Prologo

763 89 75
                                    

     O despertador sobre o criado-mudo ao lado da cama marca
03:59 da manhã. Os olhos castanhos de Erick William Da Silva,
encaram o relógio.
     A escuridão desfilava pelo quarto compacto e bagunçado.
     Um minuto de reflexão. O garoto estava imóvel sobre a cama
de solteiro, seus olhos viajavam pela a parede a sua frente. A silhueta
de seu casaco pendurado em um prego fixado na alvenaria, se
destacava, era apenas um borrão se olhasse diretamente para ele
naquele breu total, mas por algum motivo, se desviasse o olhar e
tentasse enxergá-lo com sua visão periférica, veria cada detalhe
daquele casaco como se estivesse a luz do dia.
     O alarme do rádio relógio dispara. 04:00 horas.
     Will se põe de pé rapidamente. Hora de trabalhar.
     O som do chuveiro junto com a água quente se tornavam um
analgésico para o corpo, o jovem poderia ficar horas sob o efeito
daquela “droga”, mas não havia tempo, há meses não tinha tempo, ou
talvez não quisesse ter tempo.
   Saiu do banheiro enrolado numa toalha e se viu novamente dentro do quarto, pressionou o interruptor na
parede a sua direita e as luzes florescentes se acenderam. Elas os
cegaram ligeiramente pois seus olhos ainda estavam propensos ao
escuro.
     O jovem se pós a se vestir com a habilidade de quem já fazia isso
a muito tempo.
     Me arrumar para ir trabalhar.
Will tem 23 anos de idade, mas seus colegas afirmam que ele
aparenta ser mais jovem e também, o fato dele ser o mais baixo da turma, o deixa mais parecido ainda com um garoto de 15 anos. O rapaz
mede 1,72 de altura, tem um corpo bem delineado, seu cabelo de um
tom castanho escuro ficava entre o crespo e o cacheado. Era um
moreno mediano, de traços não tão extravagantes ou atrativos, se
tratava apenas de um garoto normal.
   Penteou os cabelos dos lados e bagunçou em cima, deixando algo
parecido com um topete arrepiado na frente. Pegou a bolsa no rodapé
da parede ao lado do espelho e a pós nas costas, virou-se, deu uma
última olhada na sua pequena cozinha. Não estou esquecendo nada?
Sua casa era apenas de dois cômodos: quarto e cozinha, também um banheiro que se localizava dentro do quarto. Uma parede com uma porta se erguia entre os dois maiores cômodos.      Na cozinha, uma janela de ferro
enfeitava a parede, através dela via-se uma favela adormecida
ronronar. Bom dia, quebrada!
    Voltou-se para a porta, pegou o maço de chaves de cima da pia
de lavar louça ao lado da própria porta e inseriu uma delas na
fechadura. Haviam quase 7 chaves naquele maço, uma abria a porta
de sua casa, outra abriria o portão que ficava no alto da escada que lhe
aguardava do lado de fora da porta, uma menor pertencia ao seu
armário na produtora, e as 4 restantes abririam outras casas que já
havia morado.
   Bateu a porta e a fechou com a chave, virou e deu de
cara com dois lances de escadas estreitas, respirou fundo e as subiu no escuro, rezando para não tropeçar de novo naqueles malditos degraus
mau alinhados. Chegou eufórico ao portão.
    Dois lances de escadas é foda.
Sacou do bolso o mesmo maço de chaves e inseriu uma prateada
na fechadura do portão, virou a mão e o abriu para dentro, se esgueirou
pela brecha do portão com a parede e depois o fechou com
indelicadeza. Inseriu novamente a chave na fechadura quando ouviu
um som estridente de um motor passar a suas costas. Era o micro-
ônibus que pegava todos os dias para ir trabalhar. Will se virou
rapidamente, mas não havia mais tempo, tudo o que viu foram os faróis traseiros do veículo virar a esquina e sumirem. Suspirou em lamento ao ver seu ônibus se ir, pois sabia que o próximo só passaria dali a 20 minutos – mas que droga! perdemos o ônibus de novo! – o garoto pulou de susto quando Michele, sua vizinha, uma garota de 18 anos, aparecerá atrás dele, xingando pra valer – Vamos para o outro ponto, assim, quando vier o próximo a gente vai sentado – disse ela descendo a calçada e caminhando pela rua para o ponto anterior ao
que costumavam ir. O jovem Will a seguiu pela rua estreita e deserta,
formada por casas, sobrados e pequenos comércios, ainda olhava para trás, vendo o ultimo fecho de luz dos faróis do micro-ônibus sumirem
na esquina. Vou chegar atrasado de novo.

Lavínia Onde histórias criam vida. Descubra agora