Não era suposto dormirmos antes da caça ao tesouro mas algumas insistiram e todos o fizemos. Eu fiquei uma hora e meia deitada no saco-cama, abraçada à minha espada, a pensar quem é que ia morrer. Eu tinha de proteger alguém. O meu grupo, pelo menos isso.
A Ella e a Marilyn dormiam profundamente, quase não ouvia a respiração delas. Será que estavam mortas? Será que a Ilda estaria aqui, dentro da nossa tenda?
Essa ideia assustou-me tanto que me encolhi, abracei mais a espada e sustive a respiração. Então, o Ben abriu o fecho da tenda e disse-nos para nos levantarmos. Era quase meia-noite.
Estava tão assustada, não sei se conseguiria passar a noite inteira sem dar em maluca sabendo que um de nós ia morrer.
Quando saí da tenda, já conseguia sentir o óbvio se-um-de-vocês-me-matar-eu-mato-vos e o clássico um-de-vocês-é-o-assassino-e-se-me-tentarem-matar-isso-vai-ser-a-última-coisa-que-vão-fazer. Todos tinham as armas na mão e estavam prontos para matar se fosse preciso.
Corremos para a clareira onde começava o percurso militar e esperámos pelo sinal.
Quando o relógio do meu telemóvel deu 00:01 (o meu relógio não é muito bom e desacerta-se sozinho), o meu telemóvel tocou e eu atendi.
- Sim?
A minha voz tremia e eu não sabia se era capaz de segurar firmemente o telemóvel durante muito mais tempo.
- Ilda?
- Sim?
- Comecem.
Já me tinha preparado para ouvir aquilo, aliás, tinha-me estado a mentalizar para isso a noite inteira, mas aquilo era diferente. A voz já não era a de uma doce e simpática adolescente que se tinha zangado, era como se um monstro rugisse a palavra "comecem". Era arrepiante.
Todos seguraram bem as armas, prontos a defenderem-se, e acenderam as lanternas.
Eu também acendi a minha mas a luz era fraca porque estava quase sem pilhas.
- Então... - começou o Otto. - Já alguém pensou nos grupos ou a Ilda vai dividir-nos? Não havia qualquer menção a isso na carta...
Eu olhei à minha volta e vi dez lanternas normais e uma daquelas que se pode pendurar, que parecem uma tigela com uma tampa de panela (é estranho descevê-la assim mas era o que me fazia lembrar) e que davam uma luz vermelha que variava entre "fraco", "médio", "forte" e "a piscar". A Hope não tinha oficialmente uma lanterna, ela tinha um antigo suporte para velas com uma velinha com cheiro a canela lá dentro.
- Porque é que tens um suporte para velas? O fantasma pode aparecer e ela apaga-se! Tu não vês filmes?! - disse o Anthony. - E onde é que foste arranjar isso? Numa loja de cenas em segunda mão ou assim?
- Hum... O meu irmão roubou-a de uma exposição de antiguidades...
- A tua família é doida!
- Diz o tipo com uma lanterna vermelha que parece uma panela.
Ainda bem que não sou a única!
- Há alguém ali em baixo! - gritou a Josie.
Instintivamente, eu, a Josie, o Harry, a Hope, o Otto e o Anthony descemos para o túnel. Ouvimos algo arrastar e virámo-nos para cima.
Alguém tinha posto uma tampa de esgoto no buraco. Do outro lado ouvíamos os gritos aflitos dos outros como se estivesse lá um assassino com eles. Provavelmente até estava.
Foi aí que soube que aquele que morreria seria do grupo deles.
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ILDA - Sem Saída
ParanormalRidley é apenas uma comum rapariga do sétimo ano que vai passar uma comum semana num comum campo juntamente coma sua comum turma. Mas quando começa a receber chamadas de alguém que pergunta por uma Ilda, as coisas começam a ficar estranhas. Fantasma...