8| À Base de Riscos

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— Por que o tempo parou na semana passada?

Rafael chutou algumas pedrinhas encontradas na calçada enquanto andava, após fazer sinal de carona para o quinto carro que passara na estrada, que o ignorou.

— Controlo a velocidade do tempo quando estou afim. Veja. — Ele instalou os dedos a frente dos olhos de Liz.

Ela piscou e olhou de um lado para o outro, as pessoas da calçada oposta caminhavam normalmente. Ela entortou os lábios.

— Não funcionou.

— Quanto senso de humor.

Liz olhou-o de soslaio.

— Fica difícil não levar para o lado literal depois de toda surrealidade que invadiu minha vida.

Os dois andavam com certa pressa, haviam caminhado bastante até chegar naquela área mais iluminada e tumultuada da cidade —, Rafael alguns centímetros longe de Liz — onde encontravam-se em sua maioria, lojas comerciais. Pararam para pedir informações algumas vezes.

Com toda a fugacidade com que os fatos aconteceram naquela noite, Liz não havia reparado no jeans rasgado na lateral da perna de Rafael, como se tivesse sido queimado e nos arranhões nos braços tatuados destacados pela regata. Ele também usava luvas de couro que deixavam os dedos amostra.

Liz admitiu para si mesma que era o tipo de garoto que ela gostaria de fotografar se fosse outra situação, se ele fosse amigável e se principalmente ela estivesse com sua câmera.

— Alguma força misteriosa não quis que você e seus amigos morressem naquela noite, a mesma força misteriosa me enviou. Tem certeza que não tem nenhuma lei da física que explique? — Rafael zombou ao olhar para a expressão conturbada dela.

— Está se referindo a Deus?

— Não estou me referindo a nada, tire suas próprias conclusões.

— E aquela coisa vestida de preto que apareceu em cima do carro?

— Uma hoste maligna, ele estava possuindo seu amigo e se manifestou quando eu apareci. Aliás, aqueles três jovens no cemitério estavam possuídos da mesma forma, porém, eram hostes bem mais fracas e com algumas palavras eu consegui deportá-los. As hostes e os principados estão em todos os lugares, rodeando os mundanos a todo momento.

— Fale a minha língua.

— Demônios.

Rafael parou e olhou para trás. Liz entrou em um leve estado de choque, com os lábios entreabertos e os olhos passando de um lado para o outro quando o foco real estava dentro de si. Ela olhou para frente e encontrou os olhos de Rafael.

— Quer que eu desenhe?

Ela ignorou-o lançando um olhar de descaso.

— O que você viu foi uma possessão demoníaca, já deve ter ouvido falar nisso. Aqueles três vão acordar daqui a algumas horas sem lembrar de nada.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora