Depoimento 49

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Anne
Desperto com Robert, me trazendo café na cama. Eu me sento, sorrio e falo:
- É pra mim?
Aponto para á bandeja.
Ele meio sem jeito, diz:
- É sim. Já separei seus remédios pra você tomar também.
Pego à bandeja e falo:
- Muito obrigada Robert, de verdade. Eu nem sei expressar o quão grata sou á você. Principalmente porque sei que você não têm nenhuma obrigação comigo.
- Imagina Anne. Eu faço tudo isso de coração sério. Não espero nada em troca.
Tomo um pouco do suco e falo:
- Eu sei, mesmo assim sou muito grata.
Eu começo à tomar meu café, enquanto ele me observava, sentado. Eu sentia que ele queria me dizer algo, mas parece que não tinha coragem. Então falo:
- Robert, você quer me dizer algo?
Ele pensativo, diz:
- Bem..
- Pode dizer. Seja o que for eu aguento.
- Depois de tomar seu café. Você vai precisar se arrumar.
- Pra ir aonde?
- A delegacia. O delegado quer seu depoimento hoje mesmo.
Me dá até um embrulho no estômago nessa hora.
- Tudo bem. Eu vou me arrumar. Você pode levar à bandeja lá pra baixo?
Ele pega á bandeja e diz:
- Posso, mas você não vai nem terminar de comer?
Me levanto e falo:
- Não, perdi a fome. Mas obrigada pelo café.
- De nada. Eu vou descer pra você se arrumar.
- Ok.
Vou para o closet, pego uma roupa qualquer e vou para o banheiro. Ligo o chuveiro e deixo á agua cair. Eu não conseguia esquecer aquele dia, parece que eu o revivo á cada momento. Quando ás pessoas me perguntam, vêm cada segundo na minha mente e como se eu estivesse vivendo de novo. Me lembro de cada chute, de cada soco, de cada xingamento... Eu não queria dar o depoimento agora, não porque eu não quero ver o sujeito preso porquê isso é o que mais quero. Mas sei que para dar meu depoimento vou precisar lembrar de cada detalhe, de tudo que eu sofri naquele beco escuro e eu não me sinto preparada pra isso. Eu tenho medo de nunca conseguir esquecer o que aconteceu, de não conseguir mais sair sozinha...
Termino de me arrumar. Me olho no espelho, respiro fundo e falo:
- Você consegue Anne.
Desço e vejo Robert sentado na sala. Ele estava mexendo no celular, assim que percebe minha presença, para e diz:
- Podemos ir?
- Sim. Vamos acabar com isso de uma vez por todas.
Ele se levanta e vamos para o carro. No caminho ele percebeu, o quanto eu estava nervosa e começou a falar sobre outras coisas pra distrair:
- Você acredita que o Hércules, chorou todas essas noites que ficamos fora.
O Robert também ficou fora porque ele dormiu no hospital todos os dias que eu estive lá. Ele só ia pra casa pra tomar banho e trocar de roupa. Ás vezes pra buscar alguma coisa pra mim também, somente para essas coisas. Como eu disse ele realmente esteve do meu lado todo esse período.
- Tadinho! Eu ainda nem o vi. Quem cuidou dele esses dias? Minha prima?
- Não, sua prima está na casa do seus pais. Eu conversei com a sua mãe e ela foi pra lá. Principalmente porque ela não tinha o que fazer na nossa casa sozinha. Como sua mãe estava sempre no hospital com você, sua avó acabava ficando sozinha. Isso foi o melhor para todos.
Essa informação me trouxe um certo alívio. Quando Robert ia pra casa, eu ficava com uma pulga atrás da orelha pensando que ele estava lá sozinho com a minha prima. Mas ainda bem que foi.
- É, esse foi o melhor.
- Pois é.
Chegamos na delegacia. Minhas mãos suavam de tanto nervosismo, misturado com medo. Robert estaciona o carro e desce. Mas eu fico ali dentro, estática. Ele abre à minha porta, estende á mão e diz:
- Você só precisa contar tudo o que lembrar. Não precisa ficar com medo. Eles vão achar e prender á pessoa que fez isso com você.
Seguro sua mão e desço do carro. Entramos de mãos dadas. Robert fala com algumas pessoas e diz:
- Já estão te esperando.
Respiro fundo e falo:
- Tá.
Um policial nos leva até a sala e antes de entrar. Robert vira meu rosto pra ele e diz:
- Ei, você consegue. Você é forte. É apenas um depoimento.
- Você está certo.
Ele me dá um beijo na testa e eu entro. Me sento e começo á relatar sobre absolutamente tudo que me lembrei. Eu não vi o rosto dele, então tinha poucos detalhes sobre o sujeito. Mas a voz, eu conseguiria reconhecer em qualquer lugar. Principalmente á risada, pois enquanto ele me espancava, ele ria e muito. Termino o depoimento e vou ao encontro do Robert. Eu o abraço e falo:
- Vamos embora daqui agora, por favor.
- Claro.
Ele segura em minha cintura e saímos de lá juntos. Chegamos em casa e eu fui para os fundos pra ver o Hércules. Estava brincando com ele perto da piscina. Quando do nada me dá uma tontura e eu acabo caindo na piscina. Eu perco os sentidos logo depois de cair.
Abro os olhos e estou no colo do Robert. Toda molhada, enrolada em uma toalha. Ele me leva para o quarto, e me coloca na cama. Robert parecia desesperado e eu falo:
- Calma, eu estou bem.
Ele estava todo molhado também porque eu estava em seu colo. Ele vai para o closet e volta com algumas roupas na mão.
- Você bateu a cabeça? O que aconteceu? Você precisa se secar agora mesmo. Você pode ficar doente.
- Eu só caí na piscina. Não foi nada demais.
Pego ás roupas da sua mão e falo:
- Vou tomar um banho.
- Deixa á porta aberta e não demora muito.
- Tá bom Robert.
Tomo um banho rápido e me troco. Eu realmente não entendi aquela tontura repentina. Eu devo ter me estressado demais hoje ou devo ter não me alimentado direito. Depois de sair do banheiro. Robert todo nervoso, diz:
- Vamos agora mesmo para o médico.
- Não, eu estou bem. Minha pressão deve ter caído ou sei lá. Eu estou bem.
- Para de ser teimosa Anne. Nós precisamos saber o que foi aquilo.
- Eu já sei.
Ele bufa frustado e eu me sento.
- Se foi sua pressão. Eu vou agora mesmo prepara alguma coisa pra você comer e você vai comer absolutamente tudo.
- Mas os empregados já foram embora.
- Eu vou preparar sozinho, não tem problema.
- Tá bom então.
Ele deixa á porta do quarto aberta e diz:
- Qualquer coisa, pode me gritar.
- Está bem Robert.
Me deito um pouco pra tentar me recompor. Espero um pouco, até que Robert volta com uma bandeja. Ele coloca ela em cima de mim. Olho e vejo que era uma sopa. A coisa que eu menos gosto no mundo.
Ele sentado ao meu lado, esperando eu começar á comer. Eu olho feio para o prato e falo:
- Eu não sou fresca pra comer, mas à coisa que eu menos gosto é isso.
Aponto para á sopa.
- Mas você vai tomar porque precisa.
- Não Robert. Eu mesma desço e faço outra coisa pra comer.
- Nem pensar senhorita. Você vai comer essa sopa. Além do mais não é todo dia que você tem Robert Castro, cozinhando pra você.
Acho graça da cara de convencido que ele falava da própria comida. Ele pega à colher, enche de sopa, esfria e leva para perto da minha boca.
- Abre à boquinha.
Solto uma gargalhada, pois não acreditava no que ele estava fazendo.
- Robert, creio que isso não é necessário. Você está me tratando feito criança.
Ele diz firme:
- Porque você está agindo como uma. Agora aprende á boca.
O olho com um olha tipo " Isso é sério?", ele concorda á cabeça e eu abro á boca. Até que á sopa estava boa. Depois de engolir á primeira colherada, tomo á colher da mão dele e falo:
- Agora eu posso terminar de tomar sozinha. Muito obrigada.
Ele com um cara de satisfeito, concorda e fica me observando tomar á bendita da sopa.

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