Perco um teste de matemática por estar à espera de nada

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O meu nome é Ridley e perdi um teste de matemática por estar à espera de nada.

Foi assim que isso aconteceu...

Esta manhã, saí de casa e fui para a porta da escola com uma tenda daquelas que é só atirar para o chão e elas montam-se sozinhas, um saco cheia de roupa, uma pequena mochila com cenas minhas e uma mala térmica com o meu almoço. A minha professora de escalada tinha-me dado a escolher: ou ficava uma semana na escola e tinha um teste de matemática ou ia com ela e o meu primo e os colegas de escalada e orientação para uma mata acampar. A escolha foi óbvia.

A única coisa que eu não previa era que ia ser a única a chegar a horas.

Vinte e cinco minutos depois, começaram a chegar os meus colegas que não iam acampar e entraram na escola. Os meus outros colegas que iam acampar chegaram com eles e foram ter comigo.

O meu primo Harry, um rapaz de cabelo castanho, olhos verdes e pele muito morena foi ter comigo às grades da escola e começou a falar:

- Vieste por causa do teste, não foi?

- Não, nem por isso. Não é que não goste de estar no meio da floresta, até gosto, mas não sou boa a matemática. E, achas que eu ia perder um acampamento? A última vez que acampei foi porque a minha mãe não encontrou nenhum hotel com vagas.

- E também há a canoagem.

- Pois! É uma oportunidade única! Provavelmente nunca mais o vou fazer se os meus pais estiverem comigo!

- Tu não lhes contaste que isto tinha arborismo, pois não?

- Achas que eles me deixavam ir se soubessem que eu ia andar suspensa por um cabo em cima de restos de madeira?

- Bem pensado... Ainda bem que a autorização não vinha com programa...

- Trouxeste aquela tenda enorme?

- Sim. A professora disse que eu ia ficar com o William, o Peter, o Jack e o Anthony.

- O Anthony?!

- Aquele rapaz de orientação que anda sempre com uma guitarra.

- Tens sorte. Eu fiquei com a Marilyn e a Ella.

- Estás mesmo com azar...

A Marilyn (nem sei porque é que se inscreveu em escalada) é daquelas raparigas super convencidas que pintam o cabelo de loiro e que só querem saber de rapazes e essas coisas. Estranhamente, tem muita força nas pernas e consegue subir seis metros numa rocha sem hesitar. A Ella é como a Marilyn mas corre muito rápido e deixou o seu cabelo ficar tal como está, castanho. No entanto, nenhuma delas gosta de acampar.

A camioneta que nos ia levar ao acampamento demorou três horas. Já experimentaram ficar três horas de pé a olhar para nada enquanto os vossos colegas que estão na escola correm de um lado para o outro a rir?

Eu já.

Finalmente, a camioneta chegou. Eu e o Harry sentámo-nos lado a lado no fundo da camioneta nos últimos lugares. A Ella e a Marilyn entraram quando nos sentámos e a Marilyn gritou:

- Milagre!

Com tanto entusiasmo, arranjou força para levantar as malas todas que estavam na sua mão e foi sentar-se à minha frente. A Ella foi atrás dela e eu perguntei:

- Porque é que é um milagre?

- Ir numa camioneta quer dizer que vamos para um sítio com estradas!

- Já se estava a ver...

A viagem foi longa (aposto que nunca na vida farei uma viagem que parecesse tanto tempo embora fossem só uns quilómetros até uma pequena povoação no norte). Alguém tinha posto músicas dos One Direction em altos berros, a tentar sobrepor-se ao barulho, a Ella e a Marilyn cantavam o "Dez elefantes numa teia de aranha" e as professoras gritavam para que nos calássemos.

A camioneta parou no meio de um caminho de terra batida e nós saímos.

- Felizmente! Casinhas! - exclamou a Ella.

- Muito bem... - começou a professora. - O parque de campismo fica a... - ela começou a desdobrar um mapa. - Um quilómetro para este.

- O quê?! - admirou-se a Ella. - Mas devemos estar a vinte quilómetros da povoação mais próxima!

Avançámos pela floresta. Como era uma distância muito grande, tive de fazer rebolar a minha tenda pelo chão. A Marilyn e a Ella nem sequer pensaram em ajudar-me, aposto. Não havia caminhos, as árvores estavam tão juntas que não se via o céu e ninguém tinha iluminação porque a estavam a poupar para de noite.

Peguei na bússola que tinha no bolso (yap, eu ando sempre com ela) e concluí uma coisa:

- Hum... professora... Estamos a ir para norte.

- Como?

Eu aproximei-me da professora e vi o mapa. Tentei orientar-me pelo rio e os caminhos (não havia nenhuns mas esperava vê-los à distância com a minha visão apurada) e reparei que a professora tinha o mapa virado 90º a mais do que era suposto. Ao início, ela estava a seguir o caminho certo mas depois, tinha deixado cair o mapa e ele ficara na posição errada

Virámos à direita em direção a um pequeno rio com uma corrente forte e parámos.

O rio era no fundo de uma colina íngreme e do outro lado estava um homem de casaco vermelho e, pregada a uma árvore, havia uma tabuleta que dizia "Bem Vindos, Campistas".

ILDA - Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora