56| Que Comece o Jogo

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música do capítulo: 
Dangerous Game - Klergy

"Eu vejo uma tempestade rolando. Eu vejo o chão desmoronando. Mas em uma reação em cadeia. Eu vejo a escuridão rastejando. Eu vejo suas guerras, é o fim. Mas em uma reação em cadeia. É um jogo perigoso."

✹❂✹

As luzes de emergência tremeram, uma iluminação rubra tomou o amplo corredor de saída para, um segundo depois, afundá-lo em escuridão em um ciclo contínuo.

Rafael ouviu o rangir da porta corta-fogo atrás de si por onde acabara de entrar. Fogo azul oscilou em sua mão direita, fornecendo a projeção de sua própria sombra se movendo pela parede, por um instante teve a impressão de ver uma sombra a mais. Ouviu gritos soando distantes, como se vindos de dentro de sua cabeça, de maneira que o fizeram sentir como o mesmo garoto de dezesseis anos perturbado e encarcerado com seus demônios. Rafael espantou o pensamento. Aquele era o tipo de lembrança que o levava a queda.

Apertou a mão esquerda sobre o cabo da adaga até sentir o punho esquentar, limpou uma gota de suor da testa com o antebraço, seus passos cautelosos estalavam no assoalho. Você deveria correr até a pista de dança, dar o melhor de si para resgatar o máximo de pessoas. É seu dever. Uma voz pareceu sussurrar em seu ouvido direito. Mas você não é o herói. Outra disse no pé do ouvido esquerdo. Rafael ignorou as vozes. Se dirigira até ali somente para descobrir o que motivara tantos vampiros atacarem um mesmo lugar.

Sugadores — como Rafael apelidara carinhosamente — não seriam imbecis de romper com a trégua apenas por vontade de beber sangue. Os administradores das sedes se preocupavam em primeiro resolver o problema para depois encontrar a causa do mesmo, enviando anjos mortais para todos os lados como jatos de água desenfreados, mostrando ao inimigo seu desespero. Mas os fins não justificavam os meios. Rafael buscava em primeiro lugar encontrar as ferramentas e através delas resolver o problema, e por essa e outras ideias contrárias era dado como um rebelde sem causa. Ademais, por seu histórico nada simpatizante.

Rafael parou de se mover um instante, observou uma linha de sangue manchando o piso branco escorrendo até chegar a ponta de seu coturno. O jovem estreitou os olhos, deu mais dois passos. Àquela altura do campeonato corpos sem vida não o assustavam. Entre um e outro tremular da luz rubra Rafael conseguiu ver com nitidez. Um garoto encontrava-se deitado sobre uma poça de sangue, linhas finas escorriam das marcas de mordidas ao redor dos ombros e braços. Rafael abaixou, fechou a mão de modo que o fogo apagasse e encostou a mesma na garganta do rapaz.

Fria, sem pulsação. Não havia nada que pudesse fazer.

De imediato Rafael sentiu uma gota cair em seu ombro. Lançou um olhar enviesado e tocou a região com a mão que antes tocara o garoto, passando o dedo indicador pela manga da camiseta. Mais sangue.

Um vulto correu acima da cabeça de Rafael. Ondas de adrenalina invadiram suas veias, os dedos formigaram. Girou o corpo na mesma fração de segundo que uma criatura saltou sobre suas costas. Sentiu a camisa umedecer no piso molhado de sangue. No breve relance da luz de emergência Rafael encontrou os olhos carmim do ser que o atacara, entrelaçados a uma face jovial ausente de melanina. O vampiro, com a aparência de um garoto de dezessete anos, exerceu uma força sobre-humana contra Rafael, as presas, semelhantes as presas de uma serpente, brilhavam como lâminas, saindo para fora da boca e pingando gotas de sangue.

Rafael impulsionou o joelho para frente acertando o estômago do rapaz, que foi arremessado contra o teto soltando um murmúrio. Antes que a criatura pudesse ter a chance de cair, Rafael dobrou o cotovelo e lançou o braço para frente em direção ao seu alvo, a lâmina da adaga escorregou de sua mão com fluidez, como um pano de seda. O objeto cortante girou cento e oitenta graus, voou em linha reta e perfurou o vampiro na altura no coração. Rafael encontrou os olhos de súplica encarando os seus por um momento, como se dissessem "obrigado por me livrar desse demônio que se apoderou de mim."

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora