Capítulo 27

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Antes de embarcar no jipe, Tatiana vomitou ao lado da estrada. − Não precisa de tanta pressa. − Penny reclamou. − Estou cansada, tomei vinho... Poderíamos dormir e sair de manhã? − Nós temos que estar de volta amanhã. − Tatiana disse, empurrando o jipe. − Vem, Dr. Flanagan? − Sim, eu estou indo. Não quero deixar nada. − Você pode pegar amanhã. − Ah, certo. Nós teríamos que dizer adeus ao comandante do campo, certo? − Não há necessidade. − disse Tatiana, em tom mais indiferente que pôde. Precisava gritar. – Já me despedi por vocês. Além disso, amanhã o veremos novamente. Eles deixaram a casa e deixou os sacos na parte de trás do jipe. − O que tem nessa bagagem, Tania? − Questionou Penny. Tatiana olhou suas mochilas. − Leva tantas bolsas... − Martin comentou. − Eu acho que cada está cada vez com mais coisas. − Você nunca sabe o que você pode precisar em uma viagem como esta. Querem que eu dirija? Não bebi e estou com a cabeça descansada. − Sim, por que não? − Martin disse, acomodando-se no banco ao lado do motorista. − Será que vai reconhecer o caminho em uma noite tão escura? − Venho estudando a rota no mapa. Temos que ir para Oranienburg e pegar a estrada à esquerda. − Sim, eu acho que é. − Martin fechou os olhos. − Vamos. Tatiana dirigia lentamente para se acostumar com a escuridão, mas depois começou a aumentar a velocidade. Queria ir embora o mais rápido possível do acampamento número 7.

Quando era 07:55, Nikolai Ouspensky abriu os olhos e gritou. Saltou e correu como um louco para o soldado guardando a porta da cabana. − Eu tenho que falar com o comandante agora! – Gritou. − É uma questão muito urgente! − Deve ser mesmo... − disse calmamente soldado. − O que poderia ser tão urgente, de repente? − Um dos prisioneiros vai escapar! Diga ao comandante Brestov que o Capitão Alexander Belov está prestes a fugir! − Dizer o quê? Belov? A pessoa que está presa em uma solitária até que ele venha a olhar para o comboio? − Acredite em mim! Uma das enfermeiras da Cruz Vermelha não é americana. É a esposa de Belov que veio para ajudá-lo a escapar! Tatiana estava dirigindo um, dois, três minutos... O tempo e a distância foi paralisado. Ela não poderia dirigir rápido o suficiente ou fazer o tempo passar rápido o suficiente para que chegue ao esperado. Não conseguia se lembrar se havia algum posto de controle em Oranienburg. Se tivesse, teriam advertido-os do campo especial? Será que eles têm uma cabine telefônica? E se alguém foi às masmorras? E se Karolich se levantou e começou a gritar? E se Perdov cair da cadeira e fora da consciência com o golpe? E se, e se...? − Estamos falando, Tania. Será que não está nos ouvindo? − Martin disse. − Não, sinto muito. O que disseram? Chegando a Oranienburg, desviou no caminho à esquerda. Como eles deixaram para trás as luzes ofuscantes da população, Tania bateu duas vezes com os nós dos dedos na parede da cabine. Penny e Martin estavam conversando e não perceberam. * Ouspensky foi capaz de falar com Brestov às oito e quinze. − O que está acontecendo? − Questionou Brestov, bêbado e sorrindo. − Quem disse que vai fugir? − Alexander Belov, senhor. A enfermeira da Cruz Vermelha é a sua esposa. − A enfermeira? − A morena. − Eu pensei que ambas eram morenas... − A mais baixa. − Ouspensky disse, com os dentes cerrados. − Nenhuma delas era alta. − A magra! Chama-se Tatiana Metanova e fugiu da União Soviética, há alguns anos. − E você diz que veio para buscar o seu marido? − Exatamente. − Como você sabia que ela estava aqui? − Eu não sei senhor, mas... Brestov riu e deu de ombros. − Onde está Karolich? − Questionou ao soldado que guardava a porta dos escritórios. − Diga-lhe para vir. − Tem um tempo eu não o vejo senhor. − Bem, vá buscá-lo. Fale com a enfermeira. − sugeriu Ouspensky. − É a mulher de Belov. − Nós vamos ter que esperar até amanhã. − Amanhã será tarde demais! − Ouspensky gritou em alta voz. − Bem, hoje não pode ser. Agora eles se foram. − Onde? − Ouspensky perguntou intrigado. − Eles foram a Berlim para buscar mais material. Fale com ela amanhã, quando voltar. Ouspensky recuou. − Eu acho que a mulher não vai voltar amanhã, senhor. − Claro. − Talvez... Eu não sou dado à aposta, mas aposto que Alexander Belov já não está aqui. − Eu não sei o que você está falando. − Brestov protestou. − Belov está na cadeia. Quando Karolich vir vamos dar uma olhada. − Enquanto isso, talvez, deve chamar o ponto de controle mais próximo para parar o jipe. − observou Ouspensky. − Eu não vou fazer nada até meu assistente voltar. - Ao ajeitar-se, Brestov derrubou alguns papéis sobre a mesa. – Além do que, gostei dessa garota, não vejo por que ela faria o que está dizendo. − Vai ver se o prisioneiro ainda está aqui. − insistiu Ouspensky. − E se eu estiver certo, você poderia me fazer um favor de chamar Moscou e propor uma redução de pena? − Ouspensky deu um articulado sorriso. − Amanhã vem para nos levar para Kolyma... − Não adiantemos os acontecimentos. Eles esperaram que Karolich chegasse. As portas para a parte traseira colidiu ruidosamente contra as laterais do jipe e, em seguida, um barulho foi ouvido, como se um nódulo batesse em alguma coisa. − O que foi isso? − Penny exclamou. − Meu Deus, Tania! Você atropelou um cachorro? Tatiana desligou o motor e os três pularam na estrada deserta, correu para a parte traseira do veículo e eles estavam em silêncio, observando as portas abertas. − O que diabos aconteceu? − Questionou Penny. − Não parece ter fechado bem. − disse Tatiana. Ela olhou para o jipe e viu que sua bolsa estava faltando. − E o que atingiu? − Nada. − Então, o que foi aquele barulho? Tatiana se virou, viu uma caída na estrada, a vinte metros de massa, e correu em direção a ele. Era a sua mochila. − Caiu do Jeep? − Deve ter caído ao passar em um buraco. Não aconteceu nada. − Então, vamos voltar para o jipe. − disse Martin. − É perigoso estar em uma estrada escura. − Ele está certo. − disse Tatiana. Um ponto ao longo do caminho ela se virou e fingiu vomitar. Martin e Penny deu-lhe uma garrafa de água para lavar a boca e esperaram ao lado solícitos. − Desculpe, acho que eu não me sinto bem. − Tatiana se desculpou. − Você pode continuar dirigindo, Martin? Vou me acomodar na parte de trás. − Claro, com certeza. Ajudaram-na a subir. Antes de Martin fechar as portas, Tatiana olhou-os com carinho. − Obrigado a ambos por tudo. − Não há necessidade de agradecer-nos. − disse Penny. Martin, prudente, trancou as portas do lado de fora. Antes de o médico se sentar ao volante, Tatiana levantou a escotilha e encontrou Alexander olhando-a. Naquela instante, o jipe começou a andar. Martin dirigia muito lentamente, a menos de 30 milhas por hora, porque ele não gostava de dirigir à noite em estradas desconhecidas. Tatiana ouvia as vozes na cabine, abafada pelo vidro da janela. Alexander deixou o compartimento e levou a metralhadora Karolich. − Você não deveria ter recolhido a mochila. − sussurrou quase inaudível. − Nós vamos ter que jogá-lo novamente e depois achar que vai nos custar. − Encontraremos. − E se a deixarmos aqui? − Eu a levo. Ah, e também temos que levar esses. Apontou a menor mochila e o saco de dormir. − Não. Nós teremos que se contentar com uma única mochila. − Nesta tem metralhadoras, granadas, um revólver e vários cartuchos. − Ah! Alexander ficou na ponta dos pés e tateou o teto, procurando o pino que fechou a escotilha. − Eu vou primeiro e você vai me passando coisas. − Ele sussurrou. – Vou jogando para a estrada e então eu volto para ajudá-la. Quando Alexandre já havia se livrado da mochila, da maleta de enfermeira, da mochila das armas e a ajudou a subir ao teto do carro, Tatiana viu a encosta sobre a qual queria lançar e estava prestes a mudar de ideia. A encosta parecia um poço sem fundo, ao passo que se permanecessem no jipe, poderiam estar em território francês em menos de 70 minutos. O vento bagunçou seu cabelo e a impediu de ouvir Alexander. No entanto, ela entendeu suas palavras: − Nós temos que pular, Tania. Se jogue, tanto quanto possível, na grama. Vou saltar em primeiro lugar. Sem fôlego, sem olhar para trás, Alexander levantou-se e se jogou na vala, com a bolsa de munição para trás. Tatiana olhou para a encosta, mas não o viu. Com a respiração suspensa e tensão muscular, Tatiana estava preparado e saltou, por sua vez. Deu um forte golpe contra o chão, mas caiu na encosta e rolou no meio dos arbustos. Como tinha chovido, o chão estava enlameado e macio. Ela subiu para a beira da estrada e viu que o jipe não tinha parado. Doeu alguma coisa, mas não tinha tempo para pensar o que era. Ela correu de volta para baixo, parando de vez em quando para perguntar num sussurro: − Alexander? Às oito e meia, Karolich não aparecia em qualquer lugar. O soldado que informou Brestov não parece muito preocupado, e o comandante tampouco. Ordenou que levassem Ouspensky de volta ao acampamento. − Vejo você amanhã, amigo Ouspensky. − Por que não verificam a cela de Belov, comandante? Para ter certeza, nada mais. Só vai levar dois minutos. Podemos entrar enquanto acompanha-me para o quartel. − Tudo bem, cabo. − Brestov disse, encolhendo os ombros. − Entre para verificar a cela, se prefere. Ouspensky e o soldado entraram no calabouço e passaram o ponto de verificação. − Você já se perguntou se eles viram Karolich? − Ouspensky disse, apontando para os sentinelas. − Sim, disseram que a enfermeira veio com o jipe cerca de quarenta e cinco minutos e os dois foram para a casa do comandante. − Para a casa do comandante não foram.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora