Capítulo 16

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A PONTE DE SANTA CRUZ, JULHO 1944.

Em Lublin, as tropas de Alexander descansaram e gostaram tanto que unilateralmente decidiram ficar. Lublin, ao contrário das aldeias queimadas e saqueadas que eles haviam encontrado na Bielo-Rússia, permanecia quase intacta. Com exceção de algumas casas bombardeadas e queimadas, Lublin estava caiada e limpa e quente, com ruas estreitas e praças de estuque amarelo, que, aos domingos tinham mercados que vendiam – coisas – Frutas e presunto, queijo e creme de leite e repolho (os homens de Alexandre ficaram longe do repolho). Na Bielo-Rússia, encontraram talvez um punhado de gado; aqui, suculentos porcos já prontos e defumados estavam sendo vendidos por zlotys. E leite fresco e queijo e manteiga implicavam a presença de vacas suficientes para o leite, não para comer. Ovos eram vendidos, e galinhas, também. – Se isso é o que significa ser ocupada pelos alemães, qualquer dia eu vou preferir Hitler sobre Stalin. – sussurrou Ouspensky – Na minha aldeia, minha mulher não pode plantar a porra da cebola do chão sem a cooperativa vir para levá-las embora. E cebola é a única coisa que ela planta. – Você deveria ter dito a ela para plantar batatas. – disse Alexander – Olhe para as batatas aqui. Os vendedores vendiam relógios, e vendiam vestidos para as mulheres, e eles vendiam facas. Alexander tentou comprar três facas, mas ninguém queria rublos russos. Os poloneses odiavam os alemães, e eles gostavam dos russos apenas ligeiramente mais. Eles deitam-se com qualquer um para conseguir com que os alemães saiam de seu país, mas eles não queriam que fossem com os russos. Afinal, os soviéticos dividiram a Polônia juntamente com a Alemanha, em 1939, e parecia que eles não tinham intenção de dar as costas a sua metade. Então, as pessoas estavam céticas e cautelosas. As tropas não poderiam comprar nada, a menos que eles fizessem escambo de mercadorias. Não importa de que forma eles se virassem, ninguém iria aceitar o seu dinheiro russo sem valor. A Casa da Moeda de Moscou precisava parar de imprimir papel sem sentido. Alexander finalmente conseguiu falar doce com uma velha senhora que lhe vendeu três facas e um par de óculos para seu quase cego Sargento Verenkov por 200 rublos. Depois de um jantar de presunto e ovos e batatas e cebolas, e muita vodka, Ouspensky veio até Alexander e sussurrou animadamente que tinham encontrado uma "bagunçada tenda de prostitutas" e todos iam; será que Alexander gostaria de vir também? Alexander disse que não. – Oh, por favor, senhor. Depois do que vimos em Majdanek precisamos de algo para reafirmar a vida. Venha. Tenha um bom estrondo. – Não. Eu vou dormir. Estaremos forçando a cabeceira da ponte no rio Vístula em poucos dias. Nós vamos precisar de nossa força para isso. – Nunca ouvi falar do Vístula. – Foda-se.

– Deixe-me entender: por causa de um rio em um futuro nebuloso, você não vai sair para ter algumas horas quentes hoje? – Não. Eu vou dormir porque é do que eu preciso. – Com todo o respeito, capitão, como seu burro de carga, eu estou com você a cada minuto de cada dia, e eu sei do que você precisa. Você precisa Sir Berkeley tão mal como o resto de nós. Venha comigo. Aquelas garotas querem tomar o nosso dinheiro. – Ah, porque você teve tanta sorte em gastar seus rublos antes. – disse Alexander Sorrindo – Ouspensky, você não pôde comprar um maldito relógio. Que faz você pensar que vai comprar uma mulher inteira? Ela vai cuspir em seus rublos. Alexander estava polindo suas facas novas na frente da tenda. – Venha com a gente. – Não. Você vá em frente. Talvez quando voltar você pode me contar tudo sobre isso. – Capitão, você é como meu irmão, mas eu não vou deixar você viver através de mim. Agora vamos. Ouvi que há cinco adoráveis garotas polonesas, e por 30 zlotys elas terão todos e cada um de nós. – Você não tem 30 zlotys! – Alexander riu. – Mas você tem. Vamos. – Não. Talvez amanhã. Hoje à noite eu estou exausto. Nada dentro Alexander se erguia quando ele estava sozinho. Quando ele estava no meio da batalha, quando ele estava comandando o tanque, ou esperando para atacar, ou matar outros seres humanos, ele teria que substituir seu coração para esquecer. Ele molhou uma toalha em um balde de água e deitou em sua cama improvisada, cobrindo a cabeça e o rosto com o algodão encharcado. Não. Não. A água fria escorria pelo seu pescoço, seu rosto, seu couro cabeludo. Seus olhos estavam fechados. Não, não. – Shura, deite-se, aqui no cobertor. Alexander obedece alegremente. É um ambiente aconchegante, tarde ensolarada e tranquila. Ele estava cortando madeira, e ela estava lendo. Ele quer dar um mergulho. – Toda essa madeira cortada, você não está cansado para parar? – Não, eu estou bem. – Você não está um pouco cansado? Ele não sabe que resposta que ela quer. – Uh sim, eu estou um pouco cansado. Sorrindo, Tatiana deita em cima dele e joga seus braços acima de sua cabeça. Seu aroma penetra em suas entranhas. Alexander luta contra o impulso de beijar sua clavícula. – OK, e agora? – diz ele. – Agora você tem que tentar fugir. – Até onde eu tenho que ir? – pergunta Alexandre, lançando-a no cobertor e pondo-se de pé. Ela balança a cabeça. – Eu não estava pronta. Volte aqui. Ela está tentando não sorrir. Falhando. Ele obedece alegremente. Ela prende seus braços - seus dedos não conseguem circular seus pulsos que ela está tão criteriosamente tentando fixar - de volta sob sua cabeça. Seu aroma enfraquece os sentidos de Alexander. Ele é despertado por seu espírito destemido brincalhão, por ela estar em suas costas, puxando-o para baixo na terra, por suas tentativas de lutar com ele, por suas palhaçadas selvagens na água; sua tímida, erótica personalidade de mulher-criança é um afrodisíaco sem fim para ele, como ambrosia. – Você já está pronta? – pergunta ele, olhando para o rosto determinado enquanto ela pensa na melhor maneira de mantê-lo no lugar. Ela move seus punhos juntos e sob a sua cabeça. – Isso é bom. – diz ele – O que mais? – Eu estou pensando. As pernas de Tatiana espremem suas costelas. Ela toma uma respiração profunda. – Pronto? Antes que ela possa terminar de falar, Alexander vira-se sobre ela. Desta vez, ele não se levanta. – O que estou fazendo de errado? Por que não posso prendê-lo no lugar? – ela perguntou melancolicamente. Ele coloca-a sobre o cobertor. – Poderia ser porque você tem um metro e meio e 45 quilos, e eu tenho um metro e noventa e 90 quilos?

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora