Explicações

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Ouçam: Here Without You — 3 Doors Down.
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– Pode começar a me contar o que aconteceu para que Lauren saísse daquele jeito daqui de casa. — minha mãe pergunta com um olhar repleto de confusão e tristeza.

– Não estávamos bem. — respondo simplesmente e vejo-a bufar.

– Você acha que essa resposta vai me fazer desistir? Eu quero saber de tudo agora mesmo, Karla. O que deu em vocês para se separarem? Vocês se amam tanto. Ela saiu daqui transtornada! Deus queira que nada de ruim aconteça com a minha menina. — minha mãe finaliza em um tom preocupado e eu suspiro.

– Eu a amo. — respondo em um sussurro.

– Mas é claro que você a ama! Agora me conta o por que desta situação. — sinto meus olhos lacrimejarem e evito olhar para os olhos da minha mãe.

– Ela merece algo melhor do que ficar presa em um casamento com uma esposa paraplégica. — respondo no mesmo tom de antes e minha mãe se ajoelha na frente da cadeira de rodas para ficar da mesma altura que eu.

– Camila, a Lauren te ama. Você acha que ela se importaria em ficar ao seu lado mesmo nessa situação? Você acha que ela vai ficar melhor sem você? — ela pergunta e eu fungo baixinho, ainda sem olha-la.

– Eu seria um fardo na vida dela, mãe. Eu sei que Lauren me ama, mas eu não consigo, entende? Eu não consigo olhar para Lauren e vê-la como minha esposa, não mais. Eu a vejo como uma babá, como uma enfermeira, entende? É horrível acordar e ouvi-la perguntar se eu quero ir ao banho, se eu quero tomar banho, se eu quero ajuda para trocar de roupa. Isso é torturante! Eu sei que tenho chances de voltar a andar, mas não vai ser agora. Eu tenho que me dedicar muito na fisioterapia. Eu tenho que voltar a me dar valor para conseguir dar valor à ela. Eu a respondia tão mal, a tratava com tanta indiferença e isso me doía também, mas era a forma que eu achava mais coerente para mantê-la longe de mim nessas circunstâncias. Se doía nela, em mim doía três vezes mais. Se está doendo nela, em mim dói cinco vezes mais. Não é fácil abrir mão do que amamos. — eu respondo e agora não controlo mais as lágrimas, pois as mesmas caiam livremente pelo meu rosto, fazendo-me fungar diversas vezes entre uma frase e outra. Minha mãe me encarava com os olhos marejados e meu pai estava escorado na porta da cozinha observando tudo de longe.

– Está doendo tanto, mãe... tanto. — digo e bato as mãos em minhas coxas exasperada.

– Eu sei, filha. Eu sei que dói. Eu sei que você fez sua escolha pensando no melhor para Lauren, mas já pensou no lado dela? Se essa sua decisão foi o melhor para ela? Eu só a vi frágil dessa forma quando ela veio até a nós contar sobre o seu acidente. Ela estava acabada.

Chovia fortemente do lado de fora. Relâmpagos e os trovões se faziam audíveis. Meu coração batendo fortemente dentro do meu peito e uma sensação de angustia me dominava. Olho mais uma vez para a janela no mesmo instante em que mais um estrondo de raio se faz presente, suspiro pesadamente ao olhar para o relógio na parede ao lado da janela.

– O que está fazendo aí parada? — Alejandro me pergunta e eu estico minha mão em sua direção chamando-o. Alejandro se aproxima e me envolve em seus braços.

– Eu sinto como se uma parte de mim estivesse morrendo. — eu respondo atraindo o olhar do meu marido para o meu rosto.

– Como...? — ele pergunta confuso.

– Eu não sei. Eu só estou sentindo uma sensação ruim, sabe? Como se estivesse acontecido algo, não sei. Uma angustia... — eu respondo e suspiro audivelmente.

Wake up and LiveOnde histórias criam vida. Descubra agora