3. Sorriso.

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3:46 am

Eu estava encolhida no sofá da sala escura, apenas com um abajur ligado no tom quente em uma estante ao meu lado. Apesar do horário, a cidade lá em baixo estava colorida na minha visão do septuagésimo sexto andar do edifício o qual eu estava; estava tremendo, mas eu não sentia frio.
Fazia mais de duas horas que eu havia recebido uma ligação com notícias, a aflição havia tomado conta de mim, mas nenhuma lágrima havia escorrido.
O som que meu celular emitiu ao tocar quebrou o silêncio, e ao final do primeiro toque eu atendi.
Você está bem aí? Não quer que eu mande alguém para ficar com você?
- Eu quero notícias, já faz duas horas que você me ligou e ainda não disse nada.
• Eu não tenho mais notícias, o socorro disse que eles ligaram de uma estrada mais para o sul, e que quando estavam rastreando a ligação ouviram pneu cantando, um barulho e a ligação caiu. - a voz masculina contou do outro lado.
- Você já disse isso, mas não é possível que não tenham encontrado eles ainda. - minha voz baixa, lenta, irritantemente trêmula. - Já faz horas, eles podem estar machucados, jogados em algum lugar.
A baixa iluminação não ajuda com resgates noturnos, você sabe disso. - disse a voz do outro lado. - Ele é meu irmão, também me preocupo e por isso eu achei melhor que você soubesse. Eu não estou escondendo nada de você. Confie em mim, vou ligar quando o encontrarem.
Respirei fundo e engoli a seco.
- Tudo bem, eu vou continuar esperan...
O que? Onde? - ouço do outro lado da linha.
- Alô? O que foi?
Espera. - se fez silêncio por longos segundos do outro lado até finalmente eu ouvir: - Encontraram eles, levaram eles para um hospital.
- Aí, meu Deus. - respirei aliviada e preocupada ao mesmo tempo. - Ele está bem? E os outros? Para que hospital levaram eles?
Ouvi o barulho da fechadura da porta sendo aberta e a luz do corredor entrou; meu coração se aqueceu quando ele acendeu a luz.
- Ele acabou de chegar aqui. - disse ao celular. - E-eu desligar.
Finalizei a ligação sem esperar resposta do outro lado da linha e tirei as pernas do sofá, cobri o rosto com as mãos e respirei fundo e devagar algumas vezes tentando acalmar minha frequência cardíaca.
Ouvi o barulho da penca de chaves sendo pendurada e a porta de fechando, ouvi passos equivalentes a duas pessoas.
- Pode subir, o quarto de hóspedes fica a direita. - ouvi ele dizer. E os passos de alguém se afastando.
Me levantei e caminhei devagar ao seu encontro e ele ao meu, então o abracei.
Ele cheirava a ferro, óleo, sangue e terra úmida. O contato físico com ele me fez parar de tremer, mas desbloqueou o que eu mantive em controle até o momento. Tirei os braços dos seus ao redores e cobri o rosto com as mãos afundando em seu peito; eu chorei, dolorosa e silenciosamente.
- Está tudo bem. - ele disse. - Não foi nada de mais, eu estou bem.
- Eu fiquei com tanto medo. - gemi abafado entre o choro. - Fiquei apavorada por não saber o que aconteceu.
Ele me apertou em seu abraço.
- Houve alguma coisa com os cabos dos freios, a perícia vai investigar o que aconteceu. - ele contou. - Mas eu estou aqui, estou bem. Os caras estão bem também.
Engoli o choro e me afastei uns centímetros para olha-lo, seu rosto estava sujo e machucado, suas roupas igualmente sujas e rasgadas. Havia sangue em sua camisa, escoriações pelo rosto e braços.
- Olha só para você. - acariciei seu rosto passando levemente o dedo por um curativo acima de sua sobrancelha esquerda. - Deveria estar em um hospital.
- Eu não ia ficar em um hospital por causa de uns arranhões, mandaram um enfermeiro comigo para me monitorar pelos próximos dois dias. - ele indicou o corredor, o que me fez associar a pessoa que chegou com ele. - Todos nós só sofremos uma concussão mediana, e eu não podia deixar você aqui sozinha depois que meu irmão disse que você veio para ca. Ele não deveria ter te ligado, deve ter te confundido com minha mae ou alguma santa milagrosa. Fez você vir para cá, e olha só como você está.
Ele se referiu ao meu conjunto de pijama moletom de Pucca - e talvez também a minha feição abatida.
- Me confundido com sua mãe porquê? - dramatizei. - Acha que eu não me importo o suficiente? Ou que eu sou velha de mais?
Ele sorriu e me abraçou. - Você sabe que nossa diferença de idade nunca me incomodou.
- Vai chegar um momento que ter quatro anos a menos vai te incomodar, principalmente quando eu for uma velha rabugenta. - falei abafado em seu abraço.
Ele gargalhou e se auto interrompeu com um gemido segurando a lateral do corpo.
- Não me faz rir, não.
- Vem, vamos, você precisa tomar um banho. - passei um de seus braços pelos meus ombros e fui andando devagar com ele até o quarto.
- Me conta como foi lá na casa com o BTS. - ele pediu.
Meu coração gelou.
- Ah, foi tudo normal. Música, dança, brincadeiras, piadas. Nada de mais. - guardei o que não precisava ser dito. - Na verdade eu já estava ficando entediada lá.
- Ah, fala sério. Você esperou tanto para esse dia chegar. - ele disse, e gemeu ao subir as escadas com meu apoio.
- Deixa esse assunto para lá, vamos subir. - joguei o assunto num baú e o enterrei.

v1 - Not celebrity • STAY ARMYOnde histórias criam vida. Descubra agora