As figuras cercaram Alexander, perpetuando uma circunferência ao seu redor. Liz observou as massas negras girarem em volta de seu pai como um redemoinho, levantando terra do chão. Sentiu que se desse mais um passo seu coração explodiria; uma euforia paralisadora tomou conta de seus músculos. Ao mesmo tempo que seu corpo quis reagir algo no fundo de sua mente a impossibilitara de se mover.
A garota observou uma linha se formando na lateral do lábio de seu pai que logo deu origem a uma risada seca.
— Nunca gostei de brincar de ciranda, então será que podemos inovar dessa vez? — disse ele deixando escapar um leve tom de deboche. Uma linha se formou no centro da testa enquanto observava por trás dos cílios.
Liz sentiu uma mistura estranha de agonia e divertimento.
De repente as sombras originaram, como barro sendo moldado por mãos hábeis, seres encapuzados de forma humana, vestidos de armaduras negras, reluzentes como Ônix.
— Sentinelas Infernais. — sussurrou Liz, como se uma parte oculta do subconsciente houvesse imergido.
Alexander não tinha escapatória. Uma outra risada. Liz fixou a visão rapidamente em seu pai, constatando que este se encontrava tão surpreso e espantado quanto ela.
— Alexander, é bom revê-lo mais uma vez. — A voz procedera detrás de Liz. Um timbre aveludado intensamente familiar. — Ou melhor, Alec. Lembro bem que você nunca gostou de ser chamado pelo nome.
A garota virou-se dando um pulo involuntário para trás. O homem cujo falara encontrava-se poucos metros ao longe, caminhando por dentre os arbustos como um gato selvagem. Seus cabelos castanhos caíam por cima dos ombros em leves ondulações até a altura do peitoral. Vestia um sobretudo marrom completamente abotoado, as mãos enfiadas nos bolsos laterais e a gola levantada. Era possível ouvir o som de suas botas marchando sobre o tapete de folhas secas.
O olhar mórbido do indivíduo encontrou os de Liz, quase como se pudesse vê-la. Um arrepio correu por toda a sua espinha. As sobrancelhas grossas e baixas do homem davam-no um tom ainda mais sombrio em contraste com o cavanhaque e o bigode, ambos bem aparados. Não só a voz, mas o queixo fino, o nariz pontudo e a maneira de se portar deram-lhe certeza da familiaridade.
— Vitor — disse Alexander.
Liz vislumbrou a expressão de seu pai por trás do ombro. Todo o espanto se esvaíra de seu rosto e dera lugar a um semblante de ódio fervescente.
— Vitor — repetiu Liz sentindo os lábios tremerem ao pronunciar. Ela focou o olhar no homem de olhos obscuros; suas feições pareciam muito mais joviais do que na ocasião em que visitara a floricultura de Miranda.
— Não posso dizer o mesmo. — respondeu Alexander recompondo-se, como se esperando um ataque. — Como me encontrou?
Vitor sorriu brevemente.
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As Doze Luas - Filhos do Alvorecer
Adventure| Livro um da trilogia As Doze Luas | Lizandra Verlack estava satisfeita com sua mente cética e sua banda punk de garagem. Porém, tudo se transforma quando ao voltar de um luau, em seu aniversário, a morte vem ao se encontro. As barreiras mentais...