O Professor

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"Filha, hoje vem cá um amigo nosso jantar!" – anunciou a minha mãe. Achei estranho tendo em conta que ela nunca traz ninguém a casa e acho estranho já ter feito amigos.

Tentei, mas sem qualquer efeito, usar no jantar a roupa que usei na escola, infelizmente, tive que vestir um vestido que a minha avó me ofereceu no Natal passado. O vestido é deveras horrível.

Fiz a salada, pus a mesa, arranjei a gravata do meu pai e quando finalmente me sentei no sofá a campainha tocou. Ouvi vozinhas no meu ouvido a rir – era o Connor – e levantei-me para ir abrir a maldita porta. A pessoa que estava do outro lado da porta era a última pessoa que imaginei ver agora.

"Sr. O'Neil?! Que faz aqui?"

"Isso pergunto eu! Eu vim cá jantar." – o Sr. O'Neil é o "amigo" da minha mãe. Desta é que eu não estava à espera.

"Desculpe, entre. Eu não sabia que era o professor o convidado."

Deixei o meu professor de biologia passar e, quando entrei na sala, ele estava a conversar animadamente com o meu pai. Pelo que percebi são velhos amigos.

Durante o jantar, alguns livros foram derrubados porque a minha querida amiga Kelly queria pregar uma partida. A minha mãe quase ia tendo um enfarte a meio do jantar. Tive que mentir e dizer que tinha sido eu a fazer aqui com um truque que vi num vídeo.

Sabe-se lá porquê, depois do susto a minha mãe sentiu necessidade de contar a sua e a minha história de vida. Quando chegou à parte do acidente forcei uma tosse.

"Está tudo bem?" – perguntou o Sr. O'Neil, que vim a descobrir que se chama Patrick.

"Tudo ótimo. Só acho que temos que mudar de tema!" – abri muito os olhos para ver se os meus pais entendiam. Mensagem enviada com sucesso!

"Então Bella, fala-me um pouco sobre ti!"

"Já sabe o meu nome, acho que já chega!" – fui um pouco ríspida.

"Bella, não sejas insolente!" – avisou o meu pai.

Sorri cinicamente e continuei a comer aquela mistela esquisita que a minha progenitora decidiu preparar.

"Já vi que hoje não estás para conversas!" – constatou o homem.

"Pois, realmente não estou. Vou para o meu quarto, tenho mais que fazer do que fingir que a minha família é feliz e perfeita."

Tenho a ligeira impressão que fui demasiado dramática. Sentei-me na cama e coloquei os fones nos ouvidos e a música no máximo. Depois de uns breves segundos, a porta branca da divisão onde eu me encontrava foi aberta revelando a figura alta, esguia e atraente do homem que me ensina biologia.

"Já não se bate à porta?" – não sei porquê mas hoje estou com mau humor. Retirei um dos fones de maneira a ouvir a desculpa que o Sr. O'Neil tinha para o facto de ter aberto a porta sem a minha devida autorização.

"Bati, mas tu não me ouviste e eu decidi entrar." – desculpou-se sorrindo com um jeito desajeitado. – "Que reação foi aquela? Os teus pais ficaram desapontados."

"Bom para eles. Eu só não gosto que exponham a nossa vida e eles fizeram-no!" – respondi com indiferença na voz.

"Eles não fizeram por mal. O que é que aconteceu? Sabes que podes falar comigo!" – que simpático! Falei mal e mesmo assim ele está a ser amável comigo.

"Não leve a mal Sr. O'Neil..."

"Patrick, fora das aulas podes chamar-me Patrick." – interrompeu-me.

"Ok Patrick... não me leves a mal, mas eu não gosto de falar sobre isso."

"Quando estiveres disposta a falar sabes onde me encontrares." – ele deu-me um sorriso querido e saiu do meu quarto.

Nunca ninguém tinha falado comigo assim, nem mesmo os psicólogos. Talvez ele me possa ajudar no que eu quero saber. Eu vou descobrir quem estava na frente daquele maldito carro.

Levantei-me da cama e fui buscar o meu portátil. Pesquisei no Google por «desastre em Dublin 2011» e apareceram vários vídeos que passaram nos telejornais, mas o que me interessou foi uma notícia escrita por um jornal online rasca.

«No passado sábado um acidente de viação causou 4 mortos, 1 desaparecimento e um ferido ligeiro; 1 das vítimas mortais tinha 22 anos e os restantes ocupantes do carro tinham apenas 13 anos.

O que se sabe até agora é que alguém se colocou à frente ao carro fazendo com que este se despistasse. A sobrevivente recusa-se a falar sobre o sucedido.

Os pais das vítimas exigem que seja feita justiça, porém a única "pista" que se conhece é a possibilidade de o causador do desastre viver em Londres.

Se alguém vir um rapaz que dá pelo nome de Theo Clarke (o rapaz que está presente na foto à esquerda) é favor de ligar para o seguinte número 351 888 654.»

Londres?! O "assassino" é londrino? Talvez eu esteja no sítio certo! Peguei no meu telemóvel e procurei o contacto da polícia de Dublin.

"Polícia de Churchtown, em que podemos ser-lhe úteis?" – perguntou uma voz minha conhecida.

"Melissa, é a Bella! Queria pedir-te um favor!"

"Nós arquivamos o caso Bella, já não há nada que possas fazer!" – avisou de forma meiga.

"Eu só preciso que me digas por que é que deduziram que a pessoa que se pôs à frente do carro é de Londres?"

"Um momento." – pediu suspirando.

Depois de uma espera de quase 10 minutos, é um homem que toma a posse do telefone da esquadra:

"Infelizmente, não podemos fornecer essa informação a não ser que seja um familiar das vítimas." – informou o homem.

"A Melissa não lhe disse? Eu sou uma das vítimas."

"Peço imensa desculpa, deduzo que seja a menina Marin. A dedução foi feita com base no pedaço de papel que dizia «Big Ben 10 de maio». Ficou esclarecida?"

"Sim, será que podia mandar-me um scanner do bilhete por e-mail?" – pedi gentilmente. Os polícias de Churchtown não são conhecidos por ceder a pedidos facilmente.

"Lamento, mas isso não será possível."

"Por favor, é mesmo importante para mim." – forcei um choro para comover o homenzinho.

"Como se chama mesmo?" – isto pode ser bom sinal.

"Bella Marin."

"Dentro de momentos receberá um e-mail com o bilhete. Só lhe peço uma coisa: não comente com ninguém o que se passou hoje."

"O seu segredo está a salvo comigo. Muito obrigada!" – desliguei a chamada e fui ver o meu e-mail.

Isto vai ser-me tão útil!

Ghosts of the PastOnde histórias criam vida. Descubra agora