Capítulo 26

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SACHSENHAUSEN, JUNHO DE 1946.

Martin sugeriu esperar até o dia seguinte, mas Tatiana se recusou e insistiu que eles entrassem no jipe e partissem imediatamente. Martin justificou a sua proposta com uma série de razões: os campos ainda não receberam o telegrama de Stepanov, era preferível aguardar a chegada de mais jipes para formar um comboio, assim como tinham entrado Buchenwald, no final da guerra, e, entretanto, podiam oferecer assistência aos hospitais de Berlim; também tinham que comer antes de sair... na verdade, eles foram convidados para a casa do governador militar americano, que queria apresentar ao Corpo de Marinheiros de Berlim. Tatiana o escutou enquanto preparava sanduíches e colocava as coisas no jipe. Em seguida, pegou a chave na mão, abriu a porta, sentou ao volante e disse: − Termina de me contar no caminho. Quem vai dirigir, eu ou vocês? − Não prestou atenção ao que ele estava dizendo, enfermeira? − Ouvi com muito cuidado. Ele disse que queria comer, e aqui estão alguns sanduíches. Ele disse que queria falar com não sei que militar: em uma hora, se sairmos de imediato e não nos perdermos pelo caminho, terá a oportunidade de conhecer o comandante do maior campo de concentração na Alemanha. Sachsenhausen estava há de cerca de 40 milhas a partir de Berlim, ao norte da cidade. − Temos que chamar a delegação da Cruz Vermelha, em Hamburgo...− Disso, Bishop se encarrega. O que temos que fazer é ir imediatamente. Os três entraram no jipe. − Por onde começamos? − Martin disse relutantemente, se rendendo. − Passe-me o mapa, por favor. Talvez devêssemos começar com os cem subcampos associados de Sachsenhausen. Eles são menores e podemos inspecioná-los mais rápido. − Depende de como vamos encontrá-los. − disse Tatiana. − Não: vamos direto para Sachsenhausen. − acrescentou, sem dar o mapa para Martin. − Não me convenceu. − disse Martin. − De acordo com os documentos que temos em Sachsenhausen são doze mil prisioneiros. Não transportarmos itens suficientes para todos. − Eles têm que conseguir mais. − Então, por que nós iremos agora? Não seria melhor esperar para ter os outros lotes? − Quanto mais você quer esperar antes de começar a salvar vidas, Dr. Flanagan? − Tatiana disse. − Espero que não muito tempo. − Se eles têm sofrido vários meses sem nós, eles podem esperar mais alguns dias, certo? − Não, acho que não. Evgeni Brestov, o comandante do campo, ficou muito surpreso (envergonhado, na verdade!) por vê-los na porta de seu escritório. − Você vem para inspecionar o quê? – O russo perguntou, olhando para Tatiana. Aparentemente, confiou no uniforme da enfermeira, e ele não pediu suas credenciais. Brestov era um homem gordo, sujo e mal vestido que parecia beber sem moderação. − Viemos para cuidar dos doentes. O comandante militar de Berlim não te avisou? Tatiana era a única pessoa que poderia falar com ele. − Onde você aprendeu russo? − Perguntou Brestov. − Nos Estados Unidos, na faculdade. − Tatiana respondeu. − Temo que não falo muito bem. − De jeito nenhum! Você fala fluentemente. Brestov escoltou-os para os escritórios, onde ele estava à espera de um telegrama de Stepanov carimbado "URGENTE". − Se é urgente, é urgente... Por que vieram à minha casa? − Brestov protestou. Em seguida, acrescentou: − O que eu não entendo é o que é tão urgente. Tudo está em ordem, estão começando a implementar a nova legislação. Se você me perguntar, vou dizer que há um excesso de decretos. Pedem o impossível e depois queixam-se que as coisas não saem como gostam. − Eu entendo, deve ser difícil. Brestov assentiu com um gesto enfático. − Muito! Os guardas não têm experiência. Como eles podem controlar as forças armadas alemãs, que fazem parte de uma força treinada para matar? A placa na porta diz: ―O trabalho liberta ou algo assim. Eles devem estar dispostos a trabalhar com eles também. − Talvez eles saibam de qualquer maneira que não vão ser livres... − Pode ser. Nós ainda estamos discutindo as condições com o governo alemão. Certamente não sairão daqui ainda mostrando como não cooperam... − Então, para quem você trabalha? − Bem, você sabe... − Brestov disse depois de uma pausa, e rapidamente mudou de assunto: − Meu parceiro, tenente Ivan Karolich, supervisiona a atividade de campo diariamente. − Onde o jipe estará a salvo? − A salvo? Em lugar nenhum. Estacione-o em frente da minha casa e tranquem as portas. Tatiana olhou para a estrada ladeada por árvores e viu a casa do comandante a cerca de uma centena de metros da entrada do acampamento. − Não podemos deixá-lo dentro do gabinete? Nós vamos ter que transportar milhares de itens. Quantos prisioneiros tem aqui, doze mil? − Mais ou menos... − Mais de doze mil, ou menos? − Mais. − Quantos mais? − Quatro mil. − Dezesseis mil homens! − Tatiana exclamou. De modo mais sereno, ela acrescentou: − Eu pensei que a capacidade de campo fosse para apenas doze mil. Construíram novos acampamentos? − Não. São sessenta quartéis que já existiam. Não podemos construir mais, porque todas as árvores que são cortadas são usadas na reconstrução de cidades soviéticas. − Entendi. Poderíamos estacionar do outro lado da cerca? − Tudo bem, estacionem para dentro. O que levam no jipe? − Medicamentos para os doentes. E carne enlatada, leite em pó, dois alqueires de maçãs, cobertores de lã... − Os doentes estão curados. E os prisioneiros já recebem muita comida. Além disso, é verão e não precisa de cobertores. − Brestov limpou a garganta e disse: − E, além de leite em pó, você não trouxe alguma coisa para beber? − Claro comandante! − Tatiana disse, olhando para Martin. Brestov agarrou pelo braço e levou-o para a parte de trás do jipe. − Eu tenho o que você precisa! Ele pegou uma garrafa de vodka, que Brestov rapidamente arrancou de suas mãos. Martin foi calmamente ao volante e deixou o jipe estacionado no portão. − Isto parece uma base militar. − disse Tatiana em voz baixa. − É tão bem desenhado... − Sim. Mas eu aposto que os alemães eram mais limpos e mais organizados. Aviso.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora