.

— Não, está tudo bem. — engoli seco, forço um sorriso e repito novamente — Está tudo bem.

Não ouse me amar | lésbico Onde histórias criam vida. Descubra agora