Aprendo a nadar da pior maneira

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Debaixo da água os sons são estranhos, distorcidos, misturados e um pouco vazios. Dão-nos aquela sensação de que estamos completamente sozinhos mesmo vendo as pernas dos nossos colegas parados na água a ver se eu ia à superfície como cadáver ou não.

Porque é que nenhum deles se lembrou de me vir ajudar?

Acho que a Hope e o Otto não sabiam qual era a profundidade do rio porque se soubessem não tinham vindo para aqui.

Queria alcançar a canoa mas estava muito longe.

Conseguia ouvir os outros a gritarem mas eu estava calma. Não conseguia nadar e, se ia morrer, ia morrer com uma expressão calma. Não é que gostasse dessa ideia: morrer.

Abaixei-me.

Vi uma coisa brilhante no fundo do rio e abaixei-me.

Um... Mosquetão aberto e partido e, perto dele, um grande "B".

Fiquei muito assustada e tentei gritar mas só consegui soprar e fui parar à superfície e gritei com todas as minhas forças.

O Ben entrou no rio e foi a nadar para mim.

- O que foi?!

- Estava ali!

- O quê?!

Não consegui dizer nada.

Eram demasiadas surpresas para quem quer que fosse: um mosquetão aberto e partido estava no fundo do rio, estava a receber chamadas de uma pessoa morta, havia um vulto na floresta, tinha aprendido a flutuar na água por causa de um susto, uma pessoa tinha morrido a fazer arborismo por causa do Ben, a Josie ficara pendurada na teia... Era demais para mim. Já era a segunda vez que ia parar ao rio e estava farta. Ia tomar duche e esperar até ser de noite.

- Chega! - gritei. - Estou farta! Não aguento mais! Esta fantasma está a pôr-me doida!

Fui rapidamente até à margem e reparei numa outra coisa: tinha aprendido a nadar.

ILDA - Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora