A Josie fica pendurada entre árvores

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- Aquilo é o percurso de arborismo! - disse o homem de casaco vermelho, sentando-se ao meu lado.

- Obrigada por me ajudares com a tenda. Pensei mesmo que me ia afogar... - respondi.

- Não foi nada. mas por acaso nunca vi uma tenda redonda.

- É daquelas que se montam sozinhas.

- Já agora, o meu nome é Ben.

- Ridley.

- Sempre gostei desse nome... Quanto ao percurso de arborismo, aquela parte por cima das nossas cabeças foi desativada devido a um infeliz acidente com uma rapariga chamada Ilda. Mas eu depois conto-te à noite, na sessão de histórias de terror...

- Isso não vinha no programa!

- Quem disse que havia um programa? A tua professora só te disse algumas coisas que iam fazer. Queres canja de galinha?

Comi duas empadas de galinha e um pouco da canja do Ben. Ele sabe mesmo fazer canja!

Quando todos acabaram de almoçar, o Ben levantou-se e declarou:

- Muito bem! Este é o programa para hoje: arborismo, canoagem, climbing tower e depois, uma hora livre. A seguir, vai ser o jantar, vão tomar um duche e, se quiserem, quem não quiser não precisa de participar, histórias assustadoras.

O Harry levantou a mão e disse:

- Isso podia ser na minha tenda! Há muito espaço lá dentro!

- Obrigado por essa sugestão...

- Harry, Harry Hogan. Sou o primo da Ruivinha.

Eu não queria dizer isto mas... tenho cabelo ruivo, olhos azuis, sardas e (por muito estranho que pareça) metade da minha sobrancelha direita é branca. Nunca percebi porquê mas isso não impede o Harry de gozar comigo.

O Ben guiou-nos até umas grandes escadas de madeira que davam para uma plataforma com uma caixa cheia de arnêses, capacetes, cabos e mosquetes. A professora não se deu ao trabalho de nos explicar como se punha um arnês porque andamos em escalda e sabemos isso como sabemos contar ou ler. Pusemos todos os capacetes, os arnêses e prendemos os mosquetes aos cabos e os cabos às fivelas dos arnêses.

A professora separou-nos em dois grupos de seis: William, Harry, Jack, uma rapariga de cabelo preto e olhos azuis, um rapaz moreno com óculos vermelhos e eu. O grupo estava a ser vigiado pelo Ben enquanto a professora levava os outros a fazer climbing tower.

O Ben explicou-nos como prender os mosquetes aos cabos de aço por cima de nós e usou o Harry como exemplo. O meu primo chegou até à árvore mais próxima e olhou para mim com um sorriso que dizia "tu nunca vais conseguir". Olhei para os pés dele e percebi: a trinta metros do chão estava uma grande corda bamba com a mesma espessura que o cabo de aço.

- Voluntários? - perguntou o Ben.

- Eu vou... - respondi a medo. Eu sei que tenho um pouco de vertigens mas, quanto mais rápido acabasse, mais rápido acabava a tortura.

- Eu também! - disse a rapariga de cabelo preto. - Mas só se a Ridley for comigo... quer dizer, perto de mim, para me poder distrair das alturas a falar com alguém... Percebe?

O nome daquela rapariga era Josephine May, também conhecida como Josie. Ela é um pouco assustadiça e por isso fiquei surpreendida por ela se ter voluntariado para o arborismo e, ainda por cima, para conversar comigo. Sei que provavelmente ia ter que aturar vinte minutos de gritos de pânico.

Eu e a Josie andámos pela corda bamba e fomos para uma velha plataforma redonda entre duas árvores. Via-se que ela se estava a esforçar muito por não gritar nem olhar para baixo.

Depois, seguimos por uma outra corda que "desaparecia" no meio dos ramos e fomos para uma plataforma mais pequena.

- Tu consegues, Josie!

- Podes ir... Eu tenho de beber água...

- Okay... Eu espero por ti na parede de escalada ali ao fundo, pode ser?

- Está bem...

Passei o mosquete para um outro cabo de aço por cima de um fino tronco de madeira. Deixei de ver a Josie três passos depois.

Quando ia a meio, ouvi um grito de fazer gelar o sangue. Mas não era um grito normal, este tinha ecos:

- Não quero ir! Tenho medo! Quero continuar pelo tronco! - lamentou a voz de uma rapariga.

- Não! Tens de ir! O Josh está ali! Não é difícil! - disse a voz de um rapaz.

- Mas eu tenho medo! E aquela casa? Devíamos estar a quilómetros da povoação mais próxima! Este sítio assusta-me!

- Vai! Não me digas que te

Houve uma pausa e ficou tudo silencioso, então ouvi a rapariga chorar:

- Vou cair!

E houve outro grito de gelar o sangue.

E depois outro, mas este era real:

- Ridley! Ajuda-me! Por favor! Vou cair!

Corri para a plataforma e vi uma corda verde-escura que ligava à teia. A Josie estava com o mosquete preso à última corda e o tamanho do cordão de segurança não a deixava chegar à teia.

Corri para a ajudar e gritei pelo Ben e pela professora enquanto a tentava subir. Ela tinha lágrimas de medo nos olhos e uma mancha de sangue em forma de mão na parte esquerda da cabeça.

- O que aconteceu? - perguntei quando as mãos dela alcançaram a teia.

- Eu... Perdi os sentidos e acordei aqui... Nem sei quanto tempo passou... Obrigada... Eu ia cair... Só conseguia ouvir vozes e os gritos de uma rapariga a dizer que ia cair... Não sei o que aconteceu...

- Tem calma, Josie, foram só uns segundos. Que mancha é esta?

- Senti mãos frias a agarrarem-me a cabeça mas não sei o que aconteceu...

O Ben chegou e foi ter connosco a correr (dentro do possível) e perguntou à Josie o que tinha acontecido. Ela respondeu exatamente o que me dissera

ILDA - Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora