10. Encurraladas

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Passo o dia inteiro evitando Leona a todo custo, mas de nada adianta, pra piorar acho que ela acabou percebendo em algum momento. Na aula de francês a professora pediu para que eu acompanhasse Leona, e a ajudasse trazer os livros para sala. Era só o que me faltava. Leona diz que os livros de francês ficavam em uma velha sala no fim do corredor. Eu só quero ir logo pegar aqueles livros e voltar para sala.

— Você não parece estar gostando da aula de francês. —  diz Leona enquanto andamos no corredor.

— Francês não é meu idioma preferido.

— Você vai ao baile do dia dos namorados? — pergunta tentando acompanhar meus passos.

— Por que você quer saber? Sua namorada já vai estar aqui. — retruco.

— Foi mal, só estou puxando conversa. — diz estranhando minha reação.

— Onde é essa sala? — pergunto tentando fugir do assunto.

Leona aponta para uma sala que a porta estava encostada. Ela explica que os livros estão ali porque a biblioteca está lotada e todos os livros que não são muito usados são jogados naquela sala. Na porta tinha um aviso de todo tamanho "Não feche a porta, ela só abre do lado de fora". Nossa, que ótimo.

— Eu entro e passo os livros pra vocês enquanto você segura à porta. Ok? — digo abrindo a porta.

— Parece que você tem um plano. — responde seca.

Entro na sala e está escuro demais, eu mal conseguia enxergar um palmo diante do meu nariz. Merda! Como eu vou achar esses livros agora? Escuto o barulho da porta fechando. Olho para trás instantaneamente, a luz está atravessando o pequeno vidro da porta e até que a sala não estava tão escura mais. Leona não está mais do lado de fora e sim dentro da sala do lado da porta me olhando.

— Que merda é essa? — corro até a porta tentando abri-la — Eu disse pra você segurar a porta.

— Ops, escorregou sem querer.

Bato na porta varias e varias vezes, mas todos estavam dentro da sala e ninguém ia nos escutar. Chuto a porta, grito e nada. Leona está muito calma, escorada na parede me encarando com um pequeno sorriso sarcástico no canto do rosto. Ela se aproxima rapidamente de mim, dou um passo para trás, mas a parede me cerca. Leona e eu somos quase do mesmo tamanho, ela é um pouco mais alta. Seus olhos cinza me encaram como se ela estivesse vendo minha alma. Prendo a respiração por alguns segundos, logo em seguida a soltei devagar. O que essa garota está fazendo?

— Agora você vai me dizer que bicho te mordeu? Não adianta mudar de assunto porque não tem pra onde você correr. — diz me encarando com as duas mãos apoiadas na parede atrás de mim.

— Você fez isso de proposito. — digo com raiva tentando empurra-la.

— É o único jeito que você ia falar o que tem. — insiste segurando minhas mãos.

Leona está perto demais, eu posso sentir seu perfume. Ela ainda me encara esperando por respostas que nem eu mesma tenho para dá-la. Eu não sei porque eu estou tratando ela tão mal assim. Não tenho motivo.

— Não é nada, Leona. Agora me deixe passar.

Ela abre espaço, vou até a outra parede que não deve ser menos de dois metros de distancia da Leona. Aquela sala é um cubículo, e pra melhorar não tem nenhum livro aqui dentro.

— Por que você fez isso? Agora podemos ficar trancadas aqui o dia inteiro. — resmungo.

— É o único jeito que achei de conversar com você sem você fugir do assunto. — Leona joga seu cabelo pra trás, franze a testa aflita — Eu não tinha pensado nisso.

Não ouse me amar | lésbico Onde histórias criam vida. Descubra agora