Fiquei o mês inteiro tentando evitar Olivia e principalmente Leona. Ela tentou conversar comigo algumas vezes, mas eu a ignorei. Eu até mudei de lugar na aula de literatura inglesa e de francês também. Depois de uns dias percebi que na verdade quem estava me ignorando era ela, e isso me incomodou um pouco.No começo do Março o diretor Marinn anunciou que esses anos só o segundo ano iria visitar a Ilha de Santa Barbara, pra minha má sorte quem está no segundo ano? Isso mesmo, eu! Eu até fiquei tranquila depois que Megan me disse que nós vamos nos divertir muito, e que provavelmente dividiremos o mesmo quarto, pois eles nos deixavam escolher nossos companheiros de quarto. Tive que aguentar Daniel falando sobre essa viagem por um mês inteiro, eu estava até pensando em não ir, inventar uma boa desculpa e ficar em casa, mas Daniel garantiu que os professores vão distribuir notas durante a viagem com as atividades que faremos lá e quem faltar vai ficar de recuperação. Não tinha como fugir dessa vez.
Nadia prometeu que viria ao casamento do papai e que provavelmente iria passar o verão aqui comigo. Era tudo o que eu precisava ouvir no momento. Quanto a Ethan, ele não sabia se conseguiria vim, pois finalmente começou a trabalhar e se ele não conseguir ferias de pelo menos duas semanas... Nossos planos vai por água a baixo.
No dia da nossa viagem Carmen faz questão de nos deixar na porta da escola e esperar até que a gente entre no ônibus, como se fossemos duas crianças indo pela primeira vez em uma viagem com a escola. Eu morri de vergonha, Dani ainda mais, pois ela o abraça e o beija como se nunca mais fosse vê-lo novamente.
- Ay, papi... Vou sentir tanto sua falta. — diz ela o apertando bem forte.
— Eu também vou mãe. — resmunga Daniel.
— Vocês tem certeza que trouxeram tudo o que precisam? — pergunta me olhando — São duas semanas, e por mais que Santa Barbara seja perto não vamos nos falar.
— Temos sim, Carmen. — afirmei — Não precisa se preocupar.
Ela nos abraça uma última vez, atravessa a rua e fica nos olhando.
— Eu amo sua mãe, Dani. — diz Megan rindo.
— Ela é um barato mesmo. — concordo.— Isso é por que ela não é mãe de vocês. Não sei como eu aguentei todos esses anos.
— Ah, mas no fundo você gosta, pode falar a verdade. — indaga Megan.
— Vamos entrar no ônibus logo. — resmunga ele — Se não vamos ficar pra trás.
— Ay, papi... Eles não vão nos deixar pra trás. — Megan fala imitando a voz de Carmen.
Começamos a rir.
O ônibus está completamente cheio. Eu nunca tinha percebido que tinha tantos alunos assim no segundo ano. Demoramos quase trinta minutos para chegar à costa para entrarmos na Balsa. Assim que a balsa começou a se mover o Diretor Marinn nos disse que poderíamos sair para olhar a paisagem enquanto não chegávamos à Ilha. Leona estava sentada no ultimo banco do ônibus com os dois fones de ouvido na orelha, olhando para o lado de fora da janela.
Troco olhares com Daniel e ele entende o que eu quero dizer. Todos saem do ônibus, mas Leona continua sentada no mesmo lugar sem mover nenhum dedo. Daniel vai até o fundo do ônibus e a chama algumas vezes, até ela perceber que ele está falando com ela.
— Ei, Dani. — diz gentilmente tirando os fones do ouvido — O que está pegando?
— Nada. É só que seu pai disse que se quisermos já podemos sair para olhar a paisagem enquanto não chegamos.
Ela ergue os olhos, encara Megan e sem nem mesmo me olhar, encara Daniel novamente com um sorriso de lado.
— Ah, eu passo! Prefiro ficar aqui dentro mesmo, mas divirtam-se. Obrigada por avisar. — responde colocando de volta os fones.
Até quando ela planeja ficar me ignorando dessa maneira? Reviro os olhos enquanto Daniel se aproxima afirmando que tentou. Saímos do ônibus e ficamos do lado de fora assistindo o pôr do sol. Está um pouco frio, mas mesmo assim não deixa de ser bonito. Assim que a balsa está chegando perto da costa, voltamos para dentro do ônibus.
Eu mal pude acreditar quando chegamos na ilha de Santa Barbara. O lugar é lindo demais, a água tão transparente que você consegue ver o fundo. Pegamos nossas coisas do ônibus e descemos. Diretor Marinn nos obrigou a fazer uma linha em ordem alfabética. Ele passa entregando a chave para os meninos em quanto o senhor Bryan entrega para as meninas.
Eles nos pedem para formarmos um trio para a divisão do quarto, escolho Megan na mesma hora. Seria ótimo dividir um quarto com ela por duas semanas, mas meus planos são arruinados quando o senhor Bryan pergunta se Leona pode se juntar a nós. Como posso falar não pra isso?
— Sem problema nenhum. — Megan diz me cutucando com o cotovelo.
— É, imagina. — forço um sorriso.
— Ótimo. — responde nos entregando uma chave.
Uma mulher nos mostra onde estava o dormitório das meninas. Levamos nossas coisas para o quarto, enquanto alguns dos garotos e principalmente Daniel, ficaram para aproveitar a água. O quarto é superconfortável, tem três camas e um banheiro. Pego a cama do canto e Megan pega a que está no meio. Leona continua cada, desde o ônibus, não parece mais aquela mesma pessoa animada de sempre.
Megan avisa que vai voltar para a praia e nos convida para vim, Leona recusa dizendo que precisa de banho antes e entra no banheiro. Eu recuso e aviso que vou arrumar minhas coisas primeiro. O sol já havia se posto então em poucos minutos já vai começar a fazer um pouco de frio, amanhã eu aproveito o máximo.
Coloco minhas coisas de baixo da cama dentro de umas gavetinhas. Nós vamos passar duas semanas aqui, então eu não vou ficar abrindo mala toda hora pra procurar qualquer coisa. Leona sai do banheiro com uma toalha enrolada em seu cabelo e a outra em seu corpo. Ela me olha e sem falar nada vai andando até sua cama. Aquele climinha com ela já está ficando horrível, eu não queria que as coisas estivessem assim, apesar de tudo.
— Pensei que você fosse pra praia. — digo tentando começar uma conversar civilizada com ela.
Ela me olha de lado, e volta a mexer em suas coisas.
— Não, não curto muito. — murmura.
— Entendi.
Leona pega um par de roupas e vai andando em direção a banheiro novamente. Quando ela está quase fechando a porta eu a chamo. Ela respira fundo e aparece na porta.
— Olha, eu não queria que as coisas estivessem assim, e eu sei que mal conversamos esse último mês.
— Você é uma merda pra pedir desculpas, sabia?— pergunta me interrompendo.
— Eu não estou pedindo desculpas. — digo com dificuldade.
— Ótimo, por que não tenho nada o que desculpar.
Ela fecha a porta novamente.
— Leona! — grito.
— O que foi agora, Kali? — ela está irritada.
— Vamos ter que dividir o mesmo quarto, por duas semanas. Vamos trombar uma com a outra a cada dez minutos praticamente. Será que podemos deixar tudo que aconteceu pra trás e tentarmos ser amigas? Sei lá.
Amigas, Kali?Jura?
Leona abre a porta segurando o riso, eu posso ver na sua cara de deboche. Ela passa a língua pelos lábios lentamente, como se estivesse analisando cada palavra da minha proposta. A loira ri.— Amigas, claro. — fala.
— Ótimo.
— Então, amiga, tenho que trocar de roupa. — responde dando uma breve risada e uma pequena ênfase em "amiga"
Leona fecha a porta outra vez, me jogo em cima da cama de cara pra almofada. Aperto bem forte tentando abafar meus gritos. Essas duas semanas vão ser mais difíceis do que pensei. No fim de tudo acabo mudando de ideia e vou aproveitar a praia com o resto do pessoal.
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Não ouse me amar | lésbico
RomanceVolume I da Trilogia Não Ouse me Amar: Após a separação dos pais e seu pai alegando que sua mãe não tinha capacidade de manter uma casa, Kali se vê obrigada a se mudar para o sul da Califórnia. Deixando para trás seu namorado e todos os antigos amig...