XXXVII - O Espírito - Sirius

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— Temos que fazer! — Declarou Skinhago assumindo um tom certeiro e muito apressado. — Agora!

— Fazer o quê? — Apesar de ter estado prestes a executar um plano para deixar aquele lugar, Sirius se preocupava com o velho que os resgatara e cuidara deles, afinal... Ele os resgatara e cuidara deles...

— Eu não sou só o último espírito da floresta, eu carrego O Espírito da Floresta. — Explicou o imimoya começando a ficar sem ar apontando para o braço de madeira.

— E o que isso significa?

— Significa que eu dei meu braço para abrigar a vida da floresta e que foi por isso que continuei vivo enquanto todos os outros se foram. — Sem tom de brincadeiras e sem esconder nada.

— E o que temos que fazer?! — Seria por isso que estavam ali desde o princípio?

— Ele está aqui... — Skinhago pegou na mão do guardião deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. — O fogo... Não vamos aguentar...

— E o que temos que fazer? — Perguntou uma segunda vez, porém já não tão desesperado e sim entendendo o que estava prestes a acontecer.

— Não queria pedir isso...

Sirius percebeu que parte da razão das lágrimas era porque não conseguia pedir aquilo para o garoto. Talvez pelo que assumir tal responsabilidade significava (sabia que imimoyas eram a forma física de elementos da natureza e, portanto, cada um encarnava parte do Grande Espírito daquela expressão natural, então se só restava ele...), talvez pela teoria que Sirius estava prestes a expor para Silena... De qualquer forma, o guardião da floresta perguntou com tom de afirmação:

— Você quer que eu receba o Espírito?

Skinhago balançou a cabeça positivamente de modo quase imperceptível. Em silêncio, usou o braço de carne e osso para retirar o colar que trazia em seu pescoço e de maneira firme e honrosa perguntou:

— Sirius Aquilae... Você aceita ser o Guardião da Vida da Floresta de Vingüeval e se incumbe de trazer ela de volta quando for a hora certa?

— Sim. — Respondeu mesmo sem ter certeza do significado de todas aquelas palavras.

— Me desculpe... — A voz triste do velho foi a última coisa que o garoto ouviu antes de tocar no colar e perder a consciência.

***

Quando abriu os olhos, estava em um círculo de grama rodeado por árvores. Sentia o colar que acabara de receber de Skinhago em seu pescoço e uma sensação estranha vindo de sua perna direita. Se sentou para mirar o membro machucado e não encontrou nada além do final de sua coxa. Confuso, levantou o rosto para olhar ao redor. À sua frente, um ser antropomorfo e completamente verde pairava a alguns centímetros do chão estático. Assim que percebeu que Sirius havia notado sua presença, ele se aproximou e lhe estendeu a mão. Com um pouco mais de esforço do que o habitual, o guardião se levantou, ficando frente a frente com o Espírito.

— Obrigado. — A voz grave dentro de sua cabeça não era como a de Balírion, a qual sentia realmente ouvir em sua mente, se aproximava mais de apenas uma sensação de seu próprio interior.

O colar que carregava brilhou gradativamente e, de repente, o ser mágico começou a ser sugado por ele até desaparecer completamente.

***

Sirius recuperou a consciência em sensação de alarde. Skinhago estava deitado fraco no chão da varanda e sem um de seus braços, cercado pelos dois dragões apoiados na amurada. Ao seu lado, Silena fazia alguma magia que produzia um brilho roxo sobre o imimoya.

— Pare minha filha... — Pediu Skinhago. — Não vai conseguir parar isso...

— Não... — Soltou o guardião muito baixo, mas alto o suficiente para que os outros dois o ouvissem.

— Garoto... Pegue o vigésimo quinto livro da esquerda para direita da terceira prateleira de baixo para cima... Encontrarão respostas lá... Os dois... Fiquem juntos... Não podemos mais viver assim... Não podemos mais ficar separados... Confiem um no outro e estarão seguros...

— Não... — Foi a vez da garota tentar negar a realidade.

— Tragam o Espírito de volta... Nos tragam de volta... — Uma lágrima saiu de seu olho esquerdo. — Quando encontrarem meu filho... Digam que o amo... Digam... Digam que eu sinto muito...

Antes que pudessem lhe perguntar algo, o chão da varanda tremeu e tiveram que correr para não serem engolidos pela árvore que afundava no solo. Sem conseguir assistir a cena, virou o rosto se permitindo pensar em qualquer outra coisa. O primeiro sentimento que lhe veio foi uma nova sensação estranha vindo de sua perna direita.

Sirius se sentou no chão e com cuidado tirou a mesma bota de couro que usava há tantos anos. No entanto, não encontrou o mesmo por baixo da meia: no lugar da perna com joelho machucado, descobriu uma feita de madeira, quase igual ao galho de uma árvore, com cascas e tudo. Colocou o sapato de volta assustado, mas não surpreso.

A sua frente, a árvore havia acabado de entrar no chão e subia naquele momento um grande suporte de madeira. Os quatro se aproximaram encontrando deitado sobre o móvel um Skinhago que parecia estar no sono profundo que Sirius nunca presenciou.

Com uma centena de emoções passando pelo seu corpo e mente, o guardião só conseguiu fechar os olhos e deixar escorrer tímidas lágrimas pelo rosto sem ter certeza de seus significados.

Suas pálpebras ainda estavam cerradas quando sentiu a mão de Silena tocar levemente seu braço, chamando cuidadosamente sua atenção antes de dizer com a voz extremamente hesitante e assustada:

— O que está acontecendo?

Ao mesmo tempo, Balírion dizia em tom confuso: Eh... Sirius? O que é isso?

Quando abriu os olhos, não pôde acreditar no que via.

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