Capítulo 5

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A VIDA NA ILHA DE ELIS, 1943.

Tatiana aproveitando que tinha pouca coisa para fazer além de repouso e recuperar-se, decidiu ler para melhorar seu conhecimento do idioma. Na pequena, mas bem sortida biblioteca de Elis haviam livros em inglês doados por enfermeiros, médicos e outros benfeitores, bem como algumas obras em russo, Maiakóvski, Gorki, Tolstoi... Tatiana levava livros para o quarto, mas era difícil concentrar-se lendo em Inglês, e quando não se concentrava lhe vinha à mente cenas de gelo e sangue, misturadas com imagens de aviões e bombas, de mulheres tecendo e costurando, mães olhando atônitas as bolsas continha os restos mortais de seus filhos, irmãs mortas de fome e de frio jogadas em uma pilha de corpos, de irmãos que desapareceram no incêndio de um trem, de pais que tinham acabado carbonizados, de avôs que morreram com os pulmões infectados, de avós que morriam de pena . Uma superfície branca, uma poça de sangue, um cabelo preto e encaracolado, uma bola de beisebol oficial caída no gelo... as imagens eram tão vivas que Tatiana não teve escolha senão levantar-se, cambalear para fora da sala e vomitar no banheiro comum e na volta esforçar-se para manter a prática de ler em Inglês, com concentração necessária para evitar ser arrastada para o lugar onde seu coração não conseguia parar de bater agitado no buraco aberto no meio do seu peito, oco, muito parecido com o medo de lhe inundava o corpo inteiro quando fechava os olhos. Então tirava Anthony do berço e colocava-o em seu colo para sentir conforto na sua proximidade. No entanto, nem o cheiro doce de pele da criança e a suavidade de seu cabelo escuro poderia impedir a mente de Tatiana de começar a vagar novamente. Se apenas... Apesar de tudo, gostava sentir o cheiro de seu bebê. Gostava de despi-lo, quando não estava frio e acariciar seu corpinho rosado e rechonchudo. Gostava de cheirar seu cabelo e pescoço e cheiro leitoso de sua respiração. Gostava de colocar o rosto para baixo e esfregar as costas e as pernas e os pés pequenos e cheirar o pescoço longo. A criança dormia tranquilamente, alheio ao toque de sua mãe. – Essa criança acorda em algum momento? Perguntou um dia o Dr. Edward Ludlow. – É como um leão - respondeu Tatiana em seu inglês balbuciante. – Ele dorme 20 horas por dia e de noite acorda para caçar. – Parece que você está melhor. - Edward sorriu. Já está brincando. Tatiana deu-lhe um sorriso fraco. Dr. Ludlow era um homem magro, elegante, que nunca levantava a voz e nem agitava as mãos. Seus olhos, sua fala e movimentos transmitiam serenidade. Sabia que a expressão ficar junto ao lado da cama do enfermo, era um elemento essencial para ser um bom médico. Andava pelos trinta e tinha porte tão erguido que Tatiana estava convencida de que era militar. A seriedade de seus olhos lhe inspirava confiança. Um mês atrás, quando Tatiana chegou ao porto de Nova York, Dr. Ludlow tinha ajudado no parto. Agora passava todos os dias para perguntar como ela estava, mas sabia por Brenda que o Dr. trabalhava apenas dois dias por semana no Ellis. – É quase hora do almoço - Edward disse depois de olhar para o relógio. Se você se sente bem, você gostaria de dar um passeio para o refeitório? Vá em frente, coloque o vestido.

Não, não. Tatiana não gostava de sair do quarto. – Sim, mulher. Nós vamos. – E a tuberculose? – O que tem a tuberculose? – Coloque a máscara para sair no corredor - disse o médico, acenando com a mão num gesto de indiferença. Tatiana relutantemente obedeceu. Eles se sentaram em uma mesa retangular que ladeava as altas janelas do refeitório. – Há pouca coisa – observou Edward – contemplando a bandeja. – Peguei um pouco de carne. Aqui, você vai experimentá-la também. Cortou o hambúrguer ao meio e colocou no prato de Tatiana. – Obrigado, mas olha tudo que tenho eu - disse Tatiana. - O pão branco, margarina, batatas, arroz e milho. Muitas coisas. Está sentada no escuro na frente dela e há uma prato e no prato uma grossa fatia de pão preto grosso como um baralho de cartas. O pão tem serragem e pedaços de papelão. Tatiana pega um garfo e faca e corta lentamente corta em quatro pedaços. Coloca um na boca e mastiga lentamente, com dificuldade engoliu com a garganta seca, pegou outro pedaço e depois outro e, finalmente, o quarto. Com esse demora, especialmente porque sabe que uma vez que ele se vá, não haverá mais comida até a manhã seguinte. Gostaria de ter força para guardar a metade do pão até o jantar, mas não pode. Quando ela olha para cima, vê sua irmã Dasha a olhando friamente. O prato de Dasha faz muito tempo que está vazio. "– Espero que Alexander volte. - disse Dasha. Nos trará alimentos. – Gostaria que voltasse Alexander, pensa Tatiana." Tatiana se estremece e derruba no chão o pedaço de batata. Inclina-se para pegá-lo, sopra para limpá-lo e engole sem dizer uma palavra. Edward olha para ela a sério, com o garfo no ar, entre o prato e a boca. – Tem açúcar, chá, café e leite condensado - continua Tatiana com voz trêmula. – E maçãs e laranjas. – Apenas tem frango, e praticamente nenhuma carne, o leite esta escasseando e não há manteiga – observa Edward. – Os feridos se recuperam antes quando comem manteiga, mas não temos para dar a eles. – Alguns não querem recuperar antes, talvez eles gostem de estar aqui. – pensa Tatiana, e Edward se vira para olhá-la muito sério.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora