Capítulo 4

105 7 0
                                    


CHEGADA À ILHA DE ELIS, 1943.

Tatiana saiu da cama e foi até a janela. Era de manhã e a enfermeira em breve ia trazer o bebê para dar-lhe de mamar. Ela puxou as  cortinas, retirou a trava e tentou levantar a janela, mas não pôde abrir, porque tinha secado um pouco de tinta branca entre o marco e a parede. Empurrou mais forte para abri-la, puxou para cima e colocou a cabeça para fora. Era uma manhã quente e cheirava a água salgada. Água salgada. Tatiana respirou fundo e sorriu. Ela gostava do cheiro. Era diferente de outros odores que eram familiares. Gaivotas cortavam o ar com seus gritos e também lhe pareciam familiares. Mas a visão não era familiar. Sob a névoa da manhã, as águas do porto de Nova York eram como um vidro esverdeado. No fundo os arranha-céus, e à direita, entre a névoa onipresente, uma estátua que levantava uma tocha acesa.

Tatiana sentou-se à janela e olhava fascinada os edifícios que estavam do outro lado da água. Eles eram tão altos e tão bonitos! A linha do horizonte era formada por inúmeras torres e blocos proclamando o poder da humanidade mortal sobre os céus imortais. Os pássaros que voavam no ar, a quietude da água, a grandeza de arranha-céus do outro lado do porto e a verde superfície da baía aberta até o Atlântico, isso foi o que viu Tatiana, até que começou a bater o sol em seus olhos e teve que sair. O porto foi se animando quando entraram barcaças e navios de carga e todos os tipos de embarcações, soando apitos e sirenes em um clamor tão violento que Tatiana estava prestes a fechar a janela. Mas não a fechou. Sempre quis ver o mar. Ela tinha visto o Mar Negro e o Mar Báltico e muitos lagos, incluindo um tão grande quanto o Ladoga, mas nunca o oceano, e o oceano Atlântico, era precisamente o oceano que tinha cruzado Alexander quando pequeno, quando zarpou da costa americana entre os fogos do 4 de julho. Não faltam poucos dias para a celebração? Talvez pudesse ver os fogos de artifício. Perguntaria a Brenda sua enfermeira, uma mulher bem antipática, que informava tudo com brusquidão, cobrindo a metade do rosto com uma máscara que a protegia de Tatiana. − Sim − respondeu Brenda à sua pergunta. − Haverá fogos de artifício. Faltam dois dias para o 4 de julho. Não será tão espetacular como antes da guerra, mas algo haverá. Mas por que está interessada em fogos? Está a menos de uma semana nos Estados Unidos e você já me pergunta isso? Você tem que pensar é em recuperar-se e proteger seu bebê contra infecções. Você já saiu para um passeio? Você sabe que o médico lhe disse para sair de vez em quando e que tapasse o rosto para não tossir sobre a criança e que não o levasse no colo para não se cansar. Você saiu? E o café da manhã? − Tatiana pensou que a enfermeira sempre falava muito rápido, como se ela não quisesse que a entende-se. Mas nem mesmo a presença de Brenda poderia arruinar o seu desjejum: ovos, presunto, tomate e café com leite normal ou desnatado. Tatiana devorou -o sentado na cama. Ela teve que admitir que a suavidade do colchão, lençóis macios e cobertor de lã grossa eram comodidades tão básicas como pão. − Poderia trazer meu filho? Eu tenho que alimentá-lo. Tatiana notava seus seios transbordando. Brenda fechou a janela com um golpe. − Não volte a abri-la novamente, − alertou. − A criança pode pegar um resfriado. − Resfriar-se? Com a brisa de verão? − Respondeu Tatiana, rindo.

− Sim, pela umidade. − Mas você acabou de me dizer que eu deveria sair. . − Uma coisa é o ar do lado de fora e outro o de dentro, − disse Brenda. − A criança não tem tuberculose como eu − disse Tatiana, e tossiu alto para dar ênfase às suas palavras. − Traga-o, por favor. Depois de alimentar a criança, Tatiana voltou outra vez para a janela e sentou-se na soleira com o bebê nos braços. − Olha Anthony − sussurrou ao ouvido do bebê em sua língua nativa. − Você vê? Você vê a água na baía? É bonita, não é? E do outro lado do porto, há uma cidade muito grande, cheia de gente, ruas e parques. Quando estiver melhor, subiremos a um daqueles (transportadores) e daremos um passeio por Nova York. Você vai gostar Anthony? − Tatiana acariciou o rosto da criança e olhou para o horizonte. − Seu pai teria adorado − sussurrou.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora