Capítulo 13

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CONHECENDO OUSPENSKY, 1943.

Na parte de trás, Alexander recuperou seu equipamento, se vestiu e subiu no caminhão que o levou ao lugar onde se alojava um batalhão disciplinar composto por centenas de homens exaustos, todos eles criminosos ou sobreviventes políticos. Eles estavam no chão molhado descansando, fumando, jogando cartas. Três deles estavam envolvidos em uma briga que Alexander separou. Um dos homens na luta era Nikolai Ouspensky. - Ah não, não você. – disse Ouspensky. - O que diabos você está fazendo aqui, soldado? – disse Alexander, apertando a mão dele – Você tem apenas um pulmão. - O que você está fazendo aqui? Eu tinha certeza que você estiva morto. – Ouspensky disse alegremente – Eu pensei que eles tinham atirado em você. Após o interrogatório, que me submeti, eu não achava que eles iriam deixa-lo viver. - Qual o seu posto aqui? Você é um cabo? – Alexander ofereceu a Nikolai um cigarro e levou-o para longe. - Eu ainda sou um tenente. – disse Ouspensky indignado e depois mais calmo – Rebaixado de primeiro para segundo tenente. - Ótimo. Eu sou seu comandante. Escolha vinte homens e leve-os para colocar os trilhos para o trem passar. E não proteste pela mudança de categoria: se te ouvem, perde a autoridade. - Obrigado pela dica. - Vá pegar seus homens. Quem era seu superior antes de mim? - Você está brincando. Ninguém. Nós tivemos três capitães mortos nas últimas duas semanas. Então, eles começaram a enviar os Comandantes para a ferrovia. Dois deles morreram. Esses idiotas não compreendem que se os alemães podem bombardear a linha de suas posições, também podem ver os soldados tentando reparar. Esta manhã, perdemos cinco homens antes mesmo que colocassem um único milímetro de trilho. - Vamos ver o que pode ser feito durante a noite. A noite não foi muito melhor. Ouspensky partiu com vinte homens e voltou com treze, contando com ele. Três estavam gravemente feridos, dois receberam danos menores e um ficou cego. O cego escapou no meio da noite, chegou à margem do lago Ladoga e morreu ali mesmo, crivado pela NKGB. A base militar entre Sinyavino e Lagoda ocupava uma estreita faixa de terra onde havia várias tendas e algumas barracas de madeira para coronéis e generais. Dois batalhões foram divididos aqui, compostos por seis companhias, dezoito pelotões e cinquenta e quatro estações, 432 homens ao todo. Por causa da falta de oficiais de comando, Alexander tinha um batalhão só para ele, 216 homens que ele poderia enviar para a morte. Stepanov não estava aqui. Alexander não conseguiu ver Stepanov novamente após a audiência no tribunal. Ele deve ter voltado para a guarnição de Leningrado, seu único lar por muitos anos. Alexander esperava que sim.

***


CONHECENDO DASHA METANOVA, 1941.

Alexander estava encostado no bar do Sadko, como de costume. Na verdade ele teria preferido ir ao clube de oficiais, porque não gostava de compartilhar os momentos de lazer com os soldados. Naquela época, a distância entre eles era muito grande. Em junho em uma noite de sábado, Alexander estava em pé conversando com Dimitri quando duas garotas os abordaram. Alexander deu-lhes um olhar de relance. A segunda vez que ele olhou, viu que uma delas olhando para ele com interesse. Ele sorriu educadamente. Dimitri virou a cabeça, olhou para os dois, levantou os olhos para Alexander, e deu um passo ao redor de modo que os dois homens pudessem olhar a duas mulheres. - Querem uma cerveja, meninas? – perguntou Dimitri. - Claro. – disse a morena, que era a mais alta. Era quem tinha olhado para Alexander com interesse. Dimitri estava tendo uma conversa amigável com a mais baixa, menos atrativa. Era difícil conversar no bar. Alexander perguntou se a garota morena queria sair para caminhar. Ela sorriu. - Claro. Eles saíram para a noite quente e clara. Era pouco depois da meia-noite e ainda havia luz. A garota começou a cantarolar uma canção e então, segurou a mão de Alexander e sorriu. - Vai me dizer como se chama ou eu vou ter que adivinhar? – perguntou. - Alexander – respondeu ele, sem perguntar o dela, porque tinha dificuldade para lembrar nomes. - Não vai perguntar como me chamo? - Você tem certeza de que quer que eu saiba? – disse Alexander, sorrindo. - Se eu quero que você saiba? – ela o olhou com surpresa – Tão grosseiros os soldados se tornaram, que já não perguntam mais as meninas como se chamam? - Não sei se os demais soldados são grosseiros ou não. – disse Alexander, dando uma palmadinhas no braço – Só sei que eu tenho a tendência de esquecer nomes. - Bom, talvez depois dessa noite, você nunca vai esquecer meu nome. A jovem sorriu sugestivamente. Alexander balançou ligeiramente a cabeça. Queria dizer a ela que era preciso ter algo extraordinário para que ele não se esquecesse de seu nome, mas apenas disse: - Tudo bem. Qual o seu nome? - Daria. – disse ela – Mas todo mundo me chama de Dasha. - Muito bem, Daria-Dasha. Tem algum lugar que você quer me levar? Tem alguém em casa? - Tem alguém em casa? Onde você vive? Eu nunca estou por um segundo sozinha. Todos estão em minha casa: Mama, Papa, Babushka, Dedushka, meu irmão. E minha irmã dorme na mesma cama que eu. – ela levantou as sobrancelhas e riu – Acho que até mesmo um oficial teria problema em ter duas irmãs ao mesmo tempo? - Depende. – colocando o braço em volta dela – Que aspecto tem sua irmã? - Parece uma menina de doze anos. – disse Dasha – E você, há algum lugar que pode me levar? Alexander a levou para o quartel. Aquela noite era sua. Dasha perguntou se ela deveria se despir. - Eu não quero ser surpreendida. – disse. - Bem, isto é um quartel do exército, - disse Alexander – não o Hotel European. Dasha se você quer ficar nua é por sua conta e risco. - Você vai se despir? - Todos eles já me viram. – comentou Alexander. Dasha se despiu e Alexander também.  Com Dasha desfrutou o mesmo que com tantas outras. Tinha o corpo voluptuoso típico das russas, com quadris largos e seios grandes, o tipo de corpo que deixava os homens como Grinkov, o companheiro de quartel de Alexander, loucos. O que Alexander gostou sobre Dasha foi de uma qualidade que era vagamente familiar: que ela o tratava de afável e descontraída como se o conhecesse a mais tempo. Além disso, a reação de Dasha também tinha sido especial. - Oh, meu... Alexander, de onde você veio? – ela disse. - De onde é que eu vim? - Sim. – acrescentou ela – Eu gosto de como você se move. - Obrigado. – respondeu Alexander. Ficaram juntos por uma hora, visto que apareceu Grinkov com uma garota e com uma cara de não estar disposto a aceitar um ―hoje não é a sua vez como resposta. Depois de se vestir, Alexander acompanhou Dasha até a saída do quartel. - Então, me diga, - ela perguntou – você vai lembrar do meu nome na próxima semana, quando eu passar por aqui? - Claro... Dasha, certo? – ele sorriu. Na semana seguinte, Dasha voltou ao bar com a mesma amiga. Infelizmente, Dimitri tinha ido com outra garota e Dasha não queria deixar sua amiga sozinha. Terminaram os três passeando pela Avenida Nevski. No final, a amiga pegou o ônibus de volta para sua casa e Alexander foi para o quartel com Dasha. Aquela noite não era o seu turno e já tinha muita gente na sala. - Você tem duas opções. – disse Alexander – Você pode ir pra casa, ou entrar comigo e ignorar os outros soldados. Dasha o olhou com uma expressão que ele não pode interpretar. - Bem, por que não? – concluiu – Meus pais fazem como se nós não estivéssemos e nós fingimos que estamos dormindo. Eles estão dormindo? - Nem de perto. – disse Alexander. - Oh. Isso é um pouco estranho para mim. Alexander assentiu. - Você quer que eu leve você para casa? - Não, está tudo bem. – ela se aproximou dele – Eu tive um bom momento semana passada. - Eu também. – disse Alexander depois de uma pausa – Vamos para o Jardim Admiralty. No terceiro sábado voltou a estar com ela e foi para um canto tranquilo no parapeito de Moika, ao lado dos barcos ancorados. Era afastado o suficiente e Dasha não fazia nenhum ruído, e Alexander já tinha prática em controlar seus gemidos. Não havia nenhum lugar para Dasha se deitar, mas Alexander podia sentar. - Alex... Você se importa se eu te chamar de Alex? – ela perguntou. - Não. – ele respondeu. - Alex, me fale alguma coisa sobre você. – Dasha sorriu para ele – Você é muito interessante. Eles já tinham terminado e ele queria voltar para o quartel para dormir. Aos domingos ele tinha que se levantar às sete, independente da hora que ia dormia. - Por que você não me conta alguma coisa sobre você? - O que você quer saber? - Quantos soldados antes de mim? - Não muitos. – Dasha sorriu – Alexander, eu não acho que você queira falar sobre isso. Porque então, eu terei uma pergunta para você. - Tudo bem. - Quantas mulheres antes de mim? - Não muitas. – ele sorriu. Dasha riu e Alexander também. - Eu vou lhe dizer uma coisa, Alex. Desde que te conheci, há três semanas, eu não tenho sido capaz de parar de pensar em você. - Sério? - Sério. E eu não estive com mais nenhum homem desde então. – ela fez uma pausa – Você pode dizer o mesmo? - Absolutamente. Eu não estive com mais nenhum homem desde então, também. Ela lhe deu um soco de leve. - Para. Você tem tempo para mais? - Não. – Ele não queria contar para ela que ele não tinha outra camisinha. – Venha me ver na próxima semana. Vou ter mais tempo. - Vamos, - ela disse provocando, com as mãos sobre ele – Eu prometo que vai ser rápido. - Não, Dasha. Na próxima semana. De volta ao quartel, Alexander cruzou no corredor com uma garota que havia saído com ele em maio, uma garota simpática, embriagada e atraente, e que não estava disposta a deixa-lo em paz até que desabotoasse suas calças. E Alexander desabotoou suas calças. E a semana foi longa. E durante a semana, Alexander teve de ficar de sentinela, que incluía um par de meninas que Dimitri tinha arranjado para eles. No sábado à noite, Alexander foi para Sadko, tendo apenas um interesse superficial em se reunir com uma menina. Como era sábado à noite, então ele poderia muito bem fazer isso. Ele foi até uma que ele não via há algum tempo, e depois de ter tomado e comprando-lhe um par de bebidas ele foi para os fundos da Sadko e teve-a contra a parede, e quando ela perguntou: ―Você não vai jogar fora o seu cigarro ele ficou surpreso que ainda estava em sua boca. Ele enviou a garota para casa e voltou para Sadko. Ele sentiu braços ao redor da sua cabeça e uma voz dizer: "Adivinha quem é". Era Dasha. Ela havia chegado sozinha desta vez. Ele pensou que estava acabado para esta noite. Mas a noite de Dasha estava apenas começando, então Alexander se sentiu obrigado a comprar-lhe umas cervejas e conversar com ela. Eles fumaram, brincaram um pouco, e então ela o puxou para fora do bar. - Dasha, está ficando tarde, - disse ele. - Eu tenho que estar de pé amanhã às sete. - Eu sei, - disse ela, esfregando o braço. - Você está sempre com pressa. Sempre correndo para algum lugar. Qual é a pressa, Alex? Alexander suspirou. Ele olhou para ela com cansaço e diversão. - O que você está propondo? – ele perguntou, olhando para ela com cansaço e diversão. - Eu não sei. – Dasha sorriu - O mesmo que na semana passada? Ele tentou se lembrar. Por alguma razão, a semana passada tinha voado para fora de sua cabeça. Ele podia ver que se ele não se lembrasse, ele iria chatear Dasha, e assim ele tentou. Mas, entre a semana passada e esta semana houve... Ele tentou se concentrar. Houve muita conversa de guerra iminente. - Você não se lembra? Abaixo nos parapeitos de Moika? Agora, ele lembrou. Ele a levara para baixo pelo canal. - Você quer ir para lá de novo? - Mais do que qualquer coisa. - Vamos lá. - Alexander, - disse ela, sentando-se em cima dele, ofegante - Eu devo dizer, você é um grande amante extenuante... E eu não digo isso de ânimo leve. - Obrigado. - Você está se divertindo? - É claro. - Você não fala muito, não é? - O que você quer falar? - Você sente que está dizendo tudo? – disse Dasha, rindo. - Estamos dizendo tudo que eu preciso. - Você quer me encontrar na próxima semana? - Certo. - Você tem um dia livre? Talvez você possa vir a minha casa para o jantar. Eu não moro muito longe daqui. Na quinta Soviética. Você poderá conhecer a minha família. - Eu não tenho muitos dias livres. - E quanto à segunda-feira ou terça-feira? - Nesta segunda-feira ou terça-feira? - Sim. - Vou ver. Não, espere, eu tenho que... Escute, talvez dentro de uma semana ou algo assim. - Não podemos nos encontrar mais deste jeito. - Não? - Bem, podemos. – contestou Dasha com um grande sorriso – Mas talvez pudéssemos ir a algum lugar? - Onde você gostaria de ir? - Eu não sei. Algum lugar melhor. Talvez para Tsarskoye Selo, ou Peterhof? - Talvez, - disse ele evasivamente, levantando-a, levantando e esticando-se. – Está ficando tarde, Dasha. E eu tenho que voltar. Ele voltou para a base onde ele se sentou por alguns minutos com o sargento Ivan Petrenko na sentinela, compartilhando um pouco de vodka e um cigarro antes de voltar aos seus aposentos. - Você acha que os rumores são verdadeiros, Tenente? Você acha que nós estamos indo para a guerra com Hitler? - Sim. Eu acho que é inevitável Sargento. - Mas como é possível? É como se a Inglaterra fosse para a guerra com a França. A Alemanha e a União Soviética foram aliadas durante quase dois anos. Firmamos um pacto. - E dividimos a Polônia, assim como velhos amigos. – Alexander sorriu – Petrenko, você confia em Hitler? - Eu não sei. Eu não acho que ele vai ser estúpido o suficiente para nos invadir. - Vamos torcer para que você esteja certo, - disse Alexander, apagando o cigarro – Boa noite. Tudo o que ele queria era ir dormir. Era pedir muito? Mas ambos, Marazovand e Grinkov estavam com mulheres em suas camas. Alexander desviou o olhar quando subiu em sua cama, colocou um travesseiro sobre a cabeça e fechou os olhos. - Alexander, - ele ouviu uma voz feminina estridente dizer – Você é um bastardo. Suspirando pesadamente, ele puxou o travesseiro fora e abriu os olhos. A menina que tinha acabado de estar com Grinkov estava parada na frente de sua cama. Atrás dele, Alexander ouviu Grinkov rindo. - O que eu fiz? – ele perguntou, cansado. Ele reconheceu um pouco o rosto inchado, ela estava muito bêbada. - Você não se lembra? Você me disse na semana passada para vir e encontrá-lo aqui esta noite. Esperei por três horas por você no maldito portão! Finalmente, eu desisti e fui para Sadko e o que eu vejo? Você estava com uma garota que é não era eu. Alexander não queria se levantar, mas ele sentia que a qualquer momento ele ia levar uma tapa, e ele não queria ser golpeado enquanto ele estava deitado. - Eu realmente sinto muito. – disse ele, levantando-se e sentando-se com as pernas balançando para fora da cama. Ele se lembrava vagamente dela. – Eu não queria chateá-la. - Não? – ela disse muito alto. Grinkov estava rindo em seu travesseiro. Marazov e sua namorada estavam aproximando-se e não poderiam estar mais interessados. Ele não conseguia lembrar o nome dela. Ele queria dizer a ela para sair, mas ele não queria fazê-la sentir-se pior na frente de ouvidos atentos. Ele pulou da cama e, assim como ele fez, ela fez um punho e foi para golpeá-lo no rosto. Agarrando-lhe o pulso, ele a empurrou, e sacudiu a cabeça. - Eu não estou no clima para isso. – anunciou. - Vocês são todos iguais, não é? – disse ela – Vocês todos são apenas inimigos de mulheres, os impuros. Vocês não dão a mínima para nenhuma de nós. - Nós não somos inimigos de mulheres. – disse Alexander com surpresa – Ao menos eu não sou. Mas... (Deus, qual era o nome dela?!) Se somos devassos, o que isso faz de você? Ela engasgou. - Oh, ouça... – disse ele – Estou muito cansado. O que você quer de mim? - Um pouco de respeito, Alexander. Isso é tudo. Basta um pouco de consideração. Alexander esfregou os olhos. Isso era ridículo. - Olha, eu sinto muito. - Você nem se lembra do meu nome, não é? – Ela o interrompeu. Sua mão foi para cima novamente. Alexander quase não a impediu naquele momento. Mas ele a impediu. Ele odiava ser atingido por qualquer pessoa. Todos os pelos de seu corpo se arrepiaram. - Deus, eu sinto muito pela menina que vai se apaixonar por você, seu bastardo. Porque você vai triturar ela em pedaços, seu porco sem coração! Enquanto ela caminhava pelo corredor até as escadas, Alexander a chamou. - Eu me lembro, você é Elena. - Foda-se. – disse Elena, desaparecendo no corredor. Bem, ―se isso não é a despedida de um soldado, eu não sei o que é, Alexander pensou, voltando para seus aposentos. Ele queria fumar e fumar novamente dentro destas paredes da prisão, e ele queria um quarto silencioso, onde ele poderia manter a compostura e onde podia nutrir seu orgulho ferido e pensar o quão longe ele tinha  chegado. Longe de Krasnodar e da jovem Larissa, que lhe dera um pouco de sua doçura antes de morrer e de Svetlana Visselskaya, camarada, amiga de sua mãe, que lhe tinha dito: ―Alexander, seus dons são tão abundantes, não vá desperdiçá-los. Bem, Alexander pensava, a qualquer momento, uma das meninas que tinha descuidadamente tinha descartado ia vir pelo quartel com uma arma e explodir os seus miolos e em sua lápide o epitáfio diria: "Aqui jaz Alexander, que não poderia lembrar-se o nome de qualquer garota que ele tinha fodido". Com um pouco de desprezo por si mesmo, ele tentou pegar no sono. Eram três da manhã, 22 de junho de 1941.

Tatiana &  AlexanderOnde histórias criam vida. Descubra agora