❌Capitulo 8❌

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Marco o número da Ellen e depois de iniciar uma chamada, espero que atenda.

"Olá amor? Estás bem?" - pergunta.

Aperto os lábios e tento esconder o ruído dos soluços que teimam em não parar.

"Diz-me onde estás."

"Praia." - a minha voz não passa de um simples sussurro.

A chamada é desligada por ela. Deixo o telemóvel cair ao meu lado e encolho-me, deixando que o meu corpo forme uma pequena bola. Existem tantas perguntas em torno da minha mente, mas as respostas não parecem estar minimamente perto. Cada pedaço de mim se sente inevitavelmente inútil. As lágrimas sufocam a minha cara e deixam a minha cabeça num remoinho de emoções, ás quais não consigo corresponder com nitidez. Tudo podia mudar, tudo poderia ser resumido, tudo podia ser melhor, mas comigo? Comigo nada muda, à exceção do meu sentido de rotação que se inverte a cada onda que embate contra aquilo que julguei ser até hoje. Comigo, tudo é demasiado estruturado para que algum dia alguém me possa tentar resumir. Comigo, tudo tem a essência difícil de se sentir, porque sei que de momento a momento, eu, eu e mais ninguém, me deixo cair pelo precipício de que todos fogem.

Olho para o lado e sinto as doses de dor atacarem-me. Procuro vestígios do pó que ele iria ingerir, mas este já se encontram completamente misturados com os graus da areia. A minha respiração aumenta e as imagens na minha mente intensificam-se. O medo e a fúria misturam-se. Tudo em mim dói, tudo em mim não é mais a salvação. Um grito escapa-se e em segundos sinto me meu corpo ser protegido de tudo, pelos braços da minha melhor amiga.

"Calma, calma, por favor." - a sua voz implora e o meu coração acalma.

O medo escapa, a revolta dissolve-se e as lágrimas não são mais uma peça do puzzle. A dor vai e a sanidade volta.

"Conta-me tudo, o que é que se passou?" - pergunta, enquanto limpa os últimos vestígios das minhas lágrimas.

Respiro fundo e relembro cada momento, cada palavra, cada grito, cada lágrima.

"Ele ia drogar-se."

Os segundos passam e a sua expressão demonstra apenas um misto de confusão.

"Quem?"

"Aquele rapaz."

O meu coração aperta e os seus batimentos não são mais fonte de vida, são apenas a origem da dor que mata todas as células presentes em mim.

"Tens que te afastar dele, para teu bem, tu tens."

As suas palavras causam formigueiro no meu corpo e o meu estômago enrola-se em si mesmo. O meu cérebro desfaz-se em mil pedaço, mas logo se recompõe, dando-me uma enorme multiplicidade de dúvidas ainda maiores que todas as outras.

Limito-me a assentir e por fim, sento-me sobre a areia. Os meus pensamentos prendem-se nele e mais uma vez, os sentimentos confrontam-se e a batalha dentro de mim abala todos os meus sentidos.

Ele mexe com o meu sistema, que se encontra quebrado a cada memória dos acontecimentos recentes e sei, sei que a luta ainda agora começou.

Drug {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora