Capítulo 7

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O INTERROGATÓRIO, 1943.

Vozes foram ouvidas fora da cela e a porta se abriu. − Alexander Belov? Alexander estava indo para dizer "sim", mas sem saber por que ele lembrou-se dos Romanov, assassinados em um porão no meio da noite. Era noite já? Era a mesma noite a noite seguinte? − Eu vou com você? −Decidi responder. −Sim, vamos lá. Ele acompanhou o guardião a uma pequena sala no andar de cima. Desta vez não era uma classe, mas um antigo armazém, talvez a enfermaria. Ele foi obrigado a sentar-se na cadeira. Em seguida, ele foi condenado a se levantar e, em seguida, voltar a sentar. Lá fora ainda estava claro. Ele perguntou que horas eram, mas lhe disseram para ―cala a boca! Então não perguntou. Depois de um tempo dois homens entraram na sala. Um deles foi o grande Mitterand, e o outro, um agente que Alexander não conhecia. O oficial acendeu uma lâmpada e focou diretamente no rosto de Alexander, que fechou os olhos. −Abra os olhos, comandante! −Calma, Vladimir! − advertiu o grande Mitterand. − Não há razão para violência. Alexander estava feliz por ainda o chamarem de "comandante". Aparentemente, eles não conseguiram trazer um coronel para interrogatório. Como ele suspeitava, em Morozovo não havia ninguém capaz de lidar com seu caso. Assim, deviam enviá-lo para Voljov, mas eles não quiseram arriscar a vida de mais soldados que cruzam o rio em um caminhão. Eles já tinham falhado uma vez. Mais para frente poderia ir de barco, mas tinha que esperar o gelo derreter. Então Alexander poderia passar mais um mês na cadeia de Morozovo. − Você seria capaz de suportar mais um minuto lá dentro? − Comandante Belov. - Mitterand começou. – Estamos aqui para informá-lo que você está preso por traição. Temos provas irrefutáveis para acusá-lo de espionagem e traição ao seu país. O que você diz sobre isso? − Trata-se de alegações infundadas. - disse Alexander. − Mais alguma coisa? − Ele é acusado de ser um espião estrangeiro! - Não é verdade. − Sabemos que está vivendo sob uma falsa identidade há algum tempo. - disse Mitterand. − Não é verdade, é a minha verdadeira identidade. - Alexander disse. − Gostaríamos que assinasse esse documento que apontam os direitos previstos no artigo 58 do Código Penal de 1928. − Eu não vou assinar nada. - disse Alexander. − O soldado que dormia ao seu lado no hospital nos disse que ouviu você falar Inglês com o médico da Cruz Vermelha que o visitava todos os dias. Isso é verdade? − Não. − Por que o médico o visitava? − Caso vocês não conheçam as razões que podem levar a um militar a UTI, vou dizer-lhes, fui ferido em combate. Podem verificar com meus superiores. O comandante Orlov... − Orlov está morto! - Desabafou Mitterand. − Desculpe, eu não sabia. - Alexander exclamou. Ele se sentiu vacilar por um momento. Orlov era um bom patrão. Não era como Mikhail Stepanov, mas quem poderia estar à altura de Stepanov? − Comandante, está sendo acusado por ter se alistado no exército com um nome falso, alegam que é um cidadão dos EUA, chamado Alexander Barrington. Também é acusado de fugir ao ser conduzido a um campo de punição em Vladivostok, após ser condenado por atividades de espionagem e subversivas contra a União Soviética. − Tudo mentira. - disse Alexander. - Onde está a pessoa que me acusa? Eu gostaria de vê-lo. Que noite foi? Ou foi de dia? E se tivesse tentado escapar com Tania Sayers? Dimitri teria ido com eles, e, nesse caso, o NKVD teria dificuldades de defender a existência de um acusador, quando ele mesmo teria desaparecido como se fosse um ministro de Politburo Stalin. − Tenho tanto interesse quanto você a chegar ao fundo dessa questão - disse Alexander com um sorriso amigável. − Ou talvez mais. Onde está essa pessoa? − Nós que fazemos as perguntas aqui, não você! – Mitterand gritou. O problema era que eles não tinham mais perguntas. Em vez disso, se limitavam a perguntar a mesma coisa uma e outra vez. − É você o cidadão americano chamado Alexander Barrington? − Não. – Contestou o cidadão americano chamado Alexander Barrington. - Eu não sei do que você está falando. Alexander não sabia como quanto tempo levaria o interrogatório. Focaram seu rosto com uma lâmpada e ele simplesmente fechou os olhos. Ele foi obrigado a levantar-se e aproveitou a oportunidade para esticar as pernas. Aguentou em pé durante o que pareceu uma hora e lamentou ter de se sentar novamente. Não sabia se era exatamente uma hora, mas para se entreter durante o interrogatório monótono estava contando os segundos que durava cada ciclo, de "Você é cidadão americano chamado Alexander Barrington?" até "Não, eu não sei do que eles falam sobre mim". Sete segundos. Doze se Alexander demorava em responder, juntava seus pés, revirava os olhos e soltava um suspiro. Uma vez que não se conteve e bocejou por trinta segundos. Achou que o tempo passou mais rápido. Eles repetiram a mesma pergunta 147 vezes. A cada seis vezes, antes de repetir, Mitterand tomava um gole. Finalmente passou a palavra para Vladimir, que bebia menos e era mais amigável e até mesmo ofereceu-lhe uma bebida. Alexander recusou educadamente, mas agradeceu a distração. Ele sabia que não deveria aceitar qualquer coisa oferecida a ele. − Guardas, levem-no de volta para a cela - disse Vladimir após 147 perguntas com frustração refletida em sua voz e rosto. E acrescentou, − vai acabar confessando, Comandante. − Sabemos que as alegações são verdadeiras e nós faremos tudo em nosso poder para confessar. Normalmente, quando os Partyapparatchiks interrogavam um detento com a intenção de condená-lo e enviá-lo o mais rápido possível para um campo de trabalho, todo mundo sabia que criavam uma farsa. Os interrogadores sabiam que as acusações eram falsas, assim como os prisioneiros atordoados e confusos, mas, no final, as alternativas apresentadas a eles eram muito duras para eles continuarem a negar as falácias óbvias. - Você, vizinho de um agitador antiproletário, confesse que conspirou com ele ou ela na queda dos 25 anos em Magadan, se confessar, são apenas dez. Esse era o acordo e o prisioneiro acabava confessando para se salvar ou salvar sua família, ou porque a sucessão de espancamentos e humilhações o deixava impotente para negar a trama de mentiras. Alexander pensou que esta devia ser a primeira vez em décadas que o detido foi acusado de um fato verdadeiro (desde que ele era realmente Alexander Barrington) e os interrogadores pela primeira vez estavam armados com a verdade, e a verdade ficou na frente deles, a verdade que Alexander teve que negar, a verdade que Alexandre teria que enterrar sob uma avalanche de mentiras se fosse para viver. Pensou em apontar isto para Mitterand e Vladimir, mas ele não acha que eles iriam querer entender ou apreciar a ironia cruel. Dois guardas levaram-no de volta à cela, com armas apontadas o ordenou a se despir. − Temos que levar o seu uniforme para a lavanderia. − Disseram eles. Alexander tirou toda a roupa, exceto sua cueca. Pediram que também as botas e meias. Alexander não queria tirar as meias, porque o chão da cela era muito gelado. − Por que você querem as botas? − Para engraxá-las. Alexander estava grato por ter tirado os medicamentos entregues pelo Dr. Sayers de suas botas para guarda-los no bolso de sua samba canção.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora