Acabámos e percurso (era mesmo estranho, sentíamos sempre uma presença)e, para nossa surpresa, chegámos ao final sem nos acontecer nada.
Mas o final era a melhor parte de todas. Um pouco acima do sítio onde tínhamos feito canoagem, havia uma praia fluvial! Era mesmo o que nós precisávamos...
O Otto atirou os óculos para o chão, ajoelhou-se e lavou a cara com a água cristalina. Eu pensei que ele precisava mesmo de óculos, visto que tivera muito dificuldade em focar o mosquetão para o prender aos cabos no arborismo. Pelo menos foi o que ele me disse.
- Tu não precisas de óculos? - perguntei.
Ele virou-se para mim e afastou o cabelo castanho da cara.
- Não... - pegou nos óculos e foi até mim. - Estás a ver? Não têm graduação nenhuma. Só me dão um ar inteligente.
- Nisso tens razão. Mas estás a dizer que andas a correr por aí e a escalar com uma coisa pesada na cara que é absolutamente dispensável?!
- Basicamente.
- Isso não é muito inteligente...
- Não. Mas não fico muito bem sem óculos. Vês?
Demorou alguns minutos mas ouvimos um grande conjunto gritos histéricos vindos do mato e pensei que a Ella, a Marilyn e a Carly tinham lido o bilhete mas depois reparei que eram quatro vozes.
- O William, definitivamente o William... - concluiu o Harry.
Eu ri-me da cara séria que ele fazia, onde um sorriso animado lutava por aparecer. Ele tinha os joelhos molhados e cheios de areia e estava com um ar mesmo engraçado.
Pouco depois, a equipa B chegou à praia juntamente com o Ben e a professora.
- Meninos, devido ao... incidente das armas mortais encontradas durante o percurso, as atividades do resto do dia serão canceladas mas continuaremos a ter a caça ao tesouro noturna.
Incidente?! Quanto mais tempo passava naquele parque de campismo, mais desconfiava de todos os adultos.
Exceto o Ben, todos nós confiamos no Ben.
Voltámos para as nossas tendas e começámos a tirar os sapatos. É uma regra estranha mas perfeitamente justificável porque vamos ficar aqui muito tempo e não queremos ter de andar a lavar e a limpar as tendas.
O Otto, que estava a usar sapatilhas de velcro, saiu da tenda com a Hope a gritar. Eles seguravam uma pequena caixa de madeira e um frasco com um pó branco em grande quantidade.
- O que foi?! - perguntei, correndo para eles
- Isto são as coisas que estavam na mesa, Rids! - explicou o Otto, visivelmente assustado. - Vai ver na tua tenda!
Corri para dentro da minha tenda sem me importar em tirar os sapatos.
Havia três sacos-cama alinhados que ocupavam o espaço todo exceto a parte do fundo e a "entrada". A "entrada", como eu gosto de chamar-lhe, é um pequeno compartimento à entrada da tenda onde pomos as mochilas, os casacos e os sapatos.
Mas o que me chamou mais a atenção foi o que estava em cima dos nossos sacos-cama. O meu era o do canto direito e tinha uma espada exatamente igual à que encontrámos em frente do alvo. O da Ella, o do meio, tinha a pistola e o da Marilyn, o arco e a caixa comprida.
Peguei na espada e saí da tenda. Toda a gente parecia ter feito o mesmo.
Havia dois exemplares de cada arma, um para cada grupo. Eu e o Peter tínhamos uma espada, o Anthony e o William tinham uma corda, o Otto e a Carly tinham o veneno, a Josie e a Marilyn tinham um arco e uma caixa de flechas, a Hope e o Jack tinham as caixas de facas e o Harry e a Ella tinham as pistolas.
A Hope abriu a caixa e viu um bilhete colado à tampa.
- Lê! - pediu o Harry.
Visto que não se dignaram a aceitar a minha gentil oferta de armas mortais, tive de as distribuir eu mesmo/a. Vejo que têm uma persistência incrível para miúdos do nono ano.
Agora, falando de um assunto mais sério, confundi-me e deixei sete armas mortais em cima da mesa. Quem descobrir a minha identidade, fica com ela: os dardos envenenados. Até lá, acho que os vou usar em vocês. Como já disse, alguns são mortais e outros, tranquilizantes. O problema é que eu não sei quais são quais. Nem tenho a certeza de há dardos tranquilizantes.
Rezem para que pegue num tranquilizante esta noite ou um de vocês vai passar a sua última noite neste mundo.
Antes de ir para o Inferno, claro. O Inferno parece muito divertido para pessoas como vocês, não acham?
Continuando, se não forem fazer a vossa tão esperada caça ao tesouro, penso que terei de vos matar nas vossas tendas.
Mas qual seria a diversão nisso?
Vou organizar a minha própria caça ao tesouro: vou dividir-vos em dois grupos e espalhar enigmas pela floresta. Quando resolverem um enigma, vou dar-vos uma pista de onde estou e de quem vou matar. Mas a resposta certa pode ser muito dolorosa para alguns...
Se chegarem ao lugar que escolhi e eu já tiver morto a pessoa que escolhi, a Ridley recebe uma chamada a avisar. Se um dos grupos chegar ao sítio antes de eu matar essa pessoa, ela não morre e retiro-vos três armas mortais.
Já que perguntam (eu sei que perguntam) se um de vocês morrer, o Ben fica com a arma dele.
Aceitem as minhas regras e morrerão um a um. Posso até deixar sobreviventes se me sentir bem disposto/a.
A caça começa exatamente à meia noite na clareira com a entrada do túnel subterrâneo. Saberão as horas quando eu telefonar à Ridley e disser "comecem".
Até lá, acho que deviam procurar a vossa professora.
A Ilda tinha uma obsessão comigo e isso dava-me a impressão que me conhecia ou que me mataria em último lugar.
E algo naquela carta me deixou confusa.
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ILDA - Sem Saída
ParanormalRidley é apenas uma comum rapariga do sétimo ano que vai passar uma comum semana num comum campo juntamente coma sua comum turma. Mas quando começa a receber chamadas de alguém que pergunta por uma Ilda, as coisas começam a ficar estranhas. Fantasma...