Capítulo 3

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CHEGADA EM MOSCOU, 1930.

Aos onze anos, Alexander entrou com seus pais em uma pequena sala fria e sentiu náuseas quando atravessou a porta. − Que cheiro é esse, mamãe? − Ele perguntou. O quarto estava escuro e Alexander não conseguia ver bem o que tinha em seu interior. Quando seu pai acendeu a luz, ele ainda não viu quase nada, porque a lâmpada estava suja e amarelada. Alexander tapou o nariz e perguntou novamente que cheiro era aquele. Sua mãe não disse nada, tirou o chapéu e casaco, mas ao sentir frio coloco-os novamente e acendeu um cigarro. O pai de Alexander andou ao redor da sala com passos viris, sentindo-se confortável, com a mesa de madeira e as cortinas empoeiradas. − Nada mal concluiu. Ficaremos muito confortáveis. Alexander, você terá um quarto para si mesmo e sua mãe e eu vamos ficar neste. Venha, eu vou te mostrar o seu quarto. −Alexander lhe deu sua mão e saiu de trás dele. −Mas cheira engraçado, pai... −Não se preocupe. Harold sorriu. Sua mãe vai limpar tudo. Além disso, nada acontece. É só que... Um monte de pessoas vive aqui. − Ele apertou a mão de seu filho. − É o cheiro do comunismo, filho. Já estava escuro quando finalmente os levaram para a residência. Alexander imaginou que não era longe do centro, mas não poderia dizer. Com segurança haviam chegado a Moscou ao amanhecer, depois de viajarem 16h de trem de Praga. Antes tinham viajado 20 horas desde Paris, onde eles tiveram que esperar dois dias para receberem documentos, as permissões, os bilhetes de trem, não sabia o porquê. Mas ele gostava de Paris. Os adultos estavam ocupados e lhe davam pouca atenção, e ele estava ocupado lendo seu livro favorito, As Aventuras de Tom Sawyer. Toda vez que queria esquecer-se dos maiores, abria o livro e se sentia melhor. Claro que logo sua mãe tentou explicar por que ela havia discutido com o pai, e Alexander queria dizer que seu pai não veio a ele com histórias. Alexander não queria ouvir as explicações de sua mãe. Mas desta vez sim: desta vez queria uma explicação. − Cheiro de comunismo, pai? O que diabos é isso? − Alexander! Harold protestou. − Onde você aprendeu a falar assim? Sua mãe e eu não usamos essas palavras ruins. Alexander não gostava de criticar seu pai, mas ele queria lembrá-lo que, quando eles discutiram, Jane e ele falavam palavras como aquelas e outras piores. Seu pai agia como se estivessem na sala ao lado ou em frente de seu filho. Em Barrington, o quarto dos pais era no fim do corredor, no andar de cima, bem longe do seu quarto, e nunca ouvia uma palavra. E assim deve ser.

− Por favor, pai − ele insistiu − o que é esse cheiro? − São os banheiros, Alexander − seu pai respondeu desconfortável. − E onde estão eles? Alexander perguntou, olhando ao redor da sala. −Aqui não. Eles estão perto, no corredor. − Harold sorriu − Olhe o lado positivo: você não precisara ir muito longe se acordar no meio da noite. Alexander deixou cair a mochila e tirou o casaco. Não se importava que estivesse frio. Não iria dormir com o casaco. −Pai − disse, respirando pela boca para conter as náuseas. – Não sabes que nunca acordo no meio da noite? Eu tenho um sono muito profundo. Na sala havia um berço coberto com um cobertor de lã. Quando Harold se foi, Alexander olhou para fora da janela para ver o que estava fora. Estava muito frio em Moscou. Era dezembro e a temperatura estava abaixo de zero. Perscrutando a rua do segundo andar, Alexandre viu que no chão de um dos portais dormiam cinco pessoas. Ele deixou a janela aberta. Fazia frio, mas não se importou. Ele preferia que o quarto fosse arejado. Saiu para o corredor, mas não conseguiu entrar na casa de banho e decidiu ir à rua. Retornando despiu-se e foi para a cama. O dia tinha sido longo e Alexander levou apenas alguns segundos para cair no sono, mas teve tempo para se perguntar se também haveria o cheiro do capitalismo.

                                                                                 

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora