29. A PRÁTICA DA CARIDADE

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De todos os meios de encontrarmos a cura para os nossos males, o trabalho em benefício do nosso próximo, é um dos que fazem parte do conjunto de metas de maior importância para a obtenção desse objetivo.

Ao longo de toda história humana, pudemos observar que sempre existiram pessoas que se destacaram no serviço ao próximo. Todas elas vivenciaram à prática da caridade, muitas vezes sacrificando mesmo a própria existência física para auxiliar seus irmãos. Esses são Espíritos abnegados, emissários Divinos, que, por já terem alcançado a compreensão do que é ser filho de Deus, marcham intrépidos, em direção ao serviço no campo do bem. Todos eles deixaram um legado digno de ser admirado e de ser seguido por todos nós.

A caridade está, como nos ensinam os Espíritos superiores, ao alcance de todos. Todos nós podemos dar algo a alguém, sem que haja interesses particulares ou que se espere um retorno. E por estar ao alcance de todos, não existirá, jamais, alguém que possa afirmar que nunca teve a chance de servir a seu próximo.

O Espírito Joanna de Ângelis conceitua assim a caridade:

"Virtude por excelência, constitui a mais alta expressão do sentimento humano, sobre cuja base as construções elevadas do espírito encontram firmeza para desdobrarem atividades enobrecidas em prol de todas as criaturas.

Vulgarmente confundida com a esmola – essa dádiva humilhante do que sobeja e representa inutilidade – a caridade excede, sobre qualquer aspecto considerada, as doações externas com que supõe em tal atividade encerrá-la.

Sem dúvida, valioso é todo o gesto de generosidade, quando consubstanciado em dádiva oportuna ao que padece tal ou qual aflição, lenindo nele as exulcerações físicas ou renovando-lhe o ânimo, com que o fortalece para as atividades redentoras. Entretanto, a caridade que se restringe às oferendas transitórias, não poucas vezes pode ser confundida com filantropia, esse ato de amor fraterno e humano que identifica certos homens ao destinarem altas somas que se aplicam em obras de incontestável valor, financiando múltiplos setores da ciência, da arte, da higiene, do humanismo...

A caridade para ser praticada nada exige, e, no entanto, tudo oferece. Pode ser caridoso o homem que nada detém e é capaz de amar até o sacrifício da própria vida. Enquanto que o filantropo se exalça, mediante o excedente de que salutarmente se utiliza, na preservação do bem, na edificação da beleza, na manutenção da saúde.

Para a legítima caridade é imprescindível à fé, sem o que não lobriga a transcendente finalidade. Sem embargo, para a aplicação filantrópica basta um arroubo momentâneo, uma motivação estimulante, uma explosão idealista. A caridade é, sobretudo cristã e esteve sempre presente em toda a vida de Jesus, seu insuperável divulgador e expoente, porque repassava todas as suas doações com inefável amor, mesmo quando visitado pelo impositivo da energia.

A filantropia, não obstante o valioso tributo de que se reveste, independe da fé, não se caracteriza pelo sentimento cristão, é irreligiosa, brotando em qualquer indivíduo, mesmo entre déspotas ou estroinas, vaidosos ou usurpadores, o que significa já avançado passo de elevação moral.

Enquanto uma é humilde e se apaga, ocultando as mãos do socorro e reconhecendo não haver feito tudo quanto deveria, a outra pode medrar arbitrariamente, recebendo o prêmio da gratidão e o aplauso popular, engalanada na recompensa da referência bajulatória ou imortalizada na estatuária e nos monumentos, igualmente transitórios...

Inegavelmente, é melhor para o homem promover, fazer, estimular o bem e desenvolver a felicidade geral, do que, disfarçando-se para fugir do dever de ajudar, através de falsos escrúpulos nada produzir, coisa alguma realizar.

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