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Uma simultaneidade de sons e cores preenchia os espaços mais ocultos do Vidigal, desde pichações e grafites até a mistura de samba, funk e hip hop.
Rafael estacionou a moto e passou uma das pernas por uma das laterais, parando de pé ao lado do veículo. Retirou o capacete e as ondas do cabelo caíram molhadas sobre a face. Ele jogou o cabelo para trás, abriu o baú da moto e guardou o capacete, pressionou o cadeado até ouvir um clique.
Subiu algumas ladeiras a pé, as mãos enfiadas nos bolsos e os sentidos atentos aos movimentos mais insignificantes como o cair da folha de uma amendoeira pelo perímetro que acabara de percorrer. Um resquício de raiva forjou-se pelos neurônios de Rafael pela maneira como sua mente trabalhava. Dez anos se passariam dali e se quisesse, ele se lembraria com clareza do movimento da folha ao despencar.
Todos os olhares focaram em si quando passou pela entrada principal da casa de Liz, em sua maioria olhares femininos. As batidas da música propagaram-se por cada parte do seu corpo, como se percorressem suas veias, bombeando o sangue e a iluminação fraca dava a impressão de que as pessoas fossem vultos. Talvez alguns fossem de fato. Para demônios, aqueles adolescentes reunidos — cheios de vitalidade e inocência espiritual — eram como o aroma das flores ao olfato de um beija-flor.
A sala de estar estava lotada. As paredes produziam um equalizador às caixas de som postas uma de cada lado da televisão. Conforme abria caminho Rafael conheceu o rosto de Matheus entre alguns dos jovens com bebidas nas mãos. Haviam casais adolescentes beijando-se nas escadas e pelos cantos da casa. Várias das garotas sorriam para ele e ruborizavam quando encontravam seu olhar, algumas dançavam ousadamente à sua frente tentando capitar sua atenção e outras cochichavam com as outras conforme ele andava.
Os passos de Rafael eram calmos e calculados. Virou a esquerda e adentrou na escuridão do corredor, conduzido em parte pela intuição, como um átomo de carga positiva ao encontro de um com carga negativa. Havia uma única porta, com uma pequena brecha que permitia uma observação minuciosa. Rafael abriu-a lentamente, o rangido fora abafado pelo som alto da música.
Entre caixas de papelão e tralhas aparentemente antigas, Liz estava recostada na parede, com um dos pés sobre a mesma. A carcaça da guitarra estava sustentada sobre sua coxa e seus dedos deslizavam sobre o braço do instrumento, apertando e soltando as cordas e logo deslizando até outro conjunto de notas ligeiramente, enquanto que na outra mão segurava uma palheta entre os dedos polegar e indicador, fazendo movimentos de vai e vem pelas últimas três cordas de baixo.
Liz fazia parecer tão simples que ele teve uma pontada de inveja. Havia algo em que ele não era melhor, haviam muitas coisas, na verdade, mas Rafael morreria antes de admitir isso em voz alta.
A garota balanceava a cabeça conforme seus dedos eram possuídos por uma força incompreendida, os cachos quicavam e caíam sobre as pálpebras fechadas. Ele observou por cerca de três minutos, recostado atrás da porta fechada, descruzou os braços e bateu palmas quando ela terminou a música em uma palhetada.
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As Doze Luas - Filhos do Alvorecer
Adventure| Livro um da trilogia As Doze Luas | Lizandra Verlack estava satisfeita com sua mente cética e sua banda punk de garagem. Porém, tudo se transforma quando ao voltar de um luau, em seu aniversário, a morte vem ao se encontro. As barreiras mentais...