ILDA - Sem Saída

Não fales com estranhos

Eu tinha quatro anos.

Estava a passear com os meus pais numa floresta à beira de um precipício que ia dar a um rio, a uns rápidos. Lembrava-me que ficava a quilómetros da civilização, era por isso que conseguia ver as estrelas tão bem à noite.

Lembrava-me de passar por um edifício abandonado, uma escola católica.

A escola católica.

Caminhava de mão dada ao meu pai. Ele parecia muito alto do meu ponto de vista: cabelo preto, olhos azuis, sardas... tal como eu mas com cabelo escuro. A minha mãe e a irmã, a mãe do Harry, estavam numa praia fluvial com o resto da minha família. O meu pai disse que tinha ouvido qualquer coisa vinda da floresta e quis ir lá ver.

Ouvi passos atrás de mim e virei-me. Não havia nada.

Quando me voltei a virar, o meu pai não estava lá.

Corri pela floresta à procura. Estava completamente em pânico.

Então, encontrei um homem com um casaco vermelho.

- Olá! - disse ele com um ar simpático. - Estás perdida?

- Sim...

- Eu ajudo-te... - abaixou-se para ficar à minha altura. - Como te chamas?

- Ridley.

- Que nome tão bonito. Eu sou o Ben. Onde estão os teus pais?

- Na praia. Mas o papá desapareceu.

Yah, eu disse isso. Tinha quatro anos.

- A praia fica para ali! - disse ele, apontando para a minha direita. - Vem comigo.

Eu dei-lhe a mão e segui-o até um passadiço que dava para o precipício onde tinha estado antes. A passagem era muito estreita e eu tentei passar ao lado dele.

Como eu era pequena, até dava para passarmos os dois mas eu desequilibrei-me e ele caiu para o lado. Mas o "lado" era o precipício, os rápidos...

Vi-o desaparecer em direção à água. Era muito em baixo mas consegui distinguir uma mancha vermelha na água.

E não era o casaco.

Assustada, corri para a praia o mais depressa que podia, tropeçando nos meus pés. Abracei-me à minha mãe a chorar mas não lhe contei o que aconteceu.

Nunca contei a ninguém.

Mas nunca mais falei com estranhos a partir daí.