COLDITZ, JANEIRO DE 1945.
Talvez fosse exatamente o que eles disseram sobre Colditz. Não havia como escapar. E não havia trabalho, nenhum. Não havia nada para um homem fazer senão dormir, jogar cartas e tomar banho de sol, duas vezes por dia. Levantavam-se as sete para a chamada e apagavam as luzes todas as noites às dez. Nos intervalos, havia três refeições e dois passeios. Colditz era um extenso castelo do século XV, no norte da Saxônia, no triângulo entre três grandes cidades: uma parte de Leipzig, Dresden, e Chem Nitz. Colditz ficava em uma colina íngreme acima do rio Mulde. E não era só uma colina. Colditz era cercado por um fosso ao sul que na vertical, descia para o leste em um precipício muito íngreme ao norte e oeste. Colditz foi construída em uma colina rochosa. Quando a montanha terminava, começava o castelo. O castelo era extremamente bem administrado por alemães organizados que levavam seu trabalho muito a sério e não se corrompiam, como Alexander aprendeu com os cinco oficiais soviéticos que compartilhavam sua cela pequena, fria, feita de pedra com quatro beliches. Colditz tinha uma enfermaria e uma capela, tinha um galpão moderno abastecido, duas cantinas, um cinema-teatro, até mesmo um dentista. E isso era só para os prisioneiros. Como se fosse a sua residência permanente, os guardas alemães viviam e comiam muito bem. O comandante de Colditz tinha 1/4 do castelo todo para si. Os fugitivos mais notórios em todos os outros campos de prisioneiros de guerra em qualquer campo alemão eram trazidos para Colditz, onde havia sentinelas armados a cada quinze metros, no chão, nas passarelas elevadas e nas torres redondas, que os observavam 24 horas por dia. Holofotes iluminavam o castelo à noite. Havia apenas um caminho para entrada e saída, através de uma ponte sobre o fosso que levava à guarnição alemã e aposentos do comandante. Deve haver dois sentinelas para cada um dos 150 prisioneiros, mas certamente parece assim. Alexander passou os trinta e um dias de janeiro observando os sentinelas ao saírem para suas caminhadas no grande pátio interno, pavimentada com pedras cinzentas que o lembravam ligeiramente do quartel Pavlov em Leningrado. Ele se perguntou o que aconteceu com o coronel Stepanov. Por trinta e um dias ele observou os guardas na cantina, nos chuveiros, no pátio. Duas vezes por semana durante uma hora - só por bom comportamento - os prisioneiros eram autorizados, em pequenos grupos de doze, a passear no terraço exterior virado para o oeste. Era um espaço de pedra fechado, e abaixo dele sobre um parapeito havia um gramado, com um jardim fechado completamente, mas não era permitido aos prisioneiros irem lá. Alexandre, sempre se comportava em seu melhor, saia para o terraço para suas duas caminhadas por semana e observava os sentinelas que o estavam observando. Ele até mesmo assistia-os mudar de guarda da janela de seu quarto. Sua cama estava junto à janela, no terceiro andar sobre a enfermaria, de frente para oeste. Ele gostava que ela estivesse virada para o oeste. Havia algo de esperançoso sobre isso. Abaixo dele estava o longo e estreito terraço, e abaixo o jardim longo e estreito. Colditz certamente parecia impenetrável.
Mas como é que Tania conseguiu? Como ela conseguiu fugir para a Finlândia, com Dimitri morto e Sayer fatalmente ferido? Ele desejou que ele soubesse, mas ele sabia de uma coisa - de algum jeito ela acabou na Finlândia. Assim deve haver uma maneira de sair deste lugar também. Ele só não conseguia perceber qual. Pasha e Ouspensky eram muito menos otimistas. Eles não tinham interesse em observar os guardas. Alexander queria falar com os prisioneiros de guerra britânicos no pátio, mas ele não tinha nenhum interesse em explicar seu impecável Inglês para Pasha ou Ouspensky. Não havia americanos à vista, somente britânicos e Oficiais franceses, um oficial polonês e os cinco soviéticos com quem partilhavam a sua cela. Um dos oficiais poloneses era o general Bor-Komarovsky. Alexandre e ele ficaram conversando na cantina. Komarovsky tinha assumido a resistência polonesa contra Hitler e os soviéticos em 1942. Quando ele foi pego, ele foi direto para Colditz, para garantir o seu permanente encarceramento. Embora ele estivesse muito disposto a contar histórias de tentativas de fuga anteriores do castelo para Alexander, e ainda deu para Alexander seus velhos mapas da área, em russo, Komarovsky disse a Alexander que ele poderia esquecer fugir daqui. Mesmo aqueles que tinham ficado do lado de fora das muralhas da fortaleza foram todos capturadas em alguns dias. – O que mostra a você, - disse Komarovsky – que o que eu sempre acreditei é especialmente verdadeiro em um lugar como Colditz. Apesar da maioria do planejamento ser meticuloso e organizado, não há nenhuma maneira bem sucedida de sair daqui sem uma situação difícil sem a mão de Deus. Tania saiu da União Soviética, Alexander queria dizer. Não há mais nada a dizer. À noite, em sua cama de cima, ele pensava nos braços dela. Ele pensava em tentar encontrá-la... Onde ela estaria? Se ela ainda estava esperando por ele, onde ela estaria para que ele pudesse encontrá-la? Helsinki? Estocolmo? Londres? América? Onde na América, Boston, Nova York? Em algum lugar quente, talvez? San Francisco? Los Angeles? Quando ela deixou a Rússia com o Dr. Matthew Sayers ele ia levá-la para Nova York. Embora o médico tenha morrido, talvez Tatiana tenha indo para lá como planejado. Ele iria começar por lá. Ele odiava estes becos sem saída de sua imaginação, mas ele gostava de imaginar como iria ficar o rosto dela ao vê-lo, como o corpo dela pareceria tremendo, que gosto teriam as suas lágrimas, como ela iria andar até ele, talvez correr para ele. E o seu filho, quantos anos ele teria agora? Um e meio. Um menino, uma menina? Se fosse uma menina, talvez ela fosse loira como a mãe. Se fosse um menino, pode ser que ele tivesse os cabelos escuros como os do seu pai que uma vez foram escuros, agora tinha menos cabelo. Meu filho, como seria segurar uma criança, e levantá-la no ar? Ele poderia ficar em autodestrutivo frenesi pensando nas mãos dela sobre ele, e de suas próprias mãos nela. Quando ela o deixou pela primeira vez, a falta dela em seu corpo era inabalável, através ventoso março, do úmido abril, do seco maio e do quente junho. Junho foi o pior. A dor era tão intensa que algumas vezes ele pensou que não seria capaz de continuar por mais um dia, por outro minuto de tal querer, de tal necessidade. Em seguida, um ano se passou e outro. E pouco a pouco a dor foi acalmando-se, mas o desejo, a necessidade - não havia como escapar disso. Algumas vezes ele pensava na garota da Polônia, despenteada, que lhe ofereceu tudo e a quem ele deu um chocolate. Seria ele tão forte agora, se ela atravessasse seu caminho? Ele achava que não.
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Tatiana & Alexander
RomanceTatiana agora tem dezoito anos. Viúva e grávida, ela foge da devastada Leningrado para começar uma vida nova na América. Mas os fantasmas de seu passado não descansam facilmente. Ela passa a ser consumida pela crença de que seu marido, o general do...