Ahlif Athemeris

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Will leva a mão ao cabelo de Niah – Niah, o que ta acontecendo? – a garota fica em silêncio, ela olha ao redor e vê que as pessoas estão lhe olhando. A garota gótica se afasta subitamente dos braços de Will, ela parece confusa, algo não estava certo – Niah, você está bem? – Niah olhava de um lado para o outro – Will, tem alguma coisa errada! – de repente um som estrondoso soou pelo ar, era algo parecido com a buzina de um trem. Todos os olhares se voltaram para o céu, alguma coisa estava acontecendo com as nuvens, algo parecido com um lençol de diamantes começou a se desdobrar sobre uma superfície que pairava no ar, ao que o lençol se desdobrava, a superfície ia ganhando forma e tamanho. O lençol de diamantes desaparece por completo revelando uma plataforma gigantesca que se estendia sobre a cidade de São Paulo, se tratava de uma nave Jiokan. A sombra da nave encobriu os prédios da cidade deixando todos e tudo no escuro. Todos na avenida encaravam a nave com o horror estampando no rosto. O silencio e o medo corria entre os sobreviventes.

Na sala de controles da nave Jiokan, o capitão Ock devolvia um olhar de superioridade, um olhar de desdenho.
O capitão era um homem de aparência passiva, que não se deixava abalar em situações complicadas, sempre procurava manter a calma diante de seus soldados, assim conseguia ver as soluções com mais clareza e rapidez. Conhecido por sua habilidade singular com a espada, ele era temido em combate, mas sim, esse é um daqueles casos que só as histórias fazem a reputação. Ninguém jamais o vira lutar, ninguém jamais o vira empunhar aquela espada. Mas sempre há um porem. Ninguém jamais vira aquela espada empunhada, porque nenhuma alma vive diante daquela espada empunhada.
Lentamente o capitão vira as costas mantendo olhar por cima do ombro. Ele caminha pela ponte e sai da sala de controles aos olhares de seus soldados.
Terry encara o seu capitão sair, jamais o vira daquele jeito, mas havia um motivo. Ock teria uma guerra pela frente, tanto física quanto parlamentar, ele agora era obrigado a capturar aquela garota e leva-la diante do senado, enfrentaria sessões e mais sessões de interrogatório, sem contar que para poder chegar até o senado, ele enfrentaria os piratas, criaturas de diversas raças que vivem no espaço, roubando, saqueando e vendendo.
Uma Lavi, de sangue Real, era a joia mais preciosa de todo o universo, pois eles estavam extintos. Havia uma lenda que dizia que uma Lavi havia escapado ainda quando bebê, que durante O GRANDE INTERMEZZO, seus pais cobriram sua fuga para o espaço, para uma nova esperança no futuro. Poucos conheciam essa história, pois poucos tinham a coragem de conta-la. Alimentar a esperança de que um dia os Lavis iriam voltar era proibido por lei e sujeito a pena de morte. O novo governo Jiokan era extremamente rígido com suas novas leis, e, eles aplicavam as condenações regularmente, para manter a ordem universal.

Niah e Will encaravam a gigantesca nave diante de seus olhos como se pudessem olhar para o sol sem queimar a retina, era inacreditável. A nave começa a se movimentar, erguendo- se para a atmosfera. O lençol de diamantes aos poucos encobre a superfície da nave, até que ela desaparece diante dos olhos do mundo.
Niah está paralisada olhando para o céu, incrédula, pois agora tudo fazia sentido, as respostas paras todas as perguntas vieram em um turbilhão. Ela desce lentamente o olhar para o chão, seus olhos arregalados encaravam o nada. A garota gótica agora sabia que definitivamente... não pertencia a terra.

Will olha para Niah, ela está em choque, olhava para as próprias mãos, parecia confusa. Seus cabelos aos poucos pararam de brilhar, os poros luminescentes desapareceram. As respostas surgiram simultaneamente diante dos olhos de Will, ele agora entendia. Ela não é daqui, por isso é tão forte, tão veloz, tão resistente. Deve pertencer a uma raça superior, puta merda, deve existir várias dela lá fora, sentiram sua falta... e agora vieram busca-la. Will se desloca na direção de Niah, mas é surpreendido pelos soldados do exército brasileiro. chegaram em silencio, estão por toda parte, envolta de Niah e Will eles apontam seus fuzis escondendo seus rostos atrás da mira. São milhares de soldados, atiradores de elite, snipers nos prédios que ainda estão de pé, e agora, helicópteros da aeronáutica sobrevoam a área com suas submetralhadoras calibre 50 apontadas para a alienígena de cabelos verdes.
Niah ergue o olhar para os soldados a sua frente. Os sobreviventes se afastam correndo pois ali estava uma alienígena. Thalia ergue as mãos instintivamente. Will olha ao redor – o que é isso? O que estão fazendo? – gritou Will. O capitão da tropa se aproxima, seu fuzil estava preso na bandoleira nas costas, ele parecia tranquilo – estamos fazendo nosso trabalho – disse tranquilamente o capitão. Um outro sargento dá um passo à frente e ordena com seu fuzil tremendo – deitem-se no chão, agora! – gritou o sargento totalmente agressivo. O capitão se aproxima do sargento pelas costas, ele pousa suavemente a mão direita sobre seu ombro, escolhendo bem onde pisar para não tropeçar nos destroços de concreto e fala calmamente – tranquilo, sargento, são nossos amigos... fomos salvos por ela... não é verdade? Você está do nosso lado, não está? – perguntou o capitão com um sorrisinho. Niah estava confusa. Porque esse idiota ta falando assim comigo? Niah não sabia o que responder, claro que ela estava do lado das pessoas, mas a forma que o capitão falou com ela, há defendendo do sargento maldoso, lhe deixou um pouco sem ação. Em sua visão, só o Will tinha permissão de falar assim com ela, de a defender de qualquer coisa em qualquer ocasião, de toca-la, de beija-la, aquele cara estava fazendo algo extremamente proibido pela própria Niah. Não fale assim comigo, seu desgraçado. Will caminha na direção de Niah, os soldados ficam nervosos, o capitão ergue a mão na direção deles. Parem! Will se posiciona ao lado de Niah – é claro que ela está do nosso lado, ela salvou o rabo de vocês, dessa cidade, e é assim que agradecem, vão se fuder, seus cornos! – disse Will firmemente. O capitão começa a rir, os soldados olham para o capitão com desdém. Porque diabos ele ta rindo, esse moleque acabou de insultar agente. O capitão se recupera da crise de riso – olha, você tem um linguajar bem ofensivo, rapaz! Só quero lembra-lo que está falando com um oficial do exército brasileiro, e que desacato é crime – disse passivamente o capitão. Will olha para todos os soldados – o que vocês querem? – perguntou Will com mais "respeito". O capitão olhou em volta, para a cidade destruída – bom, embora ela tenha salvado nossos "rabos", ficou uma conta pendente, e nós temos algumas perguntas a faze-la, então, peço educadamente que nos acompanhe até a nossa aeronave onde vamos escolta-los até a nossa base para uma reunião com o meu "chefe" – disse calmamente o capitão. Will olha para Niah que está em silencio, ela lhe devolve o olhar, ele olha para o capitão – e se nós não formos? – o capitão olha em volta – bom, eu sou só uma corrente que segura a coleira do cachorro... vou simplificar pra você, se a corrente falhar... o cachorro ataca – disse o capitão fazendo menção aos soldados impacientes. Will olha para os soldados, Thalia se aproxima dos dois amigos e sussurra – acho melhor agente fazer o que ele ta pedindo, enquanto ele ainda ta pedindo – disse Thalia com as mãos levantadas. Will se volta para Niah, ela se vira para ele – ela tem razão, é melhor agente ir... é justo responder o que querem saber... isso, isso não é mais um segredo... se tornou algo público, todos sabem, ou pelo menos acham que sabem... temos que ir lá e dizer que você não é o inimigo aqui, enquanto a gente ainda tem chance de falar... – disse Will olhando nos olhos verdes de Niah. A garota gótica estava impaciente – eu não quero ir com eles... foi o exército que me caçou – sussurrou Niah. O capitão se aproxima olhando para o chão tentando não cair – não... não fomos nós que te caçou, eram mercenários... agiam em nome do governo, mas não trabalhavam pra nós. Olha, precisamos da sua ajuda, precisamos muito, aquilo... – o capitão apontou para o corpo do Android – aquilo é muito mais poderoso do que qualquer arma que tenhamos... e você o matou... com as mãos... precisamos da sua ajuda – disse o capitão em tom de apelo. Will volta a olhar para Niah, a garota gótica pensa por alguns segundos e então responde – ele vem comigo! – disse Niah mencionando Will. O capitão sorrir.

Na grande Barramutze o clima estava tenso. Na garagem da nave, onde se concentram os abatedores, havia uma movimentação intensa. Os pilotos se movimentavam freneticamente, verificavam se suas naves estavam preparadas, abastecidas com munição pois dali a alguns minutos enfrentariam as tropas binários Jiokans novamente.

Os soldados corriam de um lado para o outro sobre os comandos dos sargentos e suboficiais, carregavam caixas e mais caixas de munição para suprir toda as naves abatedoras, naves pequenas que possuíam apenas um proposito, guerra. As abatedoras eram pequenas, compactas por dentro havendo assento para apenas dois pilotos, tinham três turbinas na parte de trás da carcaça, duas asas compridas e finas nas laterais e um bico arredondado. São naves pequenas, mas muito resistentes e poderosas em combate.
Novamente a sala de reunião, Key Roul Strombiard discutia táticas de guerra com o holograma artificial da coronel Ahlif Ahtemeris. Ahlif tinha a mesma idade que Key, 24 anos, ela era filha de uma senadora muito respeitada, Kalia Ahtemeris. Kalia foi uma das pilotos que enfrentaram as tropas Jiokans no GRANDE INTERMEZZO, lutou ao lado de Otto Strombiard, Pai de Key. Ahlif estudou e foi treinada junto com Key desde muito pequena, mas sua mão Kalia, não queria que sua única filha fosse para as linhas de frente das tropas rebeldes Lavi, então ela mexeu os pauzinhos e conseguiu o cargo de Coronel para sua filha. Ahlif é uma garota linda de corpo esbelto e forte. Assim como Key, Ahlif foi treinada em diversas modalidades de luta, uma guerreira nata que assume o cargo de coronel com garra e determinação – Key, seu pai convocou o senado, ele falou sobre a sua situação – disse Ahlif com uma postura rígida e uma voz grave e determinada. Key caminha de um lado para o outro, impaciente – então, ele vai mesmo me exonerar do cargo de capitão!? – disse Key impaciente. Ahlif franziu a testa – pelo contrário, ele está tentando fazer com que você não seja preso e taxado com insubordinação – disse Ahlif. Key ergue os olhos para o holograma – Key, eu nunca questionei os seus métodos, mas devo concordar com o seu pai, vocês serão aniquilados se enfrentarem aquela nave sozinhos... – disse Ahlif, meio preocupada. A jovem Ahlif por ser coronel das tropas rebeldes Lavi, ela era responsável pela integridade dos soldados e das naves, principalmente da grande Barramutze, mas ela não parecia preocupada só com suas responsabilidades, havia algo mais em seus olhos, a imagem rígida, forte e profissional da coronel escondia um sentimento contido, um sentimento puro que a jovem coronel vinha escondendo a muito tempo – não posso ficar parado vendo uma raça jovem como humana ser escravizada ou exterminada e não fazer nada... estamos indo para a Via-Láctea agora mesmo, chegaremos dentro de alguns minutos – disse Key encarando os olhos do holograma. Ahlif lhe encara de volta – eu sei... nos encontraremos lá! – disse Ahlif tentando conter um sorrisinho. Key lhe encarou profundamente e sorriu.

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