Capítulo 12

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Ele me encara, seu rosto passou de sereno para apreensivo.

- Por que? Fica comigo só por hoje.

Como eu queria poder ficar, adormecer em seus braços todas as noites, mas a realidade é bem diferente. Preciso voltar para casa, se John estiver lá nem sei o que pode acontecer comigo.

- Meu marido já deve estar em casa, não posso ficar aqui.

Não sei o que dizer para ele caso esteja em casa, como vou explicar o porquê de ter dormido fora, é bem provável que entre em pânico e comece a chorar.

-Você pode pelo menos me dizer seu nome? ou se chama Cat?

Meu deus, eu nem tinha falado meu nome, dormi com um cara que não sabia meu nome, agora mais do que nunca minha mãe me chamaria de puta e eu desceria sem escalas para o inferno.

- Catarina, prazer.

- O prazer foi todo meu, acredite.

Ele sussura em meu ouvido e um calafrio percorre minha espinha, preciso sair daqui antes que acabe  todo meu autocontrole.
Me levanto e vou procurar minhas roupas, meu vestido está bem amaçado, droga!

- Posso te dar uma carona se quiser.

Penso em todas as possibilidades, se eu sair do prédio e alguém me ver? E se me pegarem saindo do carro?

-Não sei.

- Vamos Catarina, os vidros do meu carro são escuros, ninguém vai te ver dentro e posso te deixar em algum lugar afastado.

- Tudo bem.

***

Chegamos a uma Praça um pouco escondida, essa hora da manhã só tem algumas pessoas caminhando.

- Obrigada pela carona.

- Disponha.

Seu sorriso safado aparece e quase imploro para voltar com ele, mas dessa vez o lado racional vence. Ele se inclina e tenta me beijar, me afasto, e se alguém ver? Mesmo os vidros sendo escuros, ainda me preocupo.

- Melhor não. (Digo mais para eu mesma).

- Tudo bem, até outro dia princesa.

Christopher sai primeiro e se certifica de que não tenha pessoas olhando. Saio do carro e ando sem olhar para trás, quando finalmente olho ele não está mais, giro a cabeça para todos os lados, mas não avisto o carro.

A sensação de que nunca mais irei vê-lo vem em minha mente. Talvez seja melhor assim.

Mesmo o sol aparecendo o ar está frio, ventos frios sopram contra minha pele, encolho os ombros e cruzo os braços para tentar me proteger.

Estou um pouco distante da minha casa, quando se nasce e passa a vida inteira em uma cidade tão pequena quanto  Middleburg é impossível não conhecer quase todos os habitantes que hoje são um pouco mais de mil.

Middleburg é bem pequena e fica no Estado da Virgínia, a 370 km de Nova York, eu sempre quiz sair daqui, conhecer novos lugares, explorar o mundo. Caminho pelas ruas asfaltadas e vou observando às lojas em construções antigas.

Tudo aqui parece que saiu de um filme de época, é até bonito, passo pelo antigo café que eu e papai costumávamos ir quase toda semana e juro que posso sentir o aroma do café, mesmo estando do outro lado da rua.

Consigo enxergar Suzana a fofoqueira da cidade, ela está saindo da boutique que fica ao lado do café, ela não pode me ver, viro de costas e quando estou prestes a fugir ouço sua voz.

- Catarina é você?

Não me movo, posso correr sem parar ou encacar a situação, parece que toda vez que faço algo escondido tem alguém que aparece do chão para me pegar no flagra ou quase no flagra.

- Oi Suzana, quanto tempo?

Estou com um sorriso amarelo torcendo para que a conversa não se prolongue e ela não note meu vestido amarrotado.

- Pois é menina e sua mãe como vai?  Achei que ela não fosse se recuperar depois da morte do seu pai.

Odeio essa mulher e seu jeito de falar prepotente com o nariz empinado.

- Está tudo bem, ela está ótima.

Apesar de eu e minha mãe nunca termos falado dos nossos sentimentos em relação a morte de papai, não irei dar satisfação das nossas vidas para essa fofoqueira.

- E o John está bem? Eu sempre soube, desde que vi vocês se beijando pela primeira vez, que seriam marido e mulher.

Por causa dessa fofoca que fui praticamente obrigada a namorar com John, na época não enxeguei o quão errado era aquilo tudo.

- Está tudo bem, preciso ir, estou indo ao mercado comprar algumas coisas.

- Mercado ? Com esse vestido?

Droga, não sei o que dizer, pensa, pensa Catarina.

- Ontem eu e John fomos a uma festa de amigos e eu acordei cedo para preparar um café  surpresa.

- Ah sim.

Ela me olha como se soubesse o que  eu fiz ontem a noite, preciso sair de perto dessa mulher.

- Tenho  que ir agora.

Saio com os passos mais largos que consigo dar e ouço quando ela grita:

- Mas Catarina o Mercado é para o outro lado.

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