XLVI - O Retorno - Semepolhian

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— Não sei se lembram. — Disse Semepolhian sem jeito. — Emmethorion, Mizu, esse é meu irmão Kanshurdian. Kan... Emmethorion e Mizu.

— Como esquecer? — Respondeu o imimoya com calda, que sorriu e fez uma pequena rotação com a mão direita, movimentando a água em direção ao guardião e repetindo o movimento para o dragão. O cumprimento yamanzi. — Mesmo depois de tanto tempo, não é, maninha?

O coração da das águas apertou. Era o momento que tanto temera nas últimas cinco contagens. Desde a última vez que viera ali, evitou voltar. Primeiro, por saber que estava falhando na meta que prometera de criar um ambiente acolhedor para seres mágicos na fortaleza abandonada. Depois, quando as coisas começaram a dar certo, se sentia mal por ter ficado sem aparecer por tanto tempo. Mas agora estava ali.

— Todos vão ficar tão felizes... — Falou Kanshurdian já se afastando. — Nada, vamos... Ou não quer nem tentar chegar primeiro?

Semepolhian deu um sorriso de canto de boca. Perguntou rapidamente para Mizu se ele poderia levar Emmethorion e começou a nadar o mais rápido que podia, na frente do irmão. Não demorou e ele a ultrapassou com expressão de deboche no rosto. Sentia ter dez contagens novamente, nadando extremamente rápido pelos domínios yamanzi, tentando chegar antes dos irmãos. Porém, já não era a mesma situação, afinal Kanshurdian podia ter cauda, mas não era um guardião das águas.

Ela tirou os braços apontados para frente e os juntou ao corpo, fez um impulso com as mãos, o que não significava nenhum movimento específico, mas foi suficiente para movimentar uma grande quantidade de água que a empurrou para frente, ultrapassando em alguns centímetros Kanshurdian pouco antes de passarem por cima do muro, a antiga linha de chegada de suas competições.

Semepolhian nunca entendeu a razão daquela espécie de muralha cercando a cidade, já que não faria a menor diferença em uma invasão. Porém, os reinos dos imimoyas yamanzi sempre foram pacíficos. Apesar de estar admirada com o cargo alto de protetor de Kanshurdian e saber que esse sempre fora o sonho do irmão, não conseguia deixar de imaginar que a maior parte do trabalho dele era pedir que monstros marinhos tomassem cuidado com a cidade e dessem a volta de preferência.

Se aproximaram mais da concentração de construções. A cidade era toda composta por longos prédios feitos de pedras e corais, o que fazia com que de longe parecessem grandes algas aglomeradas de várias cores. As habitações com certeza se destacavam da população, composta de seres de tons de azuis que dificilmente seriam vistos na água caso não se contrastassem com as construções. Ao centro, podendo ser visto de qualquer lugar da cidade, se encontrava um grande castelo composto de vários prédios iguais ao do resto da cidade, porém maiores e bem concentrados.

Semepolhian e Kanshurdian estavam quase dentro da cidade quando Mizu, que viera mais devagar para não perder ou machucar o guardião, e Emmethorion se juntaram a eles, chamando atenção de diversos imimoyas que começaram a se aglomerar ao redor deles. A guardiã das águas estava começando a ficar com medo dos olhares dos yamanzi quando, do meio da multidão, sua mãe abriu caminho confusa.

Imediatamente, a Rainha de Panthalassa se aproximou para lhe dar um abraço apertado, rodeando sua cabeça com seus braços finos e fazendo com que sentisse suas lágrimas saírem pouco antes de se misturarem ao resto do mar. Ao se afastarem, Semepolhian encarou a outra mulher que lhe olhava com um pequeno sorriso e uma leve expressão de choro nos olhos, mas que deixava claro que não devia se aproximar.

Ao seu lado, a rainha Pelenesmia gritou levantando uma de suas mãos:

— MINHA FILHA VOLTOU!!!

As pessoas gritaram e aplaudiram em resposta, ainda que a guardiã percebesse que não entendiam completamente o que estava acontecendo.

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