Recebo chamadas num sítio sem rede

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Pisquei os olhos e a rapariga desapareceu. Talvez estivesse a alucinar...

- O. Que foi. Aquilo? - perguntou a Josie num sussurro.

- Não sei nem quero saber...

De repente, ouviu-se uma música sinistra e suave. Um órgão de tubos a tocar a Ouverture do musical "O Fantasma da Ópera".

- Mas que raio?! O que é isto?! - perguntou a Hope, assustada.

- Acho que é o meu telefone! - exclamei, tirando-o da bolsa. Também tirei a câmara de filmar e dei-a ao Harry. - Acabo de receber uma chamada num sítio sem rede a quilómetros da civilização, regista isto em vídeo.

Atendi a chamada. Era de um número privado e isso tornou tudo mais interessante:

- Estou? - disse eu.

- Ilda? Estás bem?

- Foi engano, minha senhora. Não conheço nenhuma Ilda.

- Não brinques comigo, Ilda. Eu sei que és tu. Tenho o número nos contactos.

- A sério, minha senhora, o meu nome é Ridley, não é Ilda.

- Já te disse para parares! Estou preocupada contigo!

- Mas o meu nome não é Ilda!

- Morrer fez-te mal à cabeça, Ilda...

Atirei o telemóvel para a outra ponta da clareira sem desligar a chamada e virei-me para a câmara:

- "Morrer fez-te mal à cabeça"?!

- Pode ser uma partida por telefone... - sugeriu o Anthony sem acreditar muito no que dizia.

- Estamos num sítio sem rede. Quem é que me ligou? Alguém sabe?

Ninguém respondeu. Era estranho que uma mulher me tivesse ligado a meio da noite a perguntar-me se eu estava bem. O pior era que ela pensava que eu me chamava Ilda.

- Harry, filma isto! - disse o Ben virando a câmara para ele. - Então... Há dez anos, quando eu tinha a vossa idade, estive aqui como vocês a acampar durante dois dias. No meu grupo estava uma rapariga chamada Ilda. Ela tinha muito medo que lhe acontecesse alguma coisa. Quando estávamos quase a ir embora, fomos fazer a última atividade...

- Arborismo... - concluí.

- Sim. Naquela altura, a teia de corda ainda não estava fechada. Eu fui com ela fazer o percurso e, quando chegámos à entrada da teia, ela disse que não queria ir e eu respondi que todos os outros estavam do outro lado e que a mãe dela gostaria de saber que ela perdera o medo das alturas. Quando ia a meio, estava quase a cair e eu fui ajudá-la. O mosquetão dela estava preso e não a deixava avançar. Eu fui ajudá-la mas, antes que pudesse fazer alguma coisa, o mosquetão abriu e partiu-se. Ela... bem... caiu e...

- Morreu? - tentou o Harry.

- Sim.

- Estás a brincar?! A Josie quase morreu pendurada na teia por um fantasma e a culpa é tua?! - gritou o Anthony, furioso.

- A culpa não foi minha! Na teia não se usa mosquetão e o dela estava aberto e ficou preso, e, consequentemente, partiu-se!

- Um fantasma, é o que eu digo... - concluiu o Jack.

- Tive uma ideia! - declarou a Hope tirando um pequeno livro da mochila.

ILDA - Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora