42| Ventos e Trovoadas

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Conforme os dias seguiam, a impressão de ter vivenciado mais anos que ela realmente vivera aflorava em seu peito como um impulso involuntário, movido pelo instinto de sobrevivência. Mais se sentia cansada do mundo; Ali não era seu lar.

Liz prendeu os cachos em um coque, sem preocupar-se com a estética. As horas pareciam não passar enquanto ela estava confinada naquela sala, de paredes enfeitadas com colagens feitos por alunos nas paredes, pichações nas mesas e duas únicas janelas que davam vista para o pátio da escola. Que bom que Liz sairia no final do ano. Detestava levantar cedo contra a sua vontade para ficar sentada ouvindo um homem estranho dizer fórmulas e números que seriam inúteis para alguém que desejava viajar o mundo fotografando.

Ela fitou ao redor, estava no fundo da sala, ao lado de uma das janelas. Matheus estava ao lado dela olhando para o teto, trocando piadas idiotas com alguns garotos da sala de vez em quando. Alguns alunos mexiam no celular por baixo da mesa, alguns na cara de pau; Outros trocavam cochichos. Apenas os alunos sentados a frente prestavam realmente atenção na aula. Liz abaixou a cabeça e cobriu os olhos com o polegar e o indicador.

O processo de morte começa ainda na adolescência, pensou ela.
Quando fumamos,
bebemos,
nos enganamos.
Quando encontramos sentido e o ignoramos.

Odiava fingir ser uma pessoa normal no meio de tantos outros. Vivia uma farsa. Todos se escondem por trás de uma máscara nem que seja por dez minutos de vida, muitas vezes, para se encaixar em padrões fúteis. Liz bocejou. A garota precisava de doses de café amargo, tragos, sua fender e palavras soltas em um caderno. Era a vida perfeita para se seguir até dois meses atrás. As vezes desejava que nada tivesse mudado, as vezes concordava que fora necessário notar que não pertencia ao mundo ou morreria cedo demais. Para onde iria após a morte, afinal?

Refletiu, até que as pálpebras pesaram e se fecharam contra sua vontade.

Os olhos de Liz arderam e ela rapidamente virou a face devido a incandescência vinda do alto. Alguns minutos sucederam até que sua vista se adaptasse à luz do Trono. Ela colocou as mãos ao lado do corpo e levantou-se, incomodando-se com a solidão à sua volta.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora