— Você precisa parar. — A voz de Semepolhian deixava claro que estava prestes a perder a calma. — Daqui a pouco, você vai nos expor.
— Então agora você se preocupa com exposição? — O tom carregado de ironia de Anima piorava ainda mais a tensão. — Deveria ter pensado nisso antes de começar a mandar pessoas que não tinham nada a ver com o assunto para cidades cheias de nakoushiniders sanguinários!
— Sim, nós erramos! — Interviu Emmethorion. — Porque como você sugeriu, não deveríamos sair matando pessoas.
— Se eu soubesse quão ruim e poderosos eles eram, não iria sugerir isso!
— Vocês mesmos foram atacados na floresta antes de se juntarem. — Apontou a imimoya.
— Eu sei! — A voz da garota perdeu força por um segundo. — É só que... Eu... Eles...
— Anima, — tentou a da água — nós entendemos que está sendo difícil... Mas você precisa parar de ir procurá-lo.
— Ele é como um irmão para mim! — Disparou a recente guardiã do fogo. — Você não entende isso?!
A única resposta de Semepolhian foi engolir em seco e olhar com um semblante abatido para o lado. Estavam no salão inferior buscando por privacidade, contudo, com as vozes altas e os ecos provocados pelo espaço amplo, Hiems duvidava que a escolha havia sido efetiva. Na verdade, não tinha certeza do porquê de ele estar ali, já que estavam basicamente repreendendo Anima por procurar pelo irmão enquanto a garota rebatia todas as acusações sem negar nada.
O guardião do gelo nunca tinha se aproximado tanto, muito menos em tão pouco tempo, de alguém como o tinha feito com Sirius. Por seus companheiros terem nascido tão no mesmo momento, passavam a maior parte do tempo juntos fazendo os afazeres da fortaleza ou aprendendo novas magias... E agora...
Hiems sentira com pesar o ocorrido. Ainda mais por ter partido sem esperar os outros três dragões, mesmo que essa fosse a ordem dos outros. E então, depois do que acontecera, tinha se dedicado à busca junto com Anima.
Talvez fosse por isso que estava ali e parte da repreensão fosse também para ele. Porém, a culpa que sentia no peito parecia ser mais forte do que as represálias. Não conseguia parar de pensar que se tivesse ficado com os outros poderia ter sido diferente... Como? Não sabia, mas o pensamento não saía de sua mente.
Contudo, o fluxo de consciência na cabeça de Hiems e a discussão no centro do salão foram interrompidos pela batida da porta grande da entrada na parede. Por ela passou um Sküeval, representante dos nimases, correndo.
— Egüeses chegaram. — Anunciou antes de se aproximar o suficiente para conversar em volume típico. — Janthi, o mago dos ventos que estava lá como representante da fortaleza, os trouxe. — Gritou.
— Mas... — Começou Semepolhian. — Isso é muito arriscado...
— Estão atacando eles. — Finalizou Sküeval. — Os encontraram. Estão em Retinempur.
O clima da sala ficou ainda mais tenso, no entanto, essa tensão era acompanhada de um silêncio que conseguia ser mais cortante que as falas afiadas de antes. Demorou muito para que todos no ambiente entendessem o que aquilo significava e mais ainda para Semepolhian declarar:
— Precisamos ir ao auxílio deles.
Os quatro guardiões e o nimás rumaram para o pátio superior onde se localizava a maior parte dos membros da fortaleza. Demoraria alguns minutos para subir toda a escadaria, mas ao invés disso foram levados por um tronco projetado por Emmethorion que, assim que os deixou no chão gramado, desapareceu desde a base.
No local, algumas pessoas socorriam tanto o mago dos ventos, que Hiems não conhecia, quanto outros dois egüeses gravemente feridos. Assim que chegaram na área comum, todos os rostos se voltaram para Semepolhian e Emmethorion que representavam a figura de liderança da fortaleza.
— Todos vocês já sabem o que aconteceu. — Afirmou a imimoya. — Assim como todos sabem o que fazer nesse tipo de situação. Nós treinamos bastante e vamos conseguir. — Por mais que não parecesse que ela acreditasse nisso, tinha que fazer com que os outros o fizessem. — Aqueles que não quiserem ir, por favor, não atrapalhem.
Em seguida, a guardiã das águas partiu de encontro aos recém chegados para saber melhor o que acontecera. Enquanto isso, a maior parte das pessoas começaram a andar apressadamente de um lado para o outro pegando armas, vestindo armaduras, ou apenas tentando sair do meio do caminho. Hiems não tinha total certeza do que fazer, afinal, só havia participado da simulação de saída da fortaleza duas vezes, no qual fora encarregado de auxiliar Págon a pegar o maior número de pessoas que conseguisse no momento, porém, apenas na segunda ocasião o dragão conseguia carregar alguém e era apenas Hiems. Da última vez que ele tivera que levar outros consigo...
No entanto, para o guardião do gelo, não ir ajudar os egüeses cujo lar estava sendo destruído não era uma opção. Além de ser necessário para levar pelo menos mais uma pessoa para o resgate, não conseguia pensar que, se a situação fosse ao contrário, agradeceria imensamente que os outros povos viessem auxiliá-los.
No entanto, para dificultar ainda mais a situação do companheiro, ele e Hiems haviam acabado de chegar de uma busca, o que significava que Págon já estava cansado para voar sozinho, tendo que levar peso extra, então...
Não acredito nisso. Afirmou o dragão em sua mente.
Eu também não, não acredito que conseguiram encontrar os egüeses...
Sim, ainda mais agora que eu acabei de me deitar.
Hiems riu com ar de repreensão pela brincadeira muito fora do contexto em que passavam.
Apesar de tudo, o guardião do gelo havia descoberto durante esses três meses que o maior empecilho para que dragões jovens voassem acompanhados, era sua instabilidade durante o voo e o tamanho de suas costas, a qual não comportava tantas pessoas. Ainda assim, o fato de serem realmente uma carga a mais para o companheiro continuava não ajudando.
Não demorou tanto e a maior parte dos moradores da fortaleza haviam se dividido para poderem ir juntos, ou com dragões ou com outros que conseguissem os transportar por magia. Sendo assim, quase todos estavam enfileirados, principalmente para evitar tumulto nos ambientes.
Dessa forma, cerca de dez pessoas checavam se todos estavam suficientemente armados e se precisavam de mais alguma coisa. Enquanto isso, de um em um, os quatro dragões pousavam no pátio superior para pegar o máximo de pessoas prontas que conseguissem carregar. Enquanto Ignisian, a lendária dragão de fogo, levava consigo Anima e mais dez magos desajeitados em suas costas, Hiems se apertava com outros três em cima de Págon, no qual o peso incomodava mais uma vez.
Deixaram o chão e em sequência os limites de proteção da fortaleza com uma tensão generalizada. Hiems não saberia para qual direção deveria seguir se fosse sozinho, afinal, por mais que convivesse com os representantes tanto dos egüeses quanto dos nimases, nunca lhe contaram onde ficava seus esconderijos. Porém, não foi difícil seguir os outros dragões voando até acima das nuvens e seguindo para o norte.
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Os Guardiões
FantasyE se de repente as histórias que sempre te contaram deixassem de ser apenas histórias? E se sua vida mudasse completamente de um dia para o outro? O que você faria? Anima e Sirius foram criados por um homem misterioso desde crianças. Porém, depois q...