30. A VIVÊNCIA DAS LIÇÕES DE JESUS NO COTIDIANO

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Como todos nós sabemos, Jesus, propriamente, não deixou nada escrito sobre absolutamente nada. Entretanto, ele sabia que os Espíritos que, missionariamente com ele encarnaram, além dos que ficaram no plano espiritual dando o apoio necessário ao cumprimento de sua tarefa, iriam providenciar para que a humanidade tivesse como estudar e aprender sobre a boa nova. Sabiamente, Jesus deixou que os próprios homens escrevessem sobre os seus ensinamentos, da forma como eles puderam compreender, pois só assim eles poderiam falar a mesma "língua" da humanidade de acordo com a época em que viviam. Daí o motivo de termos mais de uma fonte do evangelho, escrita por discípulos diferentes. E não estamos nos referindo apenas aos quatro evangelistas conhecidos, pois, como já sabemos, muitos outros evangelhos foram escritos mas, em virtude de interesses religiosos, foram relegados ao esquecimento.

Apesar de toda a deficiência da forma como os evangelhos foram escritos, e isso graças as limitações dos evangelistas, que relataram os fatos de acordo com o que compreenderam, todos nós podemos encontrar nesses ensinos do Mestre, uma bússola norteadora; um verdadeiro mapa que conduz ao caminho da felicidade. Sendo assim, nos dias atuais, com a continuidade da missão de Jesus, que não se limitou até o ato de sua crucificação, o homem hodierno, graças também ao progresso intelectual que já obteve com as experiências vividas, pôde encontrar subsídios para vivenciar as lições de Jesus em seu cotidiano.

Na obra, O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é onde podemos encontrar as lições de Jesus, Kardec a inicia com as seguintes explicações:

"Podemos dividir as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as profecias; as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja; o ensino moral. Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de discussões, a última permanece inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.

Todo o mundo admira a moral evangélica; todos proclamam a sua sublimidade e a sua necessidade; mas muitos o fazem confiando naquilo que ouviram, ou apoiados em algumas máximas que se tornaram proverbiais, pois poucos a conhecem a fundo, e menos ainda a compreendem e sabem tirar-lhe as consequências. A razão disso está, em grande parte, nas dificuldades apresentadas pela leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, faz que a maioria o leia por desencargo de consciência e por obrigação, como lê as preces sem as compreender, o que vale dizer sem proveito. Os preceitos de moral, espalhados no texto, misturados com as narrativas, passam desapercebidos. Torna-se impossível apreender o conjunto e fazê-los objeto de leitura e meditação separadas.

Fizeram-se, é verdade, tratados de moral evangélicos, mas a adaptação ao estilo literário moderno tira-lhe a ingenuidade primitiva, que lhe dá, ao mesmo tempo, encanto e autenticidade. Acontece o mesmo com as máximas destacadas, reduzidas a mais simples expressão proverbial, que não passam então de aforismos, perdendo uma parte de seu valor e de seu interesse, pela falta dos acessórios e das circunstâncias em que foram dadas...

Primeiros Passos na Doutrina Espírita - Volume IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora