Capítulo ( 35 )

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Senti meu corpo se quebrando em pequenos pedaços. E por um longo tempo fiquei ali no chão do banheiro, chorando, purgando na água fria, minha alma, que de algum modo, estava se entregando cada vez mais a escuridão que habitava dentro de mim.

Tudo aconteceu rápido depois disso, mas para mim pareceu estar acontecendo com outra pessoa que temporariamente tinha tomado meu corpo.

Coloquei uma roupa espotiva, e quando entrei no meu quarto fui até a penteadeira, vi o colar, que havia surgido misteriosamente em meu quarto, com as pontas dos dedos acariciei o colar de metal com um pentagrama, onde estava inserido a cabeça de uma caveira com dois chifres, que eram suficientemente pontudos para extrair sangue.

Sentei sobre a cama, e apertei com mais força o colar. Cerrando os olhos, de repente surgiu em minha mente uma lembrança muito estranha.

Eu era pequena, devia ter por volta de dois anos, eu estava sentada no colo de alguém, suas mãos quentes, me abraçando. Olhei para a minha frente, e vi minha mãe, em sua mão, ela tinha um cristal, com o formato de uma lágrima de cor negra.

Ela sorriu na minha direção, antes de sibilar - Quer ver um truque engraçado?

--S..Simm-Eu disse empolgada.

Mamãe colocou o cristal na palma de sua mão. E proferiu umas palavras estranhas "Celare quod videri non potest"

De repente o cristal de lágrima negra, mudou de forma, bem diante dos meus olhos, o cristal deu lugar a um colar de metal com um pentagrama.

-Quer ver outra coisa mais bonita? Mamãe perguntou acariciando minha bochecha.

Balancei a cabeça, com um largo sorriso.

Ela olhou para o cristal e apertou o dedo indicador, num dos chifres pontudos, e murmurou naquela mesma língua estranha"indica mihi quid nisi cum sanguine" quando uma gota de seu sangue se misturou no colar de metal esse deu novamente lugar a lágrima negra.

Bati palmas, estava completamente extasiada.

Minhas mãos pequeninas tentaram de algum modo alcançar o cristal diante de mim.

Minha mãe maneou a cabeça

-Eu sei que você quer fazer esse truque, mas não agora-ela explicou calmamente - Na hora certa, você vai lembrar dessa memória.

Ela soltou um pequeno sorriso -Até lá o colar ficara com seu pai

Quando abri novamente os olhos, Senti as lágrimas derramarem como cascatas pela minha face.

Suspirei e cerrei os olhos, tentando alcançar em minha mente, mais lembranças de mamãe, que até agora eu desconhecia existir dentro de mim, mas nada mais surgiu.

Olhando o colar na minha frente, eu coloquei o dedo indicador num dos chifres, senti uma pequena picada no dedo.

Minha boca entreaberta murmurou "indica mihi quid nisi cum sanguine"

O colar na minha mão, mudou de forma, dando lugar a uma lágrima negra.

- Se você for até aos lobisomens, uma coisa muito ruim vai acontecer- A voz trémula de Amber me trouxe de volta a realidade.

Olhei para ela -Agora também consegue ler meus pensamentos-Brinquei

--Eu consigo fazer muito mais do que isso- murmurou, então ela olhou rapidamente para longe.

- Como assim? Questionei

Os olhos de Amber encontraram os meus, ela não estava tentando esconder as lágrimas que os estavam enchendo e caindo nas suas bochechas.

Lágrima NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora