XIV - Perguntas - Silena

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Depois que passaram pelo portal, chegaram em uma praia deserta à beira de um floresta fechada e uma única casa pequena na ponta.

Canem gandong perq niander nan perq salandar bojerg. — Anunciou Tenebrisen o que Silena tinha quase certeza que significava "Eu permito essa guardiã e esse dragão passarem".

Ao ouvir a palavra dragão um arrepio percorreu sua espinha. E olhou para o ser ao seu lado tão animado e confuso para o que viria pela frente quanto ela.

Vamos? Falou ele em sua cabeça a encarando sem expressão.

E temos outra opção?

Seguiram o tio que já estava vários passos na frente deles. Pode não ser tão ruim quanto espera. Ele voltou a conversar.

Você realmente consegue saber tudo que eu penso? Ela perguntou intrigada.

Não, mas consigo sentir suas sensações... Não consegue sentir as minhas?

Silena parou e o encarou por alguns instantes. Você está com fome? Perguntou insegura.

Sim! Muita! Eles voltaram a andar. Estou quase comendo grama.

Os dois riram — ou o que a garota considerou que era um riso para o dragão — e pararam em frente a porta da pequena casa esperando o homem ao lado reagir.

— Onde estamos? — Questionou ela. No entanto, sua resposta foi apenas o barulho das ondas quebrando. — Bom... De acordo com o aumento da temperatura... Creio que estejamos mais ao norte. Certo? — Ainda sem resposta. — E afinal, o que é esse lugar?

— Por favor. — Tenebrisen finalmente respondeu. — Sim, estamos no norte, mas pode parar de fazer perguntas sobre... Esse lugar?

Ela franziu o semblante enquanto concordava sem entender o motivo. Então, observou a construção em si: parecia ser apenas uma pequena casa, porém era feita de enormes pedras perfeitamente encaixadas que formavam as paredes deixando espaço para a porta e as janelas de madeira.

— Essas pedras são gigantescas! Como isso foi feito?! — Exclamou Silena. Contudo, o homem a encarou sem responder. — Certo, certo, sem perguntas sobre esse lugar... — Ela encarou o símbolo sobre a porta: um losango sobre uma lua crescente deitada. Não sabia o que aquilo significava tanto quanto não sabia de nada. — Quando vamos voltar? — As palavras saíram mais rápido do que era capaz de se segurar.

O tio novamente a encarou sem respostas e ela apenas suspirou.

— Escute, eu realmente preciso dormir, me desculpe. Vamos começar seu treinamento amanhã, certo?

Silena concordou com a cabeça. Os três ainda ficaram um tempo parados do lado de fora antes que a porta fosse aberta mostrando um ambiente com um único grande cômodo. Uma das paredes era coberta por uma estante de livros e a frente desta, duas poltronas repousavam cheias de pó. Do outro lado, havia um pequeno forno ao lado de armários que formavam uma curta bancada. A partir da metade da construção, uma plataforma elevada formava um segundo piso onde deduziu que ficavam as camas.

Subiram as escadas no fundo e confirmou sua suposição. Havia duas camas, na maior, Tenebrisen deitou e dormiu instantaneamente, já na menor, Silena se sentou soltando o peso do corpo.

O dragão se aproximou e se sentou ao seu lado. A garota sempre soube que era uma guardiã e o tio afirmava que por causa da cor do ovo, era muito provável que seu domínio era a cura... O que ela nunca teve certeza do que significava. No entanto, enquanto olhava para aquele ser na sua frente, toda aquela história parecia se encaixar e ser completamente aceitável.

Qual seu nome? Perguntou mentalmente ainda em dúvida sobre como aquilo funcionava.

Não tenho um nome... O que acha de cura em Abanhen?

Me parece bom. Falou sorrindo. Borotraz certo?

Ele soltou um barulho, que interpretou como um ronronar, e se aproximou permitindo que a garota pudesse acariciar sua cabeça. Tentara evitar que aquele momento chegasse desde que entendera que significaria se separar de sua casa. Porém, vendo a pequena e fofa criatura a sua frente, seria mesmo aquilo tudo tão ruim assim?

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