11| Anjos

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A ladeira iluminada por postes de luzes amareladas recebia diversas variedades de sons. Motos subiam e desciam, samba tocava na maioria dos bares e mulheres sambavam, com garrafas de cerveja nas mãos, enquanto eram apreciadas por alguns homens sentados nas mesas de plástico. Contudo, o que mais se destacava era o funk ensurdecedor vindo de um casarão grande pela qual Liz e Liam acabavam de passar, o cheiro de churrasco sendo preparado era inebriante.

Eles andaram por alguns becos e vielas, subiram por algumas escadas de cimento esburacadas, que abriam espaço para algumas plantas espalharem seu verde. Admiraram em silêncio os muros grafitados que davam vida à comunidade. 

O Vidigal era tão extenso que parecia não ter fim, e os pés de Liz já reclamavam. A maioria da população ali era negra, trabalhadora e humilde. Em tempos passados era um lugar de violência devido ao tráfico de drogas, e era triste ver, na grande maioria das vezes, pessoas inocentes morrendo por conta da guerra entre policiais e bandidos. Contudo, com o morro pacificado, não havia mais tal conflito, tornando o lugar um ponto turístico para estrangeiros, repleto de festas em lajes, rodas de samba, bares e hotéis.

Ela focou seu olhar em Liam, que caminhava ao seu lado e olhava para o hambúrguer em sua mão como se fosse uma garota prestes a beijar.

— O que se lembra da semana passada? Da noite do meu aniversário!? — Liz perguntou com um tom mais alto na voz devido as músicas ao redor.

— Lembro de como o quiosque estava cheio...

— Não, estou perguntando de quando fomos embora.

— Ah...Lembro de cenas cortadas, de estar no carro com uma música alta, de você gritar alguma coisa na parte de trás, não lembro nem de chegar em casa, só lembro de ter acordado no sofá com dor de cabeça.

Liam e Matheus haviam ingerido álcool e Liz sofrera com os danos psicológicos. Que sentido tinha nisso? Talvez por eles estarem bêbados não tenham sofrido o mesmo trauma, talvez...

Liz sentia-se desorientada, como uma criança perdida dos pais no supermercado.

— Beber pode ser legal mas eu lembro muito bem do que aconteceu. Nós quase morremos e eu tenho certeza que você não sentiu o que eu senti naquela noite. Além disso, é idiotice beber algo com gosto horrível para se sentir mal no outro dia.

Liam arregalou os olhos por trás dos óculos.

— Nem parece você falando.

— Na real, eu nem sei mais quem eu sou. — Ela cobriu a testa com a mão e olhou para os fios elétricos acima de si, apertou as pálpebras quando a luz do poste fez seus olhos arderem.

— Experiências de quase morte devem causar algum efeito no cérebro, devem ser como drogas no organismo, deixam sequelas que vão se prolongando ao longo do tempo. Devem fazer imaginar situações, conversas e criaturas bizarras.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora