38| Como As Asas de Um Corvo

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Rafael precisava acordar, mas suas pálpebras pareciam ter sido coladas. Um caleidoscópio de imagens se fixou em seu subconsciente, girando a cada minuto formando novas imagens. Viu a si próprio andando por ruas de ouro; Se viu conversando com o Trono como bons amigos que eram e por fim observou-se queimando em um lago de fogo. Era tão real que ele sentia o cheiro de enxofre ao seu redor e a pele ardendo, como se estivesse a temperatura de uma fornalha, talvez mais que isso.

Lutou consigo mesmo até conseguir abrir os olhos.

— Finalmente.

Ele escutou uma voz familiar, passou o olhar do teto abobado para um par de íris amareladas que o encaravam com uma certa esperança nas entrelinhas.

Liz estava sentada na cama ao lado, com as pernas dobradas em posição de meditação e um livro sobre as mesmas. A garota abriu e fechou as mãos, mordendo os lábios com força. Teve vontade de abraçá-lo, confessou mentalmente, sentir o calor do corpo dele o mais perto possível, mas não quis ser evasiva.

Rafael levantou para sentar e passou as pernas para fora da cama, todo o seu corpo doía e pesava, principalmente o abdômen. Ele mirou a janela ao lado da cama a qual se encontrava, pares de vidros verticais e enormes permitiam que a luz do sol iluminasse o lugar. Pressionou os olhos e flahs rodaram por sua mente, ele balançou a cabeça e passou a mão pela testa, tirando o fio de cabelo que caía no olho.

— Droga. O garoto está vivo? — indagou, a voz soando mais rouca que o habitual.

Liz indicou com o olhar e Rafael virou a cabeça, observando a criança a duas camas de distância, dormindo, com alguns tubos intravenosos ligados aos braços.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, soando rude sem que percebesse.

Ele tirou a gaze que cobria o antebraço, notando a queimadura. A prova de que fora real, de que ele estava vivo e a salvo.

— Ai! — exclamou Liz ao ver, desviando o olhar daquela ferida, quando voltou a encará-lo seu antebraço estava totalmente curado. Ela arregalou os olhos e suspirou, relaxando os ombros — Você dormiu por cinco dias. Diz aí, tem tesão em experimentar a sensação da morte, não é?

Ele curvou a lateral do lábio.

— É difícil resistir, ela é muito sedutora.

Ela sorriu. Uma sensação estranha incendiou sua alma. Rafael nunca saberia que ela passara a noite naquele quarto o observando, pensando no quão estranho era querer ver bem alguém que não se conhecia e simultaneamente conhecia como se tivesse vívido anos sem ele e precisasse com urgência.

— Não respondeu minha pergunta.

Liz engoliu em seco.

— Porquê se importa?

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora